Abracadastro! António Costa anda com o ar assarapantado de uma criança que acaba de assistir a um fantástico truque de magia que consistiu em fazer desaparecer o seu brinquedo predileto, mas para sempre. É um misto de espanto e terror, que se repete de cada vez que lhe revelam as tropelias em que os seus governantes participam. Costa é uma espécie de Sísifo, condenado a empurrar novos membros do governo encosta acima, só para os ver resvalar ladeira abaixo mal se ouve a abertura do telejornal.

Enfim, não está a passar uma boa fase. Numa pessoa comum, dir-se-ia que é apenas um problema pessoal. Como é Primeiro-Ministro, constata-se que tem é um problema de pessoal. Está com grande dificuldade em contratar gente para o Governo. A quantidade de novos membros do Governo que se revelam desadequados é exagerada até para os padrões de um país habituado às convocatórias de Fernando Santos. António Costa não sabe escolher. Aposto que era aquele tipo que, a ver o “Agora escolha!”, se no Bloco A estivesse os empolgantes “Soldados da Fortuna”, optava antes por um desenxabido episódio de “Um anjo na Terra” no Bloco B, com o maçador do Michael Landon.

É evidente que Costa tem de ser mais rigoroso no processo de selecção. Por exemplo, devia exigir uma carta de referências aos candidatos, com a avaliação dos antigos patrões. O problema é que, quando se fala em referências ao tipo de pessoas procuradas para este Governo, elas julgam que são as referências do multibanco, para receberem pagamentos.

António Costa também deve repensar as questões que lhes coloca. Não vale a pena perguntar: “Sra. Secretária de Estado, alguma vez praticou um acto eticamente reprovável?” É estar a assumir que a entrevistada sabe o que é “ética”. Seria o mesmo que perguntar: “Alguma vez atropelou o Pai Natal de propósito?” Para ficar a saber se a secretária de Estado é séria, tem de se pedir para mostrar que números tem em speed dial. Se lá estiver o advogado, o contabilista, o gestor de conta e o agente de viagens, é melhor não nomear.

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A velocidade a que os membros do Governo são despachados contribui para a degradação da política nacional. Não há políticos que bastem para dar vazão. É cada vez mais difícil arranjar alguém competente para trabalhar. Agora, já nem conseguimos aquele governante que, como o povo diz, “rouba, mas faz”; não, hoje estamos limitados ao bastante menos consolador “talvez um dia até faça, mas rouba”.

Se António Costa quer deixar de ser surpreendido com revelações escandalosas sobre os membros do Governo, só há uma solução: submeter os candidatos aos grupos de mães do Facebook. Ao nível de avaliação e selecção de aspirantes a um cargo, estão lá as maiores especialistas do país. Está bem que se trata de aspirantes a empregadas domésticas, mas os critérios de admissão são muito mais escrupulosos do que os requisitos de Costa para o Governo. Quando uma mãe pergunta se alguém conhece o trabalho da Ludmila, moldava de 47 anos, aparecem dezenas de respostas a garantir que cozinha muito bem, embora passe mal a roupa, especialmente camisas de homem. Ou a assegurar que tem muito jeito com crianças, mas menos com o aspirador. A informação está toda lá. Nunca ninguém saiu de um chat de mães sem a certeza de ter encontrado a empregada certa – e, de bónus, com uma dica para alivar cólicas em bebés.

Outra hipótese, mais ousada, é centralizar a contratação de governantes num bordel. Nesses estabelecimentos, as meretrizes passeiam-se quase sem roupa, para não esconderem nada que possa vir a surpreender o cliente. Nesta analogia, os potenciais secretários de Estado andariam metaforicamente descascados, para Costa os examinar com minúcia, de preferência enquanto lhes paga uma taça de champanhe. Para mais tarde não encontrar uma indemnização choruda quando estava à espera de um normal acordo de rescisão. Em vez de Elefante Branco, o lupanar podia chamar-se Um Dia Alguém Daqui Vai Financiar Um Elefante Branco.

Enquanto o Primeiro-Ministro não tem o tal mecanismo de selecção de membros do Governo, podia-se ao menos ajudá-lo a não ser apanhado na curva sempre que sai uma notícia sobre as marotices de um subalterno. Da mesma forma que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera emite alertas quando a costa vai ser fustigada pelo mau tempo, pode haver alertas para quando o Costa vai sofrer pelas más nomeações. Todas as segundas-feiras, o PM recebe o boletim para a semana. Alerta Amarelo se há apenas 3 ou 4 incompatibilidades no horizonte; Alerta Laranja se o Ministério Público se prepara para fazer buscas em casa de um ministro; Alerta Vermelho se o Correio da Manhã dobrou a encomenda de papel. São avisos igualmente emitidos por um IPMA, o Instituto de Prevenção de Ministros Aldrabões.