As decisões resultantes da maratona negocial visando a indicação das personalidades que irão ocupar os postos cimeiros da União Europeia não corresponderam à esperança com que António Costa saiu de Lisboa. De facto, o condutor da geringonça interna alimentava a ideia de que o modelo podia ser replicável a nível comunitário.

Enganou-se rotundamente, uma vez que o grupo da sua família política apenas conseguiu a indicação do alto representante para as relações externas, Josep Borrel, e do primeiro vice-Presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans. Por isso, Costa deu conta da sua desilusão. A regra da vida habitual sempre que as decisões não vão ao encontro dos cenários por si traçados como ideais.

Desta vez, a nível comunitário, não foi possível ao líder do PS transformar a derrota em vitória. Pelo menos no que diz respeito à indicação das personalidades para os cargos, uma vez que, no que se refere a Ursula von der Leyen, ainda há cartuchos para gastar. A sua indicação está longe de consensual, mesmo entre os membros do grupo do Partido Popular Europeu (PPE) a começar pelo ainda Presidente, Jean Claude Juncker, que se juntou às vozes discordantes ao falar em falta de transparência.

Um processo a acompanhar, embora sejam ténues ou nulas as esperanças socialistas de reverterem a decisão que entregou ao PPE a indicação da Presidente da Comissão Europeia. Por isso, os olhos de António Costa já se viraram noutra direção. Ou melhor, reposicionaram-se de forma a acautelarem o futuro próximo. Aquele que importa garantir. Chegou o tempo do plano B, a letra inicial da palavra «Bom».

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Assim, a luta virou baterias para a distribuição dos pelouros na futura Comissão Europeia. Há que apostar na obtenção de uma pasta suscetível de agradar a Portugal e, obviamente, ao Governo do PS. O nome do Comissário não é coisa de grande monta. Não falta quem esteja disposto a seguir as recomendações costistas. O posto é suficientemente atrativo. A questão fulcral prende-se com o pelouro.

Não parece abusivo dizer que o Governo já elaborou a sua lista de prioridades. A circunstância de não haver nomes portugueses na liderança dos principais órgãos comunitários pode contribuir para aumentar o capital reivindicativo de Lisboa. Por isso, a pasta da Política Regional seria bem recebida. Afinal, é ela que controla os Fundos Estruturais e quando se fala de Fundos os milhões provocam sorrisos esperançosos. A ideia de que os Fundos representam uma espécie de poço sem fundo volta a iluminar não apenas o Governo. Os grupos de interesse e de pressão já esfregam as mãos de contentamento.

Atores que também não ficariam desiludidos se Portugal passasse a chefiar a pasta do Ambiente, das Pescas e dos Assuntos Marítimos. Como os resultados eleitorais provaram, o Ambiente tornou-se num tema incontornável. Deixou de se circunscrever às manifestações esporádico-folclóricas de grupos ambientalistas. Tornou-se uma questão global. Um sorvedouro ou um mealheiro de votos. Além disso, tudo o que se prende com o Mar e com a economia marítima é fundamental para Portugal, apesar da tradicional política de vistas curtas que transforma em quase pedinte o dono do tesouro.

Pena que, a nível comunitário, não vigore o modelo português que fez de Assunção Cristas a titular do ministério da Agricultura e do Mar. Seria, malgrado o desconforto do PAN, «matar dois coelhos com uma cajadada». Por falar em Agricultura, António Costa também não enjeitaria o pelouro da Agricultura e Desenvolvimento Rural. Uma daquelas pastas onde a retórica e os fundos gastos não encontram tradução num real desenvolvimento. Por isso, em Portugal, os dados mostram um alarmante recuo demográfico no mundo rural.

Como se percebe, a maratona negocial está longe de ter terminado. Os próximos dias vão ser exigentes para o Governo de António Costa. Transformar a desilusão em ambição não é tarefa fácil. Até porque carrega uma mágoa profunda. Gostaria de mais manifestações de afeto dos portugueses. Assim, tipo Professor Marcelo.

Não percebe essa ausência depois de ter assumido que tinha sido convidado para um cargo de topo da União Europeia, mas que o patriotismo tinha falado mais alto. Recusou-se a desertar de Portugal e os portugueses não lhe agradecem o sacrifício.

Querem ver que os ingratos estavam desejosos de o ver pelas costas?! Ainda bem que o apelido é no singular. Tipo Costa do Castelo. Coisa para consumo interno.