Foi com enorme decepcão que tomei conhecimento do artigo da Diana Soller publicado no Observador a 18 de Fevereiro de 2018, intitulado “Afrin e as escolhas de Erdoğan“. Em muitos aspectos, considero-o bastante enganador.

Em primeiro lugar, gostaria de lhe assegurar que ao longo da história a Turquia foi sempre um país europeu. Para os sucessivos governos turcos, a adesão à União Europeia tem sido um objectivo estratégico e continua a sê-lo. Por outro lado, a Turquia encontra-se na encruzilhada da Europa e da Ásia, tendo laços históricos e culturais com os países do Médio Oriente. Acredito que a prática de uma política externa multifacetada de acordo com os interesses nacionais não significa necessariamente alinhamento com uma parte do mundo.

É muito difícil compreender como a Senhora Diana Soller pode acusar a Turquia de bombardear o enclave de Afrin sob o “pretexto de neutralizar o terrorismo curdo”.

Já há algum tempo que a Turquia tem vindo a lutar contra uma série de organizações terroristas que representam risco real de ameaça aos seus interesses vitais de segurança. O PKK, que está na lista de organizações terroristas da UE, tem empreendido uma guerra mortal contra a Turquia nos últimos 30 anos. Não é segredo algum que na Síria o PYD-YPG é afiliado do PKK.

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Tendo concluído com sucesso a “Operação Escudo do Eufrates” no ano passado, a Turquia livrou do DAESH as suas fronteiras com a Síria, libertou uma área de 2.015 km2 e estabeleceu um refúgio seguro, livre de terror, permitindo o regresso dos sírios deslocados. No entanto, a ameaça terrorista da Síria que visa as nossas fronteiras ainda não terminou. A ameaça dos elementos terroristas PKK–KCK, PYD-YPG, mobilizados na região de Afrin, às vidas e propriedades do povo irmão da região, e dos nossos cidadãos que vivem perto da área fronteiriça é acrescida, devido ao recente aumento do número de disparos e ataques hostis. Desde o início de 2017, as províncias turcas de Hatay e Kilis, bem como os postos e bases militares turcas na região e os postos de vigilância têm sido alvo de ataques constantes a partir de Afrin, já quase 700.

Gostaria igualmente de recordar à Senhora Diana Soller que a tentativa de golpe de Estado de 15 de Julho de 2016, conduzida pela organização terrorista FETÖ, representou uma ameaça existencial à nossa democracia. Estamos ainda a tentar superar este trauma. O governo turco, devidamente adopta medidas para suprimir e, eventualmente, derrotar esta ameaça.

No que diz respeito às relações bilaterais com os Estados Unidos, uma vez mais reforçadas pela Declaração Conjunta emitida após a visita a Ancara do Secretário de Estado Rex Tillerson, no dia 16 de Fevereiro de 2018, a Turquia e os EUA são aliados na NATO e parceiros estratégicos há mais de 65 anos. O que esperamos dos nossos amigos americanos é que tenham em consideração os interesses de segurança nacional da Turquia. Será um enorme erro cooperar com terroristas enquanto se combate outras organizações terroristas.

Em relação à Síria, não tenho conhecimento de qualquer acordo bilateral assinado com Moscovo em 2016. Se a Senhora Diana Soller se refere ao Processo de Astana, um esforço conjunto da Turquia, da Rússia e do Irão para pôr um fim ao conflito armado na região, este será um complemento mas não substituirá as negociações de paz de Genebra.

Por último, e estou certo de que concordará comigo, em todos os países democráticos cabe às pessoas decidir o sistema pelo qual se regem. No referendo realizado a 16 de Abril de 2016, a nação turca, com uma estreita maioria, optou pelo sistema presidencial. Não nos devemos esquecer que a mesma percentagem de eleitores votou contra o Brexit no Reino Unido.