A ideia de podermos ter um tumor cerebral é assustadora. Certamente ajudará sabermos que cerca de dois terços destes tumores são benignos ou com um comportamento biológico pouco agressivo. No caso dos tumores malignos, há tratamentos que aumentam o tempo de sobrevivência e muitos estudos em curso de novas opções terapêuticas.

Os tumores cerebrais são uma doença rara, correspondem apenas a 2% dos tumores do corpo. O seu comportamento biológico varia desde lesões benignas, de crescimento muito lento, a lesões com taxas de crescimento e de recorrência muito elevadas. Podem nascer das estruturas do cérebro, das membranas envolventes, as meninges, ou terem origem primária noutra parte do corpo, metastizando depois para o cérebro. Os malignos podem desenvolver-se pela ativação de células que se localizam em zonas mais profundas do cérebro ou por alterações que surgem no seu DNA.

Existem muito poucos fatores de risco conhecidos para o aparecimento de tumores cerebrais. A radiação ionizante é o mais conhecido e o risco aumenta com a idade. Não se conhecendo fatores de risco conhecidos, também não há forma de prevenir o aparecimento dos tumores cerebrais.  Contudo, todos os fatores que são conhecidos como podendo provocar cancro devem ser evitados, como é o caso do consumo de tabaco e da exposição solar intensa.

Os sintomas podem resultar da invasão ou destruição do tecido cerebral, da pressão no tecido adjacente, por aumento da pressão dentro do crânio ou por outras causas. Podem surgir dores de cabeça, cansaço, visão enevoada, vómitos, convulsões, alterações da sensibilidade ou motoras, do equilíbrio, da linguagem e do comportamento ou da consciência.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Estas manifestações dependem da localização e do volume do tumor. O aparecimento destes sintomas deve levar o doente ao médico.  O diagnóstico é feito após o aparecimento dos sintomas através de uma história clínica detalhada, de um exame neurológico rigoroso e com o auxílio de exames complementares de diagnóstico.

A ressonância magnética é o exame de eleição tanto para o diagnóstico como para o seguimento dos doentes. Não só dá uma excelente informação anatómica como tem sequências que dão informação metabólica, relacionada com o comportamento biológico do tumor, e informação funcional, relacionada com o atingimento de áreas do cérebro como os da linguagem ou motora.

Os avanços tecnológicos das últimas décadas permitem a realização de uma cirurgia mais segura e, com o aumento da segurança, tornou-se também mais radical, permitindo a remoção de lesões em áreas funcionalmente ativas. Falamos de cirurgia com monitorização neurofisiológica, com o doente acordado, com fluorescência – e da utilização da ecografia intra-operatória, dos sistemas de neuronavegação e, nalguns centros, da ressonância magnética intra-operatória.

A introdução em 2005 do tratamento de radioterapia conjuntamente com a quimioterapia fez aumentar o período de sobrevivência médio aos tumores mais agressivos. Podemos dizer que este foi o primeiro grande avanço da era mais moderna. Mais recentemente, a introdução de alguns tratamentos dirigidos a mutações genéticas específicas e a imunoterapia nas metástases do melanoma, trouxeram novas esperanças de tratamento. Os campos elétricos alternados também fizeram aumentar a sobrevivência global nos doentes com glioblastoma, o tipo mais comum de tumor cerebral maligno. O LASER Interstitial Thermal Therapy (LITT), com controlo por ressonância magnética, é uma técnica minimamente invasiva que tem conquistado o seu lugar.

Nem todos os tumores cerebrais têm mau prognóstico. Há lesões benignas que podem ser apenas vigiadas no seu crescimento, necessitando apenas de tratamento se isso acontecer, sendo que a sua remoção cirúrgica leva à cura.

Nunca perder a esperança, ter uma atitude positiva perante a doença e os tratamentos, mantendo um estilo de vida saudável, é fundamental para o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida, tão importante num doente com tumor cerebral.  As evoluções técnicas e tecnológicas permitem hoje que o prognóstico de muitos tumores cerebrais seja de facto muito melhor do que era há uma década.