A polémica com o ranking das escolas mostra bem o estado da Educação em Portugal. Não por causa do ranking em si, mas pelo facto de se dizer “ranking” e não “lista”, “classificação” ou “hierarquia”, algumas das várias palavras em português que podem substituir com eficácia o termo em estrangeiro.

Esta observação pretensiosa era tudo o que tinha para dizer sobre o tema. Só que, entretanto, ouvi o ministro da Educação a queixar-se dos rankings. O que, em si, não é bem uma novidade. Não devemos esquecer que foi Tiago Brandão Rodrigues quem, no confinamento de Janeiro, impediu as escolas privadas de darem aulas online, prejudicando todos os alunos por igual. É óbvio que não gosta de comparações entre estabelecimentos de ensino, prefere nivelar por baixo. Aliás, não deve gostar de comparações no geral. O que se percebe, uma vez que é frequentemente considerado o pior ministro da Educação desde a alfabetização dos Suevos. Para Brandão Rodrigues, o único ranking aceitável é a tabela classificativa de um campeonato de futebol antes da primeira jornada. Quando estão todos empatados. Com zero pontos.

Segundo o ministro: “É uma pena se estes rankings forem utilizados única e simplesmente por uma questão de marketing das instituições de ensino.” Foi esta a afirmação que me chamou a atenção. Quando Brandão Rodrigues fala em marketing, devemos tomar nota. Afinal, trata-se do ministro que, de Março a Junho do ano passado, foi oito vezes à televisão garantir que todos os alunos teriam acesso a computadores com ligação à internet se fosse necessário confinar outra vez. Investiu tudo nos anúncios e nada no produto. Se isto não é um especialista em propaganda, eu não sou um especialista em generalizações simplistas.

Mas Brandão Rodrigues acerta ao levantar a questão do marketing. É, reconheça-se, um factor de desigualdade entre o ensino público e o ensino privado. Enquanto as escolas públicas não precisam de fazer publicidade, já que sabem que vão ter sempre gente, as privadas percebem que têm de se promover, caso contrário não atraem alunos e acabam por fechar.

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De qualquer modo, não faria sentido uma escola pública recorrer ao marketing. Por melhor que seja, só podem frequentá-la os alunos que moram ao lado. Para quê anunciar um produto que não está disponível? É como fazer publicidade num supermercado venezuelano. Neste aspecto, o ranking é realmente cruel para os alunos que frequentam o ensino público. Mostra que há escolas públicas boas, mas eles não as podem frequentar porque têm o azar de viver mais perto de uma escola pior.

Os críticos dos rankings contestam a utilidade da hierarquização das escolas consoante os exames. Só que, habitualmente, também contestam a utilidade dos exames. O que gera a dúvida: se não dão importância aos exames, porque é que os chateia que haja quem dê? É o mesmo que um ateu aborrecer-se com uma beata que avalia como superiores os poderes milagreiros de Santo António em relação aos de São Francisco de Assis. Estes críticos acham positivo haver menos informação disponível. O que, paradoxalmente, os devia fazer apreciar o ranking: mostra as escolas de onde as crianças saem com menos informação.

Apesar de tudo, o ministro tem razão. As notas não devem ser os únicos indicadores para avaliar as escolas. Há outras perspectivas a ter em conta e o ranking ignora-as. Por exemplo, na passada 5ª feira, véspera da publicação do ranking, houve greve de trabalhadores do Estado e o meu enteado, que frequenta uma escola pública, ficou sem aulas. Isto, quando está a meio da época de exames. Mesmo a calhar. Concordei logo com Brandão Rodrigues: este ranking é incompleto. Faz falta outro com os dias de aulas que se perdem por causa de greves. E um com os dias de aulas que se perdem quando o professor está de baixa e o Ministério demora 6 meses a substituí-lo. E um com os dias de aulas que se perdem porque não há material informático para lições online.

No entanto, sou sensível aos argumentos de quem é contra rankings escolares. Também eu, em estudante, fui vítima de listas que elencavam avaliações. Nomeadamente, das coligidas pelas colegas que davam notas à aparência dos rapazes da turma e que, com uma regularidade impressionante, me deixavam sempre no fundo da tabela. Quer no colégio, quer no liceu. O achincalhamento foi o mesmo. Independentemente de os meus pais pagarem ou não mensalidade, independentemente de haver padres no recreio ou haver traficantes no recreio, a minha capacidade para repugnar membros do sexo oposto foi transversal à escola pública e à privada. Se, na altura, os rankings não tivessem sido tornados públicos, teria sofrido menos? Talvez. Mas seria fraco consolo, já que teria continuado a não ter sorte nenhuma com raparigas.