Antes de assumirem para si mesmos a sua homossexualidade, um rapaz ou uma rapariga enfrentam medos terríveis e lidam com pavores incríveis. Consomem-se de dúvidas e angústias, interrogam-se incessantemente sobre a sua verdadeira natureza, tentam encontrar respostas e justificações, travam lutas interiores brutalmente erosivas, isolam-se ou fecham-se, vivendo numa espécie de clandestinidade que em nada favorece o seu crescimento como seres humanos. Conheço jovens que há mais de 10 anos não dormem uma noite seguida, que vivem esta realidade muito sozinhos e morrem de medo de serem descobertos pelos pais. Ou seja, jovens que não escolheram ser homossexuais, e pouco ou nada podem fazer para contrariar a sua natureza.

Salvo as excepções, que também as há, é importante perceber que as pessoas não são homossexuais porque querem, mas sim porque sentem realmente de uma maneira diferente. Acredito que se fosse uma questão de escolha, muitos homossexuais escolheriam deixar de o ser, até para evitarem muito dos sofrimentos que atravessam ao longo da vida. Vários amigos homossexuais, jovens e menos jovens, me confidenciaram isto mesmo, mas o facto de muitos nunca chegarem a assumir a sua homossexualidade também prova que o processo de descoberta e aceitação é complexo, delicado e muito doloroso.

Porque os dilemas da homossexualidade se põem com enorme intensidade a pais e filhos, importa ter presente que a aceitação, o não julgamento e o amor são os únicos caminhos possíveis. Homossexuais sempre os houve e haverá, enquanto o mundo for mundo. E não são só os filhos dos outros! Assim sendo, vale a pena interiorizar que quanto menor for o preconceito nas relações e quanto maior for a abertura de coração e a capacidade de ouvir sem julgar, mais fortes e duradouros serão os laços entre pais e filhos. A verdade salva e constrói. A mentira degrada e destrói. Os pais que evitam os temas difíceis dos filhos, que se afastam deles ou fingem que não vêem o que salta à vista de todos, cavam ainda mais fundo o seu sofrimento e isolamento. Os que, pelo contrário, fazem um esforço para os aceitar sem os julgar, porque percebem que estes filhos têm uma necessidade ainda maior de serem apoiados, valorizados e até resgatados, devolvem-lhes a dignidade e dão-lhes a certeza de poderem existir e serem amados.

P.S.: Escrevo esta crónica depois de mais um suicídio de um jovem que se matou por não conseguir viver a condenação familiar a que foi sujeito por ser homossexual.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR