A hipertensão arterial é o principal fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares graves como o enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC). Em Portugal, os últimos dados epidemiológicos sobre a prevalência de hipertensão arterial (HTA) baseiam-se em dois estudos principais. O estudo “A Hipertensão Arterial em Portugal 2013”, que revelou uma prevalência de 26,9% (23,9% nos homens e 29,5% nas mulheres) e o estudo PHYSA (Portuguese HYpertension and SAlt Study), da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, desenvolvido em 2011 e 2012, com a prevalência em Portugal estimada nos 42,2% (44,4% nos homens e 40,2% nas mulheres).

A HTA é uma doença crónica que atinge cerca de 4 em cada 10 portugueses e, por ser silenciosa e habitualmente assintomática, é frequentemente pouco valorizada pelo doente. Múltiplos fatores influenciam o seu (des)controlo: consumo de sal, peso, sedentarismo, tabagismo, fatores de stress associados ao dia-a-dia do doente (trabalho, família..), (in)cumprimento terapêutico, temperatura ambiente, entre outros.

Vários estudos têm demonstrado que o controlo da HTA é influenciado sazonalmente, pelo que as alterações na temperatura ambiente podem provocar um aumento ou uma diminuição da pressão arterial. Por exemplo, com a chegada do verão e o consequente aumento da temperatura ambiente, pode acontecer uma descida dos valores da pressão arterial. De facto, alguns estudos têm demonstrado que os valores de pressão arterial obtidos tanto no consultório médico como em medições ambulatórias, são mais baixos nos meses mais quentes do ano. Como consequência, é possível que exista a necessidade de ajustar a terapêutica do doente hipertenso nos meses de verão.

Recomendações para o melhor controlo da HTA em tempo quente incluem uma alimentação equilibrada, pobre em gorduras e rica em fruta e legumes, mas também consumir pouco sal, reforçar a hidratação – beber 1,5 a 2L de água por dia –, evitar o excesso de álcool e o tabaco, assim como a exposição prolongada ao sol, devido ao maior risco de desidratação. O cumprimento destas medidas, em combinação com a instituição e o cumprimento de uma terapêutica anti-hipertensora adequada, otimiza o controle da pressão arterial, evitando grandes oscilações que podem ter efeitos nefastos para a saúde do doente.

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Assim, é muito importante que, antes do verão, o doente hipertenso seja avaliado pelo seu médico assistente, de forma a ser elaborado todo um plano preventivo e terapêutico adequado. É fundamental que o doente hipertenso tenha conhecimento e adote as recomendações para ajustes necessários em tempo quente e tenha conhecimento dos sinais de alarme que o devem fazer recorrer ao seu médico. O aparecimento, por exemplo, de tonturas, dor de cabeça ou visão turva, são alguns dos sintomas que poderão estar relacionados com o descontrolo da pressão arterial.

O grande perigo desta doença crónica é que o aumento ou a diminuição da pressão arterial muitas vezes não desencadeia nenhum sintoma, pelo que é fundamental uma autovigilância e avaliação médica regular.

Um grupo populacional especialmente sensível às alterações da temperatura ambiente são os idosos. Nos meses de verão pode ser necessário a diminuição ou suspensão de alguma da sua terapêutica anti-hipertensora pelo maior risco de descida da sua pressão arterial, que nesta faixa etária pode ser mais relevante e frequente.

Um exemplo muito comum é a necessidade de reavaliação após um episódio de gastroenterite, onde o paciente, pelo quadro agudo, poderá ter a necessidade de fazer ajuste terapêutico até retornar a sua medicação habitual.

A altura do verão leva, inclusivamente, à necessidade, em diversas situações, da alteração da classe do fármaco que o paciente toma usualmente, para se melhor adequar à temperatura, excessos, insuficiente hidratação e perdas de volume não quantificáveis.

Fundamental é também alertar o doente hipertenso para que qualquer alteração na sua terapêutica anti-hipertensora seja sempre efetuada sob orientação médica. A sua gestão autónoma pode acarretar riscos sérios para a sua saúde, pelo que não pode nem deve hesitar em procurar o seu médico assistente.