1 De onde vêm as vacinas

As vacinas e a antibioterapia foram duas das mais importantes inovações da história da Medicina. Foram, certamente, das medidas que tiveram maior impacto na morbi-mortalidade e que mais contribuíram para o aumento da esperança média de vida.

O conceito clássico de vacina é de um agente que administrado, seja por via oral ou parentérica, provoca uma reação imunitária de defesa contra determinadas infeções.

Ao longo da história da Humanidade, terão ocorrido diversas tentativas empíricas de proteger as pessoas contra as infeções que assolavam a comunidade, mas é a Edward Jenner que se atribui a descoberta da vacinação em 1796, na sequência das experiências realizadas com o vírus da varíola.

Até surgir Louis Pasteur, 90 anos depois, no final do século XIX, a infeção era considerada um processo de geração espontânea, por se desconhecer a existência de microrganismos. Foi Pasteur que descreveu, pela primeira vez, o papel dos microrganismos na transmissão das infeções. Contudo, ainda que não houvesse conhecimento científico acerca da existência de microrganismos, há provas históricas do conhecimento da transmissão de doenças e essa capacidade de transmissão, usada para guerra biológica. Na Idade Média os exércitos contaminavam frequentemente a água de cidades sitiadas com cadáveres em decomposição ou atiravam para dentro das muralhas os que se encontravam contaminados com varíola ou com peste bubónica (peste negra). Esta técnica foi usada por Genghis Khan no ataque à cidade de Caffa. Foram atirados para dentro dos muros da cidade, cadáveres de soldados, que tinham morrido de peste bubónica, em avançado estado de decomposição, tendo como consequência a dizimação dos soldados sitiados e de grande parte da população da cidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Hoje dispomos de mais de 50 vacinas e é à vacina que se deve um dos maiores sucessos da história da Medicina, a erradicação da varíola, declarada pela OMS em 1976.

Depois de Edward Jenner, foi Pasteur o grande impulsionador da técnica de vacinação. É a ele que se deve a descoberta da vacina da raiva e contra o Bacillus anthracis e ainda a utilização dos vírus atenuados nas vacinas.

Nos últimos 150 anos, temos assistido ao desenvolvimento extraordinário da vacinação. Hoje dispomos de mais de 50 vacinas e é à vacina que se deve um dos maiores sucessos da história da Medicina, a erradicação da varíola, declarada pela OMS em 1976. Devemos também às vacinas o controle de muitas doenças infeciosas graves, como seja a tuberculose, com uma redução significativa da morbi-mortalidade de etiologia infeciosa em todo Mundo. Em Portugal, o primeiro registo referente a vacinação data de 1803, por ação da Junta do Protomedicato na promoção da vacinação anti-variólica. Contudo, admite-se que as notícias referentes à vacinação anti-variólica tenham surgido alguns anos antes, em 1799 e que o passo decisivo tenha ocorrido em 1812 quando a Academia Real das Ciências de Lisboa criou a Instituição Vacínica, que procdeu à recomendação para a vacinação anti-varíola universal e gratuita, na região de Lisboa.

Da mesma forma que tem ocorrido nos últimos 200 anos em todas as áreas da ciência médica, também na vacinação se tem assistido a uma importante evolução na investigação das vacinas. Hoje, dispomos de três tecnologias diferentes de vacinas, que vão desde a inicialmente desenvolvida por Pasteur até à moderna tecnologia genética.

Nas vacinas de primeira geração, semelhantes às inicialmente desenvolvidas por Pasteur, são usados vírus inativados ou atenuados.

As vacinas de segunda geração usam uma proteína do agente agressor, que poderá ser um vírus, para desencadear a resposta imunitária, sem que tenha que atravessar a membrana celular.

A grande diferença é que enquanto que, nas vacinas RNA, a partícula injetada penetra a célula, mas sem penetrar o núcleo, nas vacinas DNA a partícula injetada penetra o núcleo celular.

De entre as vacinas de terceira geração, designadas de genéticas, há dois tipos diferentes. Numas, o processo de imunização baseia-se na injeção de um mRNA (RNA mensageiro), que está codificado para dar instruções à célula humana para a produção de uma proteína, como seja, por exemplo, a proteína S do coronavírus. Este mRNA, produzido artificialmente em laboratório, permanece apenas no citoplasma da célula. Não penetra no núcleo celular e consequentemente, não tem qualquer interação com o DNA contido no núcleo da célula, pelo que não modificará a nossa carga genética. Noutras, as designadas de vacinas DNA, o conceito base é semelhante, mas diferem porque em vez do mRNA, é injetado um DNA programado para a produção da proteína desejada. A grande diferença é que enquanto que, nas vacinas RNA, a partícula injetada penetra a célula, mas sem penetrar o núcleo, nas vacinas DNA a partícula injetada penetra o núcleo celular. Ao contrário do que acontece com as vacinas RNA, nas DNA a partícula injetada fica remanescente no núcleo da célula e a questão que se coloca é de se saber qual será o seu destino. Teoricamente, o DNA injetado poderá integrar-se no genoma da célula hospedeira. Contudo, a tecnologia de desenvolvimento dessas vacinas tem sido concebida para que isso não aconteça, o que tem sido confirmado com a análise feita em tecidos de órgãos de mamíferos não humanos.

2 As vacinas contra a Covid-19: o que as distingue e como funcionam

Depois desta pequena introdução e passando à vacinação anti-SARS-CoV-2, nos países da Europa Ocidental e nos EUA estão atualmente aprovadas 4 vacinas.

Duas delas, as da Pfizer-BioNTech e a da Moderna, são vacinas RNA. As outras, a da Oxford-AstraZeneca e a da Johnson & Johnson, baseiam-se na tecnologia dos vírus atenuados.

Sendo uma tecnologia nova, a de produção de vacinas genéticas baseadas na injeção de RNA mensageiro, é importante tecer algumas considerações acerca do seu desenvolvimento, eficácia e segurança.

Teoricamente, as vacinas RNA serão das mais seguras e eficazes de que dispomos. Atualmente, são bem toleradas e com poucos efeitos colaterais. A partícula injetada, não sendo um vírus atenuado ou inativado, não é suscetível de provocar doença.

Para começar, deverá dizer-se que as vacinas RNA anti-SARS-CoV-2, são as primeiras a serem usadas em seres humanos. Desde há vários anos que decorrem estudos científicos mas, até hoje, só haviam sido utilizadas em animais, em que se incluíam alguns mamíferos, como sejam cavalos e porcos. De entre as vacinas RNA que foram desenvolvidas para uso humano, destacam-se as da raiva, do vírus Zika, citomegalovírus e influenza, mas nenhuma delas chegou a ser usada, em consequência dos efeitos colaterais graves, relacionados com a injeção do mRNA. Outra particularidade é que o RNA injetado tem um tempo de sobrevivência muito curto, devido à sua instabilidade, o que tem colocado dificuldades na sua conservação e aplicação.

Teoricamente, as vacinas RNA serão das mais seguras e eficazes de que dispomos. Atualmente, são bem toleradas e com poucos efeitos colaterais. A partícula injetada, não sendo um vírus atenuado ou inativado, não é suscetível de provocar doença. Sendo injetado um RNA e não um DNA, não penetra o núcleo celular e, consequentemente, não tem a possibilidade de modificar o genoma celular. Estando o RNA codificado para a produção de uma proteína específica, a proteína S no caso do SARS-CoV-2, não é espectável que sejam produzidas proteínas diferentes daquela para que o RNA se encontra programado, até porque ele é degradado assim que a proteína é produzida.

A história do desenvolvimento das vacinas RNA iniciou-se há cerca de 30 anos, quando em 1990 Jon A. Wolff e colaboradores observaram que, ao injetar-se RNA ou DNA no músculo de ratos, o resultado era a expressão, pelas células musculares, das proteínas codificadas pelo ácido nucleico injetado. Poucos anos depois, em 1994, Zhou & Berglund provaram que o RNA poderia ser usado como vacina, por poder codificar proteínas suscetíveis de induzirem uma resposta imunitária celular e humoral. Ao falar-se de vacina RNA é inevitável referir-se também Katalin Kariko, que em conjunto com Drew Weissman publicou em 2005 um artigo científico descrevendo a técnica de conservação e de colocação do mRNA no interior das células sem desencadear reações imunitárias prévias.

São vacinas cuja eficácia tem sido reportada na redução do risco relativo de infeção de cerca de 95%. Significa que se adicionarmos a vacina a todos os outros meios de prevenção (distanciamento físico, higienização das mãos, etiqueta respiratória, uso de máscara, etc.), obtemos uma redução de 95% do risco de Covid-19. Contudo, não sabemos ainda qual é a redução do risco de Covid-19 em indivíduos vacinados, mas sem que tenham sido adotadas as outras medidas de prevenção. Alguns investigadores têm referido que a eficácia destas vacinas reside, essencialmente, na prevenção da doença grave. São vacinas cuja produção é mais rápida, podendo, assim, representar uma mais valia importante no controle da infeção.

A vacina da AstraZeneca é uma vacina vetorial, desenvolvida com a tecnologia de vetor não replicante de um adenovírus de chimpanzés. Trata-se de um vírus que é inofensivo para os seres humanos. Após a administração penetra em algumas células do corpo humano, que utilizam a sua carga genética para produzir a proteína S, que é exposta na superfície celular para desencadear a resposta imunitária.

A vacina anti-SARS-CoV-2 da Johnson & Johnson também se baseia num adenovírus, cujo DNA é modificado para induzir uma resposta imunitária ao SARS-CoV-2. Tratando-se de um adenovírus inativado, a sua administração não provoca doença, porque o vírus não se pode replicar.

Uma das vantagens da vacina da Johnson & Johnson é ser de administração em dose única. De entre as outras vantagens, tal como acontece com a vacina da AstraZeneca, a sua conservação não requere armazenamento ultra-frio.

3 O que nos ensina a experiência de Israel

No dia 28 de Fevereiro de 2021, Israel era o país do Mundo com a maior percentagem de cidadãos vacinados. Já tinha sido administrada, pelo menos, uma dose a 54,5% da população e 38,9% dos cidadãos já se encontravam completamente imunizados. Assim, já começa a ser possível investigar a eficácia real da vacinação e nesse sentido, Noa Dagan e colaboradores publicaram no passado dia 24 de Fevereiro, no NEJM, um artigo científico em que analisaram as pessoas vacinadas em Israel, com a vacina BNT162b2, entre o dia 20 de Dezembro de 2020 e o dia 1 de Fevereiro de 2021. Compararam com controles não vacinados e foram analisados os casos de síndrome respiratória aguda grave, de Covid-19 sintomático, de hospitalização, de doença grave e de morte. Cada grupo incluiu 596.618 indivíduos e foram analisados entre os dias 14 a 20 e 21 a 27 de Fevereiro, depois da primeira dose da vacina e 7 dias ou mais, após a segunda dose, tendo-se obtido os seguintes resultados:

  • Infeção documentada: redução de 46%, 60% e 92%, respetivamente;
  • Covid-19 sintomático: redução de 57%, 66% e 94% respetivamente;
  • Doença grave: redução de 62%, 80% e 92%, respetivamente;
  • Hospitalização: redução de 74%, 78% e 87% respetivamente;
  • Mortalidade: redução de 72%, 84% e NA%, respetivamente;

A eficácia foi consistente em todos os grupos etários, com eficácia ligeiramente inferior nas pessoas com várias doenças coexistentes.

É importante destacar que a eficácia obtida durante a 4ª semana após a primeira dose da vacinação foi consistentemente superior à obtida durante a 3ª semana após a primeira dose, o que permite concluir que, no caso específico da vacina da Pfizer-BioNTech, não há perda de eficácia se a administração da 2ª dose da vacina for diferida para a 4ª semana.

4 Vamos conseguir a imunidade de grupo?

É consensual que estando cerca de 70% da população imunizada é alcançada a imunidade de grupo. A imunidade poderá ser alcançada de forma natural, por via da infeção ou adquirida através de vacina. Contudo, algumas questões têm sido colocadas, como sejam:

  • A imunidade natural conferida pela infeção é igual em todos os cidadãos? Parece que não é. A literatura científica tem sugerido que as infeções assintomáticas ou ligeiras promovem menos imunidade do que as infeções moderadas ou graves e desconhece-se por quanto tempo garantem proteção. A infeção provocada por uma estirpe poderá não conferir imunidade contra a infeção por outra variante. É assim que se justifica a descrição de casos infetados por uma estirpe e pouco tempo depois por outra variante ou a infeção simultânea por duas estirpes diferentes ou ainda o exemplo de Manaus, onde depois de mais de 70% da população estar infetada, continuava a registar-se a propagação da infeção na comunidade.
  • A imunidade conferida pelas diversas vacinas será semelhante para todas elas e com durabilidade idêntica? Serão as vacinas mais eficazes a conferir imunidade, do que a infeção? A eficácia das vacinas na comunidade será idêntica à demonstrada nos estudos científicos? De momento, não dispomos de conhecimento suficiente para podermos responder com exatidão a estas questões. No entanto, face à evidência científica atual, sempre se poderá afirmar que a eficácia das diversas vacinas, não sendo igual para todas elas, é semelhante. Não sabemos se a imunidade conferida pelas vacinas é mais eficaz do que a conferida pela infeção, mas temos informação de re-infeção e de infeção ocorrida em indivíduos já vacinados, parecendo ser esta mais significativa. Os estudos científicos realizados para aprovação do uso das diversas vacinas, como acontece com todos os outros fármacos, foram feitos em ambiente controlado e além da vacina ou do placebo, todas as outras medidas de prevenção (distanciamento físico, etiqueta respiratória, uso de máscara, etc.) foram mantidas. Assim, como não seria eticamente aceitável que se tivesse estudado a eficácias das diferentes vacinas, excluindo todas as outras medidas de proteção, não sabemos se a eficácia delas se mantém, apesar da abolição dessas outras medidas de proteção ou se na sua ausência há diminuição da eficácia. Também é diferente estarmos a falar de redução de risco relativo ou absoluto e nunca nos foi claramente dito a qual dos dois nos referimos, quando se fala da redução do risco associado às vacinas.

Atualmente, há mais de 2500 variantes do SARS-CoV-2 conhecidas. A maioria delas são mutações tendentes a facilitar a penetração celular do vírus e não tem significado em termos clínicos. Contudo, de todas elas, algumas (menos de 6) causam preocupação

A par destas dúvidas outras incertezas persistem. Não sabemos qual o grau de resistência das novas variantes e de outras que venham a surgir, aos anticorpos neutralizantes induzidos pela vacina. Alguns estudos científicos têm reportado que a designada variante sul-africana (a B.1.351) seja parcialmente resistente às vacinas da Pfizer, da Moderna e da Novavax e acentuadamente resistente à da AstraZeneca. Por esta razão, a vacina da AstraZeneca não é usada na África do Sul e a Moderna já anunciou que iria estudar a modificação da vacina para adequação às novas variantes.

É importante salientar que a formação de novas variantes é um processo de seleção natural dos vírus para lhes facilitar a penetração nas células humanas e a resistência à ação do nosso sistema imunitário. Atualmente, há mais de 2500 variantes do SARS-CoV-2 conhecidas. A maioria delas são mutações tendentes a facilitar a penetração celular do vírus e não tem significado em termos clínicos. Contudo, de todas elas, algumas (menos de 6) causam preocupação, devido à sua elevada capacidade de transmissão e eventualmente de maior potencial de letalidade. Estas variantes surgem como resposta à pressão imunológica e representam a adaptação do vírus, como resposta, à ação neutralizante dos anticorpos produzidos por pessoas previamente infetadas ou vacinadas. Perante uma resposta imunitária forte, a capacidade de neutralização do vírus é elevada. Contudo, perante uma resposta imunitária moderada ou baixa, a capacidade de neutralização do vírus poderá ser pouco afetada e promover no vírus a capacidade de mutação para resistir aos anticorpos produzidos. Assim, enquanto que uma resposta imunitária forte poderá suprimir completamente a capacidade de replicação do vírus, uma resposta imunitária fraca poderá promover a formação de estirpes resistentes. Como foi referido anteriormente, qualquer um destes tipos de resposta poderá estar associado a anticorpos neutralizantes induzidos por infeção ou por vacinação.

Acresce ainda que além da capacidade de produção de anticorpos neutralizantes, também a carga viral é importante para o resultado final no nosso combate à agressão pelo vírus. Como é fácil de perceber, uma elevada taxa de produção de anticorpos está associada a um sucesso elevado na neutralização do vírus agressor, quer estejamos perante uma alta ou uma baixa carga viral. Por outro lado, uma fraca resposta imunitária (como, por exemplo, nos doentes imunodeprimidos), com baixa produção de anticorpos, estará associada a uma baixa probabilidade de neutralização do vírus, em particular, se estivermos perante uma alta carga viral. Nestas circunstâncias, a probabilidade de desenvolvimento de novas variantes é mais elevada.

Por forma a garantir a máxima proteção e a redução do risco de desenvolvimento de novas variantes, é muito importante que o processo de vacinação decorra de acordo com as orientações do Laboratório produtor e a evidência resultante dos estudos científicos. A administração das vacinas, cuja eficácia máxima é obtida em duas doses, deverá ser feita respeitando o intervalo de tempo máximo entre as duas doses, por duas razões: ainda que sejam produzidos anticorpos neutralizantes após a primeira dose, a sua produção é fortemente potenciada pela segunda dose; quanto mais tempo se prolongar entre a administração da primeira e da segunda dose, maior é o risco de se contrair infeção. Nestas circunstâncias, devido à baixa concentração de anticorpos, como se explicou acima, é mais elevada a probabilidade de serem produzidas estirpes resistentes. Em situações de surtos comunitários não é raro que ocorra infeção de cidadãos no período entre a administração das duas doses da vacina. É por esta razão que se recomenda a manutenção de todas as restantes medidas de prevenção. Teoricamente, a política de adiamento da segunda dose da vacina, seguida no Reino Unido, poderá aumentar a probabilidade de emergência de novas estirpes resistentes. Aliás, já foi detetada recentemente uma nova variante da estirpe B.1.1.7 em que a modificação operada na proteína S é considerada uma marca de resistência aos anticorpos neutralizantes.

As duas vacinas mRNA aprovadas para uso na Europa e nos EUA (da Pfizer-BioNTech e da Moderna) têm uma eficácia semelhante, quer na prevenção, quer na hospitalização ou na morte por Covid-19, mas, desconhece-se a sua eficácia nas novas variantes. Contudo, alguma evidência recente sugere que a vacina da Moderna mantém a capacidade neutralizante contra a variante do Reino Unido (a B.1.1.7) mas é menos eficaz contra a variante sul-africana. Os resultados da análise pós-vacinação, em Israel, sugerem que a vacina da Pfizer-BioNTech é eficaz contra a variante do Reino Unido. As vacinas da Janssen/Johnson & Johnson e da Novavax mostraram variabilidade de proteção consoante as populações vacinadas. A sua eficácia foi menor na África do Sul o que sugere baixa eficácia contra a variante sul africana (a B.1.351). Estas duas últimas vacinas utilizam uma tecnologia diferente das mRNA. A vacina da Johnson & Johnson, como se referiu acima, é de toma única e usa um adenovírus como vetor viral. A Novavax é baseada no antigénio derivado da proteína S, sintetizada por tecnologia recombinante.

5 Esclarecendo algumas dúvidas

A vacinação para a Covid-19 tem suscitado algumas dúvidas e questões pertinentes, cuja resposta nem sempre é baseada na evidência científica, por ela ser escassa. Muita informação tem sido divulgada com base em experiências pessoais e em opinião de peritos, o que constitui apenas Classe V de evidência científica, em pequenos estudos científicos ou por analogia. No entanto, à medida que decorre o processo de vacinação, em particular, a partir da experiência de Israel, tem sido possível obter informação científica mais robusta o que tem permitido a algumas instituições internacionais, como seja o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), emitir algumas orientações, como sejam:

De acordo com os conhecimentos científicos atuais, as doses das vacinas não deverão ser misturadas, ou seja, a segunda dose da vacina deverá ser da mesma marca comercial da primeira dose.

  • Não há contra-indicação para que pessoas imunodeprimidas, seja por sofrerem de doença imunológica ou de cancro ou por estarem medicadas com fármacos imunossupressores, sejam vacinadas contra a Covid-19. A capacidade de resposta imunitária à vacina é que ainda não é conhecida.
  • Segundo o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, a Sociedade Americana de Medicina Fetal e Materna e o CDC, não há razão para que as mulheres grávidas e a amamentar não sejam vacinadas. Porém, não há evidência científica de eficácia e sobretudo, de segurança, neste grupo de cidadãos, porque a par dos jovens menores de 16 anos, não foram incluídos nos diversos estudos científicos.
  • A vacina não deverá ser administrada a cidadãos com alergia conhecida a algum dos componentes da vacina. Contudo, uma alergia ligeira conhecida, não relacionada com os componentes da vacina, não constitui contra-indicação para que seja administrada. Diferente é a situação de cidadãos com antecedentes de reações alérgicas graves, como sejam reações anafiláticas. Nestas circunstâncias é necessário ser-se mais cuidadoso e deverá dispor-se dos recursos necessários para tratamento em caso de reação alérgica grave, razão porque a Direção Geral da Saúde (DGS) determina que estes cidadãos sejam vacinados em ambiente hospitalar.
  • Os cidadãos que já tiveram Covid-19 podem e devem ser vacinados. A diferença é que a sua vacinação poderá ser diferida no tempo porque a infeção conferiu-lhes imunidade que se estima seja, pelo menos, por 3 meses. Por esta razão não há necessidade de serem vacinados de imediato e atendendo à escassez de vacinas disponíveis, será sensato vacinar prioritariamente os cidadãos incluídos em grupos de maior risco. Acresce ainda que estes cidadãos poderão vir a necessitar apenas de uma dose de vacina, como é sugerido num estudo científico preliminar feito na Universidade de Maryland. Contudo, atualmente não há qualquer recomendação para que seja administrada uma dose única pelo que deverão seguir-se as mesmas regras aplicadas aos cidadãos sem infeção prévia por SARS-CoV-2.
  • As pessoas que contraíram Covid-19 após a primeira dose da vacina deverão fazer a segunda dose na data que estava prevista inicialmente. Esta circunstância poderá ocorrer porque após a primeira dose da vacina, a produção de anticorpos não é imediata. Regra geral, começa a obter-se algum grau de proteção apenas cerca de 2 semanas após a administração da primeira dose.
  • De acordo com os conhecimentos científicos atuais, as doses das vacinas não deverão ser misturadas, ou seja, a segunda dose da vacina deverá ser da mesma marca comercial da primeira dose. Teoricamente é possível que a mistura de vacinas possa aumentar a proteção contra a Covid-19. Estão em curso estudos para avaliar essa eficácia, mas, de momento, não há dados disponíveis que suportem o uso de vacinas diferentes na mesma pessoa, pelo que pelo princípio da precaução, não deverão ser misturadas.
  • Desconhecemos quanto tempo durará a imunidade induzida pelas vacinas. As pessoas incluídas nos estudos de fase 3 irão permanecer em follow-up durante dois anos, o que nos permite já saber hoje que a imunidade persiste, pelo menos, por seis meses. Se o SARS-CoV-2 persistir ativo na comunidade, provavelmente, iremos necessitar de fazer revacinação, como acontece com a generalidade das vacinas disponíveis para a prevenção de outras infeções. A medição dos níveis de anticorpos circulantes, como está a popularizar-se, não acrescenta qualquer vantagem porque a capacidade de resposta imunitária, mesmo na ausência de anticorpos, poderá estar presente, devido à ação dos linfócitos T de memória.
  • As pessoas vacinadas, pelo princípio da precaução, deverão continuar a adotar todas as medidas adicionais de prevenção (distanciamento físico, boa ventilação dos espaços fechados, etiqueta respiratória, uso de máscara facial, etc.). O CDC também deu orientações para que as pessoas vacinadas, passadas 2 semanas depois de terem recebido a segunda dose da vacina e nos três meses seguintes, deixem de necessitar fazer quarentena, em caso de contato com doentes com Covid-19. Em Portugal, as orientações da DGS são diferentes. Nos termos do Nº 7 da Norma Nº 19/2020, atualizada a 11/02/2021, pelo princípio da precaução, aplicam-se às pessoas vacinadas contra a COVID-19 as mesmas regras que se aplicam às não vacinadas.

Em resumo:

  • Os cidadãos vacinados, mesmo que venham a ficar infetados, é muito menos provável que desenvolvam doença grave, que sejam hospitalizadas ou que morram. A evidência científica preliminar também sugere que mesmo sendo infetados, representam um risco baixo de transmissão da infeção.
  • Os estudos de pós-vacinação já feitos em Israel, no Reino Unido e nos EUA revelaram que as duas doses da vacina Pfizer-BioNTech ou da Moderna foram eficazes em 86% a 92% dos vacinados, na prevenção da infeção assintomática e sintomática. Também ficou provado que os cidadãos vacinados, se infetados por SARS-CoV-2, tinham uma carga viral significativamente inferior à observada nos cidadãos infetados e não vacinados, o que poderá indicar uma menor transmissibilidade.
  • No que se refere às pessoas vacinadas, o CDC sugere que possam partilhar alguma atividade comum, como seja uma refeição ou uma reunião familiar em ambiente privado, sem uso de máscara ou distanciamento físico. Recomenda, contudo, que se estas atividades forem feitas com a presença de pessoas não vacinadas estas deverão manter o uso de máscara e o distanciamento físico.
  • O CDC recomenda ainda que todas as pessoas, vacinadas ou não, deverão manter o uso de máscara e o distanciamento físico, quando em público ou na presença de pessoas em risco de contraírem formas graves de Covid-19. Deverão continuar a evitar participar em grandes reuniões e fazer deslocações desnecessárias.