1 Portugal é um país que se considera um país aberto a novos povos e culturas e que inclusivamente se orgulha da excelência do seu acolhimento aos que nos procuram vindos de fora.

Mas um olhar para o terreno demonstra a enorme contradição entre o que proclamamos no discurso político e o calvário vivido pela comunidade imigrante em Portugal. Das condições de vida sub-humanas a que muitos dos trabalhadores estrangeiros estão sujeitos no nosso país, até à impossibilidade prática de recorrer ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para tratar de autorizações de residência ou de reagrupamento familiar, os trabalhadores estrangeiros vivem um verdadeiro inferno.

Visto ao espelho, o Portugal campeão do acolhimento e dos direitos humanos está a transformar-se, na realidade, num país permissivo à violação dos mais básicos direitos humanos, facilitando o tráfico de seres humanos, o trabalho escravo e a separação familiar.

Se o desempenho do SEF já levantava as maiores dúvidas, tudo piorou depois de ter sido anunciado que esta força policial era para encerrar. Após este anúncio, o lema deste serviço passou a ser: quanto pior, melhor. Na realidade o SEF está a sacrificar as comunidades imigrantes, sujeitando-as à humilhação e à miséria humana, como forma de protesto por uma decisão política que já está anunciada mas não tem data para se concretizar.

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2 A capital da Websummit tem claros problemas de adaptação ao novo mundo tecnológico. Muitas vezes chegamos mesmo a duvidar que as novas tecnologias tenham vindo para nos facilitar a vida.

Na mesma semana em que setenta mil adeptos da economia moderna invadiram, e bem, a cidade, acentuou-se o embuste do suposto serviço eficiente dos novos táxis (transportes particulares requisitados através de plataformas digitais). Chamar um destes transportes revela-se cada vez mais uma aposta falhada. O desejado transporte que está quase a chegar, 2 a 3 minutos, passa a demorar 15 minutos e assim se continua, muitas vezes, numa espera infinita, enquanto na plataforma vemos o dito transporte fácil e rápido, parado, sem se mexer, a poucos metros do local onde nos encontramos. Não sei o que está a levar ao declínio desta invenção tecnológica, são muitas as explicações que circulam, mas o que é certo é que o velhinho táxi tradicional surge cada vez mais como a melhor opção se queremos chegar a horas ao nosso destino.

Os meios de mobilidade suave estão a transformar-se noutro problema sério para a capital da Websummit. Trotinetes e bicicletas que aterraram na nossa vida para tornar a cidade mais habitável e com melhor qualidade de vida, sobretudo do ponto de vista ambiental, começam a ser vistas como uma barreira intransponível para quem quer circular na cidade e estão até a gerar um problema ambiental sério. O amontoado destes veículos nos passeios públicos da cidade e mesmo no fundo do rio, transforma a mobilidade suave numa fonte de problemas e de poluição acrescida na cidade. O risco é que cidadãos e autarcas comecem a encarar a mobilidade suave como um inimigo. Tudo ao contrário do que devia estar a acontecer.

3 António Costa foi buscar Miguel Alves à Câmara de Caminha para o vir ajudar a governar melhor. Miguel Alves chegou a São Bento com uma mala cheia de trapalhadas e suspeitas de gestão danosa na autarquia que liderou nos últimos anos. O Primeiro-ministro esperava, com a ajuda do seu novo colaborador no Governo, perder menos tempo com casos e casinhos. Na realidade, não tem feito outra coisa que não seja defender o seu novo Secretário de Estado.

A coisa está de tal forma, que a melhor ajuda que Miguel Alves pode dar a António Costa, é sair rapidamente e pelo seu pé do executivo em que acabou de entrar. É melhor dizer já que afinal se enganou, do que continuar a queimar-se e ao Primeiro-ministro, num caminho penoso que não terá outro final que não seja o da demissão.

O Governo que apostou tudo na profissionalização da comunicação mostra, com a gestão deste caso, que ainda tem muito que andar para fazer o básico: perceber que, nesta situação, a única coisa a fazer é afastar um Secretário de Estado antes que o caso contamine o chefe do Governo.