A geração Millenial está a desafiar os fabricantes e as empresas a ser responsáveis, social e ambientalmente. Usar materiais amigos do ambiente nas embalagens já não é uma opção, é uma necessidade. Aquilo que há escassos anos era visto como um “nice to have”, é agora um “must have” em todos os produtos e em todas as empresas.

Desde os anos 50, a economia global produziu mais de 9200 mil toneladas de plástico, 91% desse plástico nunca foi reciclado. A embalagem continua a ser percebida como lixo, e é esse “lixo” que deve ser devidamente segregado e reciclado.

Cada vez mais, vemos surgir novos materiais baseados em papel, cana de açúcar, restos agriculturais, compostáveis domesticamente e dissolúveis em água, e é definitivamente esse o caminho a seguir. No entanto, sabemos que esse caminho tem um custo e logo à partida há três desafios que se colocam, nomeadamente: o custo alto dos materiais amigos do ambiente, a resistência do cliente em pagar mais por um produto ser feito ou embalado usando esses materiais e a falta de uma estrutura de reciclagem que permita a circularidade desta economia. Mesmo que usemos materiais mais amigos do ambiente, é fundamental ter onde os colocar depois de usar e com a garantia da sua recolha e recolocação na cadeia de valor.

Precisamos de embalagem feita a partir de materiais sustentáveis. Precisamos também de uma forma de identificar esses materiais e segregá-los corretamente, de modo a garantir a sustentabilidade de que tanto falamos e ouvimos falar. O que fazer com uma garrafa feita de cana-de-açúcar ou com um tabuleiro criado a partir de amido de milho? Colocamos no ecoponto do papel, no do plástico, enterramos no jardim?

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Uma das prioridades, a par da introdução dos materiais 100% amigos do ambiente, tem sido a redução dos chamados “plásticos de uso único”.  Este esforço faz todo o sentido e a título de exemplo podemos pensar na redução dos sacos que tipicamente encontramos na frutaria dos supermercados e que colocamos na reciclagem quando chegamos a casa.

A questão é que há vários tipos de plásticos e vários tipos de utilizações, logo, não se pode simplesmente banir os plásticos de uso único do mercado, até porque, e por muito contraditório que possa parecer, existem alguns destes plásticos que salvam vidas. Um exemplo disso são os milhões de seringas usadas diariamente nos hospitais e que provêm precisamente desses tipos de plástico. Portanto, deve ser analisado o tipo de embalagem de utilização única a banir e caminhar ainda mais para a utilização de materiais reutilizáveis de embalagem.

O uso de plásticos e seus derivados na embalagem não é errado, depende, isso sim, e muito, do produto e do fim que lhe damos. Não podemos simplesmente substituir todas as embalagens de plástico por cartão, usar cartão castanho porque parece mais amigo do ambiente que cartão branco, ainda que impresso com tintas de base aquosa. Uma embalagem de leite vai continuar a utilizar plástico na sua base, de forma a garantir o acondicionamento e proteção do produto. Existem, sim, aspetos que podem ser melhorados, como o uso de tampas com base de cana-de-açúcar, palhas de papel, camadas exteriores da embalagem em cartão, etc.

O grande desafio, a par do desenvolvimento de materiais, será criar uma iconografia universal, seja para diferenciar produtos compostáveis domesticamente de compostáveis industrialmente, como também para definir de que forma segregar os novos materiais, se com o papel, plástico ou vidro. Sem esta clara comunicação, os materiais existem, mas não sabemos bem o que fazer com eles.

O desafio está em deixar de percecionar a embalagem como “o lixo que ninguém quer” e valorizar o investimento neste processo. E nesse caminho, além da criatividade, também a tecnologia e a investigação têm uma grande responsabilidade. Transformar uma embalagem em super-embalagens, encontrando materiais e definindo processos de fabricação que façam com que as embalagens sejam eficientes desde o início até ao momento em que se tornam lixo e que, ao mesmo tempo, deem a garantia de cumprir a sua função de acondicionamento de produtos, sejam eles quais forem.

O caminho a seguir, sabemos e não restam dúvidas de que será o da redução da utilização do plástico e o da transição para materiais 100% biodegradáveis e nessa missão as empresas e marcas de consumo já perceberam que têm um papel importante, procurando apresentar aos consumidores soluções que sejam mais sustentáveis e que apostem na circularidade dos recursos. De facto, a embalagem é, na maioria das vezes, o primeiro contacto que o consumidor tem com o produto e agora, para além de bonita, prática e económica para marcas e consumidores, as embalagens devem passar também a ser sustentáveis. Além do impacto na decisão de compra, espera-se que tenham um impacto positivo no ambiente.