No dia 25 de Dezembro de 1914 os soldados alemães e britânicos interromperam a sua guerra sangrenta para festejar juntos o Natal.

Parece que os alemães começaram a entoar velhas melodias natalícias na trincheira. Os ingleses ripostaram com as suas e em breve cantavam juntos, trocavam presentes, partilhavam a refeição e até jogaram à bola. Porém, no dia seguinte recomeçaram a bombardear-se metodicamente.

Esta história diz muito sobre a natureza das coisas humanas. Em primeiro lugar, mostra que o mal existe independentemente dos sentimentos pessoais, que algumas das piores maldades se praticam friamente, administrativamente, por poderes organizados sem sentimentos ou emoções.

Depois, a Trégua do Natal de 1914 só foi possível porque os oficiais alemães e britânicos eram ainda em grande parte aristocratas imbuídos de tradição cristã e cavalheiresca. Para eles, a guerra era uma coisa heróica e sagrada, era um ofício sacrificial e místico como a missa, e não a mera industria do morticínio em que o espírito burguês, mais materialista e utilitário, a estava a transformar. Hoje, em qualquer frente de combate, é impensável uma trégua espontânea para celebrar o que quer que seja e muito menos o Natal.

Há poucos dias a Comissária Europeia para a Igualdade, a maltesa Helena Dalli, propôs a abolição da palavra Natal por ferir a susceptibilidade dos não-cristãos – e poder assim prejudicar a paz e harmonia na Europa, supõe-se. Houve críticas e a comissária suspendeu a proposta, alegando simplesmente tratar-se de uma ideia que precisa de mais trabalho”.

Mas eu pergunto: quantos milhares de vidas salvou a Trégua do Natal naquele dia, de uma guerra fabricada pelos comissários políticos do tempo – frios burocratas sem espírito, iguaizinhos aos de hoje excepto nos pretextos e na retórica?

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