Nas eleições europeias do último Domingo estrearam-se três novos partidos que se procuram posicionar no espaço não socialista: Aliança (liderado por Pedro Santana Lopes), Iniciativa Liberal (liderado por Carlos Guimarães Pinto) e Chega (liderado por André Ventura e que se apresentou a eleições integrado na coligação Basta com PPM e PPV/CDC). Segue-se uma breve análise dos seus resultados e perspectivas para o futuro.

Entre os três, o Aliança foi o mais votado, com 1,9% a nível nacional, mas também a maior desilusão. Com um ex primeiro-ministro como líder, bastante mais exposição mediática do que os restantes pequenos partidos, uma campanha profissional e com bastantes recursos e um cabeça de lista às europeias (Paulo Sande) com boa imagem e boa preparação, o Aliança fica ainda assim longe de eleger e abaixo dos 2%. O resultado é tanto menos animador num contexto em que o PSD regista uma profunda crise e um dos piores resultados da sua história. A tentativa de dividir o PSD e afirmar um novo partido à direita falhou, pelo menos para já.

Em termos objectivos, a votação obtida pelo Aliança não fecha a porta à possibilidade de eleger deputados nas legislativas de Outubro. Ainda assim, considerando o ponto de partida nestas eleições europeias em que o partido investiu bastante e beneficiou do excelente desempenho de Paulo Sande, é difícil perspectivar que o Aliança possa ter uma dinâmica de crescimento e afirmação maiores até lá.

Sem caras mediáticas e com uma campanha energética muito centrada nas redes sociais (a única opção para quem tem para já pouco espaço nos media tradicionais), o Iniciativa Liberal obteve 0,9% na sua estreia. Um resultado muito aquém do necessário não só para fazer eleger o cabeça de lista Ricardo Arroja, mas também para ter possibilidade de eleger deputados em legislativas.

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Com um perfil eleitoral essencialmente urbano, os resultados superiores a 1% nos distritos de Lisboa e no Porto abrem perspectivas um pouco mais favoráveis do que o total nacional, mas ficaram ainda assim claramente abaixo dos obtidos por Aliança e Basta. O facto de o partido e os seus protagonistas terem ainda muito baixos níveis de reconhecimento entre o eleitorado sugere que pode haver uma margem de progressão significativa, mas a IL precisará de aumentar significativamente o número de votos para entrar no Parlamento em Outubro.

A terceira nova força no espaço não socialista, o Basta, teve a trajectória mais atribulada (o próprio nome da coligação resulta de problemas com a regularização do novo partido Chega), mas conseguiu ainda assim um promissor resultado nacional de 1,5%. Centrado na figura de André Ventura — um líder com alguma exposição por via da CMTV e da sua trajectória anterior no PSD — o partido apresenta um potencial de crescimento significativo, em especial no distrito de Lisboa (ao contrário do que aconteceu com Aliança e IL, o Basta teve uma votação muito melhor em Lisboa do que no Porto).

Se por um lado a trajectória atribulada e a campanha pouco consistente (André Ventura chegou a faltar a um debate político para cumprir obrigações de comentário desportivo na CMTV) terão prejudicado o resultado, por outro sugerem que pode haver uma ampla margem de melhoria com uma campanha competente. Como Jaime Nogueira Pinto tem vindo a realçar, André Ventura e o seu movimento são, até agora, os melhores candidatos a ocupar um terreno político que em outros países se tem revelado fértil. Se Ventura terá a arte, persistência e consistência intelectual para o fazer é uma questão que continua em aberto, mas os resultados das europeias sugerem que o potencial eleitoral existe, em especial em Lisboa (onde tanto os 2,2% do Basta como os 2,8% do Livre e os 2,9% do Aliança abrem, em teoria, algumas perspectivas de eleição de pelo menos um deputado em legislativas).

Duas notas finais sobre outros casos de novos partidos no passado e sobre os efeitos dos novos partidos no PSD e no CDS.

Relativamente a novos partidos, Portugal tem sido um cenário em que é muito difícil a sua afirmação sustentada. O caso mais bem sucedido é o do Bloco de Esquerda mas que, importa recordar, resulta da fusão de partidos previamente existentes (o próprio Francisco Louçã falhou várias vezes a tentativa de se fazer eleger deputado pelo PSR). É verdade que o PAN começou com cerca de 1% há 10 anos e está hoje numa aparente trajectória de consolidação, mas não é menos verdade que o Livre de Rui Tavares se estreou nas eleições europeias de 2014 com uma votação global superior a 2% e falhou na eleição de deputados nas legislativas de 2015.

Quanto a efeitos dos novos partidos à direita, não é razoável admitir que todos os votos nos novos partidos teriam, na ausência destes, ido para PSD ou CDS. Uma parte dos pouco mais de 4% de eleitores portugueses que votou no Aliança, Iniciativa Liberal ou Basta teria certamente optado pela abstenção ou então por outro partido que não PSD ou CDS. Ainda assim, o máximo que se poderá afirmar é que PSD e CDS poderiam ter elegido mais um eurodeputado cada, mas sem deixarem de ter resultados historicamente muito maus. Os novos partidos no espaço não socialista poderão ser (também) sintomas da crise e fraca capacidade de mobilização de PSD e CDS, mas não são os responsáveis pelos seus maus resultados eleitorais.