O secretário de Estado Adjunto da Energia, João Galamba, está na berlinda, depois de ter sido recebido em Boticas por populares em protesto contra a exploração do lítio. O que, por acaso, acho injusto. A opção do governo de António Costa de explorar o lítio parece-me bem mais razoável que a estratégia do ex-primeiro-ministro do PS, José Sócrates, que ia no sentido de explorar, não tanto o lítio do país, mas mais os cobres da mãe. Mais do que no leve metal, o — digamos — engenheiro estava era focado no vil metal. Já para não referir que Sócrates ignorou olimpicamente qualquer estudo sobre a sustentabilidade desse seu projecto: em menos de nada, terá esgotado por completo os recursos daquela verdadeira mina que seria a herança da sua mãe.

Bom, mas com o lítio Portugal tem a possibilidade de, depois de décadas a depender do petróleo e dos países que o produzem, passar a confiar numa matéria-prima que extraímos do nosso próprio território para obtermos energia. Ou seja, deixamos de estar dependentes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo — a OPEP — e passamos a confiar na DPEL, a Desorganização do nosso País Extractor de Lítio. Portanto, tudo aponta para um futuro radioso. Pelo menos enquanto continuarmos a importar o petróleo necessário para fazer funcionar as fábricas que produzirão baterias de lítio, que por sua vez permitirão que o futuro brilhe intensamente.

Agora, é evidente que ter extensas reservas de lítio é óptimo. Aliás, Portugal é o sexto país do mundo com mais reservas de lítio. Possuir esta abundância de um recurso natural tão valioso é estupendo. Como se comprova, por exemplo, pelo caso de sucesso que é o país com mais reservas de petróleo do planeta, a Venezuela. País junto do qual, aliás, os saudosos ministros de Sócrates, Pino e Lino, recolheram preciosos ensinamentos sobre como gerir as riquezas de uma nação. Felizmente, o ex-ministro da Administração Interna de Sócrates, António Costa, nunca ouviu sequer falar de nenhum desses estadistas. Pois se o homem era responsável por administrar internamente, como é que ia saber alguma coisa do que se estava a administrar externamente, ainda por cima na América do Sul, que chega a ser longíssimo?

O primeiro-ministro nunca ouviu falar destes indivíduos e por pouco não ouvia falar os deputados da Iniciativa Liberal, Chega e Livre no primeiro debate quinzenal da legislatura. Só mesmo em cima da hora é que os três deputados tiveram autorização para interpelar António Costa. Fez-se justiça, porque também já era um pouco de mais. Primeiro, foram os serviços da Assembleia da República a sentarem-nos onde bem entenderam. Depois, foi o slalom que André Ventura teve de fazer, pelo meio da bancada do CDS, para chegar ao seu lugar. E agora, no primeiro debate quinzenal, queriam desligar-lhes os microfones para não conseguirem falar com o primeiro-ministro. Terá tudo isto sido parte da praxe para deputados de novos partidos, ou assim? Na volta, no dia da sessão de abertura do Parlamento, aquele rapaz assessor da deputada do Livre foi mas é obrigado e vestir-se de senhora. Pelo sim, pelo não, nas próximas semanas ficarei sintonizado no Canal Parlamento. Não é todos os dias que se vê deputados só terem autorização para voltar para casa depois de limparem as bancadas do hemiciclo com uma escova de dentes e descobrirem todos os Passos Perdidos. Pobres dos três traumatizados tribunos.

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