Sei que Portugal tem mais que fazer. Sei que há́ uma deputada nova muito polémica que tem um assessor que vai de saia para o Parlamento. Sei que o treinador do Porto usou vocabulário pouco adequado. Sei que há́ novelas novas. Peço desculpa aos que gostam de temas mais ligeiros por vir falar de um tema, à partida, pouco atrativo. Faço-o porque respeita à organização de vida de muitos portugueses e, no geral, a toda a comunidade nacional, nomeadamente aos que pagam impostos.

Acontece que a opção que está em causa tem influência na vida de milhões de pessoas e vai ter durante décadas. Mais de 3⁄4 dos passageiros que procuram o Aeroporto de Lisboa, são oriundos da margem norte do Tejo.

Só́ essa razão deverá pesar muito. E a proximidade de Alverca, com ferrovia mesmo “à porta”, que dista um quarto de hora da Portela, é um argumento de peso.
A Segurança e o Ambiente — nomeadamente a questão do ruído — são os bens mais valiosos a proteger. E importa perguntar em qual das opções os aviões de longo curso e de maior dimensão ficarão na Portela e sobrevoarão Lisboa e os charters e o médio curso ficarão no novo? Na opção do Montijo, exatamente.

Acresce a intermodalidade: Alverca, para além da Portela, tem a CREL, é perto da Gare do Oriente, de Santa Apolónia, do Metro, entre outros.

Tem-se falado, nos últimos dias, em Portugal e no estrangeiro, da possibilidade de inundação devido à subida gradual do nível das águas. Mas deve ser ponderado outro argumento maior de outra realidade que já hoje se verifica e impossível de ultrapassar na solução VINCI.

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Refiro-me ao fenómeno “ondas de calor” originado pelas alterações climáticas Esse fenómeno implica que os aviões precisem de pistas mais extensas na descolagem, pelo que as atuais devem ser prolongadas. O assunto não é mais falado, pelo que me foi dito, porque HUBs noutros locais mais quentes (Lisboa também o é) já ampliaram pelo menos uma das pistas.

Na solução VINCI, o aeroporto da Portela só terá́ uma pista e o aeroporto do Montijo também só́ teria uma, o que aconselharia (por estarem desligadas) o prolongamento de ambas.

Em 9 de Abril, a ALIANÇA convidou os profissionais da Comunicação Social a sobrevoar a base de Alverca. Antes, a 28 de Março, tínhamos visitado aquela Infraestrutura e confirmado as excecionais condições para a finalidade que interessa. Não falamos em nome de qualquer grupo de interesses, não temos terrenos num lado nem noutro, não gostamos de tomar parte em querelas facciosas que normalmente são procuradas por quem tem pouco que fazer.

Temos insistido nesta causa, porque nos parecem óbvios os argumentos contra a opção Montijo e também óbvios os que sustentam a opção de Alverca.

Estamos perante uma decisão que respeita, e muito, ao interesse nacional. Envolve a organização da comunidade nas suas várias componentes com realce para a económica, condiciona e/ou determina vários investimentos públicos, influencia muitos investimentos privados, tem obvias consequências ambientais, tem efeitos na mobilidade e do tempo disponível dos Portugueses e também dos estrangeiros que nos visitam, em turismo ou em trabalho.

É difícil convencer todos que esta tomada de posição é despida de interesse partidário. Mas garanto que é a preocupação com um erro que, depois, será́ irreversível, que me motiva a reiterar este apelo veemente à reponderação do processo.

É inaceitável o argumento de que importa menos a decisão porque é o concessionário da exploração dos aeroportos quem paga o investimento.

Na verdade, tendo consequências tão gravosas na economia nacional e na vida de tantas pessoas durante tantos anos, é quase indiferente saber quem paga. De um modo ou de outro, serão os Portugueses a pagar o erro (se ele se concretizar).

Voltando ao início: desculpem interromper um dia-a-dia com um assunto diferente dos que habitualmente inundam o quotidiano deste País. Se pensarmos bem, há temas de que poucos falam e que pouco tempo ocupam no espaço informativo, que são muito importantes para muitos e muitos Portugueses.

Várias personalidades, cuja opinião é respeitada, têm manifestado a sua divergência ou as suas dúvidas, também nas páginas e na antena do Observador. Ainda vamos a tempo. Haja humildade e bom senso. O novo Parlamento tem o dever de criar, com urgência, uma Comissão Eventual para esclarecer este assunto, em todas as suas vertentes. É o mínimo que se exige.