Quando nas mais recentes eleições legislativas os portugueses deram a maioria absoluta ao Partido Socialista, estavam a colocar as suas esperanças em António Costa. Os eleitores queriam acreditar que, livre das amarras de uma geringonça contranatura, o líder socialista conseguiria formar um Governo capaz de enfrentar a situação que se adivinhava difícil face aos preocupantes desenvolvimentos da conjuntura internacional.

Porém, não foi preciso esperar muito para os portugueses começarem a ficar inquietos. Bastou perceberem que a escolha dos membros do Governo obedecia, por inteiro, à lei de ferro – ou de bronze – de Robert Michels. De facto, na formação do Governo, António Costa privilegiou o critério da confiança pessoal e da lealdade partidária em detrimento da competência. Um regalo para o aparelho partidário. Uma ameaça para a esperança e para os bolsos dos portugueses.

Não admirou, por isso, que casos e casinhos fossem surgindo a um ritmo tão apressado como a meteórica passagem de alguns governantes pelo Palácio do Poder. Assim, ainda a análise de um caso não estava esgotada e já outro chegava ao domínio público. O preço que a desgovernação socialista se foi vendo obrigada a pagar face a uma comunicação social disposta a cumprir o seu papel de recolher provas para se informar e, posteriormente, informar. Um escrutínio cada vez mais preparado para lidar com as cortinas de fumo destinadas a camuflar e a afastar a atenção do cerne dos problemas.

Nessa extensa lista de casos a TAP merece um lugar de destaque. Um processo antigo porque a promessa costista de reverter a privatização da companhia foi uma das moedas de troca para viabilizar a extinta geringonça. Uma decisão que os bolsos dos contribuintes, ao contrário do PCP e do Bloco de Esquerda, continuam a não agradecer. Provavelmente porque o português comum já se apercebeu da gritante diferença entre uma companhia de bandeira e uma bandalheira de companhia.

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Por falar em bandalheira, os dados que, desde há várias semanas, continuam a vir a público encarregam-se de ir destapando a forma negligente – chamemos-lhe assim – como a companhia tem vindo a operar. Uma desgovernação a raiar o inconcebível, como provam, entre outros, a questão do «despedimento» e da indemnização de Alexandra Reis, as críticas da – e à – CEO Christine Ourmières-Widener e, acima de tudo, a fazer fé nas declarações de Manuel Beja, o presidente não executivo, o excesso de controlo por parte do executivo, misturado com um elevado grau de inação.

Um depoimento que não permite dúvidas sobre a desgovernação política da TAP. Uma prova provada de que, ao contrário dos sistemas de controlo dos aeroportos, a tutela governamental não sabe usar a bússola e, como tal, perdeu o Norte.

Na Coreia do Sul, onde se encontra em visita oficial, António Costa quebrou a regra de não falar no estrangeiro de assuntos da vida interna e afirmou que, na sequência das conclusões da comissão de inquérito que está a decorrer a nível parlamentar, o Governo irá agir em conformidade. Uma declaração politicamente correta, mas que está longe de tranquilizar os portugueses.

Na verdade, os portugueses sabem bem que o político em que colocaram as suas esperanças lhes frustrou as expectativas. Por isso, já estão à espera que o essencial da culpa venha a recair apenas sobre os elos mais fracos e sobre quem já se demitiu.

Face ao exposto, talvez seja tempo de Luís Montenegro se preparar para encurtar a prevista travessia do deserto. A regra da vida habitual quando o PS entra em desgovernação.