O Turismo tem crescido em Portugal a um ritmo inédito. Não me surpreende. Aliás, o que me surpreende, enquanto presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro, é que os visitantes só agora estejam a descobrir o destino turístico extraordinário que é o nosso país, capaz de aliar um clima de exceção a paisagens de cortar a respiração, que dispõe de uma oferta com cada vez maior qualidade e que oferece ainda uma autenticidade que escasseia por essa Europa fora.

O Centro de Portugal acompanha este crescimento de forma notável. Cada vez mais estrangeiros estão a descobrir a diversidade que torna o Centro num destino único. A entrada de turistas e o número de dormidas aumentam nesta região a um ritmo anual de dois dígitos. Como seria, então, se o Centro dispusesse de um aeroporto onde os visitantes pudessem aterrar? Esse aeroporto existe, ou quase: está em Monte Real e até o Papa Francisco escolheu lá aterrar.

O Centro de Portugal é a maior região do país. Representa um território com 100 municípios e 2,4 milhões de cidadãos. Apresenta hoje cerca de 6 milhões de dormidas e gera mais de 250 milhões de euros de receitas diretas da atividade turística. Facto: é única região do país que não é servida por uma infraestrutura aeroportuária.

Se olharmos para o ocidente da Península Ibérica, vemos três aeroportos na Galiza, depois um no Porto, outro em Lisboa, um em Beja e, finalmente, um em Faro. São mais de 300 quilómetros entre os aeroportos de Sá Carneiro e Humberto Delgado sem uma pista que receba companhias aéreas. É como se não existisse território entre o Douro e o Tejo. Não é de admirar, pois, que esta enorme parcela de Portugal se sinta “negligenciada”, quando vê avultadíssimos investimentos beneficiarem quase sempre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

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Companhias aéreas à espera de luz verde

Paradoxalmente, há um aeroporto quase pronto na região e com companhias interessadas em utilizá-lo. Com as adaptações necessárias, e desenhando-se uma articulação com os militares que a utilizam – e que poderão, obviamente, continuar a fazê-lo –, não será necessário muito mais para que a base aérea de Monte Real, a 15 quilómetros de Leiria e a 42 quilómetros de Fátima, esteja apta a receber voos civis e comerciais. Basta seguir-se um modelo idêntico ao da Base das Lajes, nos Açores, onde a pista é usada de forma articulada pela aviação militar e civil.

A ideia não é peregrina. A criação do aeroporto tem sido defendida por várias entidades, desde o final do século passado. Autarcas, partidos de cores diferentes, movimentos de cidadãos e empresários são unânimes em defender as vantagens desta solução. A Assembleia da República aprovou igualmente, ao longo dos anos, diferentes recomendações aos vários Governos nesse sentido. Mas nada foi feito e o Centro continua a ver os aviões a passar.

Um aeroporto traria vantagens incalculáveis para a atividade turística no Centro de Portugal e, consequentemente, para a economia nacional. É sabido que a mobilidade e a acessibilidade são um fator crítico para o turismo e que mais de 60% do fluxo internacional turístico é feito pela via do aeroporto. Logo, é uma porta de entrada verdadeiramente essencial nos dias de hoje e que rapidamente se pagaria a ela própria.

Acresce que o Santuário de Fátima é o único dos grandes santuários marianos na Europa que não é servido por uma estrutura aeroportuária. Lourdes, por exemplo, tem um aeroporto a 14 quilómetros. Fátima tem o Humberto Delgado a 121 quilómetros… Em 2017, estima-se que Fátima atraia perto de sete milhões de visitantes, que chegam de todo o mundo. São mais, muitos mais, do que o número mínimo de 1,2 milhões de passageiros que tornam sustentável uma operação aeroportuária, segundo o Instituto Nacional de Aviação Civil. Fátima, por si só, viabilizaria o aeroporto, e só na componente turística.

Beneficia Fátima e toda a região

O impacto do aeroporto seria sentido em toda a região, que é muito mais do que Fátima. Colocar o turismo religioso de Portugal na rota dos operadores internacionais é um dos desígnios da Turismo Centro de Portugal. Esta ação envolve também o turismo judaico e o riquíssimo Património da Humanidade classificado pela UNESCO, em Coimbra, em Tomar, na Batalha e em Alcobaça. Um aeroporto em Monte Real serviria igualmente aqueles que nos procuram para o surf (temos a melhor costa atlântica para os adeptos das pranchas), os que vêm descobrir a singularidade das nossas aldeias históricas ou do xisto, ou que vêm provar a autêntica maravilha que é a nossa gastronomia, assim como os nossos vinhos.

O aeroporto de Monte Real é útil e economicamente rentável. Há contactos com várias companhias aéreas interessadas em voar para este destino. Recentemente, a Aigle Azur anunciou que pretende abrir uma rota entre Paris e Monte Real, três vezes por semana. O argumento da empresa é que Monte Real atrai passageiros que não fazem só turismo, mas também empresários com interesses na região e emigrantes.

Existe, de facto, potencial para captar voos de turistas, que vêm conhecer o Centro, de peregrinos, que procuram Fátima, e de empresários. A indústria da região – a indústria de moldes e a indústria vidreira da Marinha Grande, por exemplo – ganharia escala e posicionamento internacional. E também de académicos e estudantes, face à proximidade de Universidades, como a de Coimbra e Aveiro, e de institutos superiores.

O aeroporto seria também uma alavanca para se poder intervir noutras infraestruturas associadas. Por exemplo, a modernização das linhas ferroviárias que atravessam o Centro é igualmente decisiva para a região dar um salto de atratividade. É o caso da Linha do Oeste, que urge ser eletrificada, ou a recuperação da Linha da Beira Alta, já anunciada pelo Primeiro-Ministro, António Costa, que é vital para aproximar ainda mais Portugal e Espanha.

“Espanha não é um vizinho que está de costas voltadas”

É que Espanha não é um “vizinho que está de costas voltadas”. Pelo contrário. Atualmente, a fronteira une-nos mais do que nos separa. Estrategicamente, é o mercado emissor de turistas mais importante para o Centro. E como nós somos tão importantes para eles como eles para nós, têm sido assinados acordos de cooperação e promoção conjunta que – o tempo irá certamente aferi-lo – serão impulsionadores do desenvolvimento mútuo. Recentemente, apresentámos um mapa turístico transfronteiriço entre o Centro de Portugal e a Extremadura espanhola, que apresenta as duas regiões irmãs como um destino único, mantendo naturalmente as suas individualidades. Um esforço idêntico está a ser realizado com a região de Castela e Leão.

A comprovar esta relação cada vez mais estreita está a presença, na semana passada, dos responsáveis máximos do Turismo das Juntas da Extremadura e de Castela e Leão no Fórum “Vê Portugal”, em Leiria. Este fórum, que o Turismo Centro de Portugal organiza todos os anos, tem como missão debater o turismo interno.

É que, se por um lado, é crucial aumentar a atratividade do país lá fora, convém não esquecer a importância do mercado interno, que representa praticamente 13 milhões de dormidas por ano, está cá o ano inteiro, e não sofre flutuações. E nós não o esquecemos! Com a realização do “Vê Portugal”, procuramos valorizar e promover as regiões menos beneficiadas. Simultaneamente, colocamos na agenda temas que consideramos relevantes para a dinâmica da região e para a valorização da atividade turística.

Termino como comecei. Se o Centro de Portugal já cresce como cresce a nível turístico, quanto cresceria com um aeroporto e com a modernização das infraestruturas ferroviárias? Do que estamos à espera para tirar o conceito da coesão territorial do papel e dotar a maior região do país de condições idênticas às demais? O Centro merece – e o País agradece.

Presidente da Entidade Regional Turismo do Centro e da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal