Num artigo recente João Pedro Marques (JPM) ataca um texto que escrevi no Diário de Notícias em defesa de Grada Kilomba. Contudo JPM labora num lamentável erro moral, não percebe o português simples dos artigos jornalísticos e tem um inconfundível dom de nunca defender a comunidade Negra portuguesa e de sempre se pronunciar contra a defesa dos seus direitos.

Mas vamos por partes. O erro moral explicado com uma fábula. Imaginemos que um historiador medíocre apresentava a concurso uma obra sobre Portugal e não era escolhido. Aparentemente tudo estaria certo. Imaginemos agora que um dos jurados escrevia na sua declaração de voto que lhe tinha atribuído um zero porque “a barba branca é sinal de senilidade” e acrescentava que o “tema já foi suficientemente explorado” por outros autores. Naturalmente que, independentemente da qualidade da obra, a questão passava a ser a da igualdade de oportunidades entre concorrentes e a poluição da decisão final por um preconceito pessoal de um dos jurados. Nestas circunstâncias a denuncia do concurso passa a ser um imperativo moral. Para que seja corrigido e que a contenda se processe dentro das regras éticas absolutamente necessárias, para que seja verdadeiramente um concurso e não uma brincadeira de mau gosto. Concorda? Percebe ao menos qual o plano da minha defesa de Grada Kilomba no concurso desvirtuado pela ação de um jurado? Não se trata de defender que a artista merece ganhar, trata-se de defender que merece, como todos nós, um concurso justo e não viciado. Como aqueles em que não ganhou e, corretamente, não protestou.

Segundo ponto: perceber o português simples. Em nenhum ponto do meu artigo afirmo ou defendo que Grada Kilomba merecia ganhar. Não sei o suficiente de arte para fazer julgamentos e na verdade não conheço sequer as obras que com ela competiam. O que defendo é que o concurso deve ser justo e isento de preconceitos. Quando o for que ganhe o melhor.

Assim o seu ridículo repto de que eu teria de demonstrar que Grada Kilomba merecia ganhar é absurdo por falhar o alvo, mas qual boomerang volta-lhe às mãos, porque defendendo que o concurso foi correto, quando está aos olhos de tantos que o não foi, é a si que cumpriria a demonstração de que não merecia a vitória. Mas a dificuldade com a lógica não lhe permitiu perceber os seus próprios argumentos.

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Quanto a panegíricos, uma palavra que não entra no português simples e que substituirei por elogios exagerados, não os encontros pois os que refere não são elogios são factos biográficos facilmente comprováveis pela leitura dos jornais.

Sendo um indivíduo que, nas suas palavras, “não ignoro que há racistas no nosso país” e que até “pontualmente esse seu racismo pode levar a coisas sérias e graves”, nunca a sua voz se levantou nesses casos e pelo contrário surge sempre a vociferar contra os antirracistas. Porque será? Qual a explicação mais racional? Como historiador como classificaria a obra de uma personagem com esse perfil? Faria a palavra racista parte de uma tal classificação? Ou classificá-lo-ia simplesmente como contrário aos antirracistas? Mas se antirracistas são contra o racismo, quem são os que se opõem aos antirracistas? Serão os racistas? Como escreveu Brecht “tantas questões”.

Um pedido. Se, porventura, quiser responder a este meu texto, agradeço que o leia pelo menos cinco vezes e sublinhe os principais argumentos. Assim evita cair duas vezes no erro de me atribuir declarações que não faço. Antecipadamente grato.

Subscrevo-me atentamente

Um indignado antirracista de plantão,

Jorge Fonseca de Almeida