Comemora-se a 21 de Maio o Dia Nacional e Europeu da Obesidade. Uma doença que afeta mais de um milhão de portugueses. A reflexão é necessária, na medida em que a obesidade continua a aumentar, assim como as principais doenças associadas, ou seja, diabetes, cancro e doenças cardiovasculares, apesar dos esforços de diferentes Governos em todo o mundo,

A obesidade tem múltiplas causas, desde a modificação da nossa maneira de trabalhar, que se sedentarizou, até à oferta alimentar que nos rodeia, cada vez mais polarizada em torno de produtos baratos e acessíveis com excesso de calorias e ricos em açúcar, gordura e sal e, por outro lado, produtos frescos, mas mais caros e difíceis de encontrar e até de preparar.

A transformação do mercado alimentar local num mercado global, foi determinante na criação do “ambiente obesogénico” que hoje nos rodeia. Os alimentos, ao necessitarem de ser transportados, foram obrigados a perder peso (curiosamente) e a uma melhor conservação. Alimentos mais leves, com mais resistência a bactérias e com maiores períodos de durabilidade ganharam protagonismo. Para esse salto tecnológico, utilizou-se maciçamente o açúcar e o sal. Ingredientes baratos ainda por cima. O açúcar e o sal ao serem adicionados aos alimentos permitem reduzir a água e criar condições para que os microrganismos não tenham capacidade de sobrevivência. As compotas e os enchidos, antepassados remotos desta tecnologia, deram rapidamente lugar a chocolates, cereais de pequeno-almoço, bolachas, refrigerantes, néctares e toda uma diversidade de pastelaria e salgados que apelam a dois dos sabores preferidos da humanidade (o doce e o salgado) a baixo preço e com sabor quase irresistível.

A fatura a pagar por este mercado quase desregulado de comida de baixo valor nutricional é enorme e é saldada pelas famílias (em particular as mais vulneráveis economicamente) e contribuintes. Em Portugal, os custos indiretos totais da obesidade foram estimados em 2002 (com uma realidade menos preocupante que a atual) em 199,8 milhões de euros.

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O consumo excessivo de açúcar, e em particular de açúcares livres, é responsável pela progressão rápida de doenças como a obesidade e cárie dentária. Em Portugal, no período de 2013/2014, a disponibilidade de açúcar per capita foi de 34,4 kg/ano, o que equivale a 94 g/dia, ou seja, 376 kcal/dia. Se pensarmos que o açúcar pouco acrescenta ao nosso estado nutricional, a não ser calorias vazias, sem valor adicional, poderemos pensar como ingerimos um valor equivalente a 15 pacotes de açúcar diariamente e o que podemos fazer para alterar esta situação?

Muito deste açúcar é invisível, pois está em bolos, bolachas, sumos açucarados, sobremesas, em cereais de pequeno-almoço, molhos, iogurtes açucarados, chocolates e outros produtos que ingerimos diariamente, quase sem dar conta. Produtos com boa conservação, apelativos, com bom marketing, baratos e disponíveis em quase todo lado. Inclusive em locais onde a compra é quase irresistível, ou seja, no final da fila do supermercado ou na bomba de gasolina.

O tempo é de iniciativa das famílias. Água e fruta à mesa, em todas as refeições, em vez de sumos e sobremesas doces, pode ser um primeiro passo. Evitar colocar bolachas, pão com recheio de chocolate e bebidas doces nas lancheiras escolares, outro. E porque razão devem as instalações públicas, geridas por dinheiros públicos e pagas por todos nós (a começar por hospitais e escolas) continuar a permitir a venda, sem fiscalização, de substâncias manifestamente perigosas para a nossa saúde e dos nossos filhos?

Diretor Programa Nacional para Promoção da Alimentação Saudável – DGS