O número de casos e mortes aumentaram nestes últimos dias de uma forma imprevista, segundo as declarações vindas a público pelos responsáveis do nosso país. Este imprevisto teve a ver com a variante britânica de Covid-19, que fez disparar o número de contágios na comunidade.

Segundo o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), há um crescimento da nova variante a uma taxa de 70 %, a cada semana, em relação ao número total de novos casos registados. Isto significa, que daqui a três semanas, em vez dos 13% atuais de prevalência desta variante, iremos passar para 60%.

E a pergunta que se impõe é: foi mesmo tão imprevisto este crescimento?

A nova variante foi anunciada ao mundo pelo ministro britânico da Saúde, Matt Hancock, a 14 de dezembro do ano passado. A informação fornecida foi que esta mesma variante era mais contagiosa, não se sabendo naquela altura qual seria a faixa etária mais afetada ou, tão-pouco, se a vacina contra a Covid-19 iria ser igualmente eficaz.

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Posteriormente, esta última dúvida foi esclarecida pelos laboratórios envolvidos na produção da vacina, confirmando que a sua eficácia não seria alterada. Estudos em doentes infetados revelaram que a faixa etária prevalente desta variante era em jovens, nomeadamente no grupo dos 18 aos 24 anos.

A velocidade de contágio desta variante foi tão evidente, que levou Inglaterra a novo confinamento.

Em meados de dezembro, quando a comunidade científica internacional teve conhecimento desta nova variante, Portugal iria suspender poucos dias depois muitas medidas sanitárias para que a população pudesse passar o Natal em família.

Os britânicos lideram o turismo em Portugal há muitos anos, com exceção de 2018. Representam cerca de 20% do total de dormidas de estrangeiros em todo o país. Apesar da redução significativa de turistas em Portugal, incluindo os britânicos, com a vinda regular dos mesmos ao nosso país, seria prudente que a todos os visitantes fosse exigido, sem exceção, o teste de Covid-19 negativo realizado 72 horas antes da viagem.

Portugal tinha obrigação de informar todas as companhias aéreas que qualquer passageiro só poderia embarcar para Portugal nestas condições. Mas o que estamos a fazer, é a possibilidade dos que chegam fazerem o teste até cinco dias depois de entrar em Portugal. Esta orientação devia ser banida. É mais uma exceção, a somar a tantas outras orientações discutíveis e em modo “light” vindas dos nossos governantes.

Com o abrandar das medidas sanitárias no período natalício e com o risco acrescido de entrarem em Portugal turistas portadores desta variante altamente contagiosa, era previsível esta situação dramática que estamos a viver diariamente.

Com as variantes do Brasil e da África do Sul em franca propagação pelo mundo fora, e face ao número elevado de brasileiros que chegam a Portugal, devemos prevenir o que será inevitável acontecer a curto prazo: a entrada destas variantes no nosso país. Para reduzir esta possibilidade, temos de exigir testes negativos à Covid-19 realizados nas 72 horas anteriores a todos os passageiros que querem visitar Portugal e não deixarem embarcar quem não apresente o resultado na altura de fazer o check-in ao balcão de cada companhia área. Se optarmos por esta orientação, muitos contágios serão evitados, incluindo os relativos às novas variantes.

Não podemos justificar as nossas falhas ou indecisões com o argumento de ter sido imprevisto o que está a acontecer. Quando estamos atentos a factos epidemiológicos, não existe imprevisto numa situação que era altamente prevista.

O que temos de fazer é tomarmos decisões certas com antecipação e inteligência.