Agora sim, temos programa de Governo. Foi tudo devidamente debatido no Parlamento e habemus programu governatitius. Fortíssimo, o meu latim. O que interessa é que saiu fumo branco da Assembleia na passada sexta-feira. Enfim, o paralelo papal é sofrível, mas o essencial é termos um programa de Governo novinho em folha. Novinho em folha é como quem diz. É um programa de Governo reciclado do programa com que o PS concorreu às eleições em Janeiro. E que, portanto, não tem em conta alguns pormenorzinhos, de somenos, tipo a guerra na Ucrânia. É um programa reciclado, vá. Mas ainda naquela fase da reciclagem em que o programa vai no camião do lixo a caminho da ETAR. Ou seja, é um programa que a ASAE não devia permitir que fosse vendido às pessoas.

Seja como for, digamos que houve então fumo. Aliás, vários fumos. Saiu fumo do Parlamento e saiu fumo pelas orelhas da generalidade dos portugueses, uma vez que é difícil controlar o mau humor ao ler o programa de Governo. Aliás, foi mais por isso que eu não o li. Ainda assim posso garantir que o documento é uma espécie de TED Talk em que a conversa desemboca, sempre, em pagarmos mais impostos. No fundo, o programa de Governo é uma TAX Talk. Muito paleio de chacha e ainda mais carga fiscal.

E um dos novos impostos de que o Ministro da Economia veio falar é o imposto sobre lucros excessivos. Que acresceria, suponho, ao mero imposto sobre lucros. Que co-existe com o facto de mesmo as empresas que não dão lucro pagarem impostos por força da tributação autónoma. Acho pouco. Podíamos ir mais longe. A juntar ao imposto sobre lucros e ao imposto sobre lucros excessivos devíamos ter o imposto sobre lucros mas o que é isso, seu malandro? Isso é um resultado líquido positivo ultrajante! Enfim, se a capacidade deste Governo para inventar impostos pagasse imposto… o Governo continuaria a inventar impostos. Uma vez que está mais agarrado à receita fiscal que um agarrado à receita de metadona.

Bom, mas pelo menos com a inflação não temos de nos preocupar. António Costa garante que a inflação é apenas temporária. Esqueçam a inflação, porque a inflação só durará um certo período de tempo. Que é o que significa “temporário”. Um bocado como aconteceu, por exemplo, com a Guerra dos Trinta Anos. Que durou apenas três décadas. Também foi temporária. Ou com o Império Otomano, que apareceu, durou 600 anos, e desapareceu num instante. Quase nem se deu por ele. Ou mesmo com a formação do sistema solar. Aquilo foi num ápice. Quê? Escassos milhares de milhões de anos e está feito. Alguém se lembra de ter demorado, a formação do sistema solar? Claro que não. Porque foi uma coisa temporária. Igualzinho à inflação.

Não nos devemos preocupar com a inflação, nem com o facto de o Ministério da Educação pretender que os alunos aprendam a andar de bicicleta na estrada a partir dos 10 anos. Um chamado Manual Técnico prevê a aprendizagem em espaço fechado entre o 1º e o 4º ano, mas logo a partir do 2º ciclo de escolaridade a instrução passa para o “espaço público” e zonas de “baixa e alta densidade”. O documento é omisso neste ponto, mas acredito que a partir do 3º ciclo os alunos passem a andar de bicicleta também na auto-estrada. Depois de seis anos de treinos diários é bom que os putos já consigam manter uma média de rodagem bem acima dos 50km/h, a velocidade mínima permitida nestas vias.

A propósito de miúdos em idade escolar. Eu até agora estava genuinamente convencido que os putos continuavam a usar máscara na escola porque a DGS se tinha esquecido de os avisar que as podiam tirar. Mas não. Afinal parece estar em aberto a hipótese de os alunos continuarem a usar máscara até ao fim do ano lectivo. A confirmar-se, isto é o mais grotesco caso de sempre envolvendo a visibilidade de faces. Suplantando até o facto de termos de continuar a ver a cara de Rui Rio na liderança do PSD.

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