Não podemos dizer que não fomos alertados. A 4 de Outubro de 2015, acabado de votar nas eleições legislativas, António Costa disse aos jornalistas: “É como quando era estudante, o exame está feito, resta aguardar pelo resultado”. Nessa mesma noite, após perceber que tinha chumbado, perdendo para Passos Coelho, Costa avisou que ia formar Governo à mesma. Mostrou aí o quanto se estava a borrifar para o resultado de exames. Foi o início.

A 27 de Novembro, um dia depois da tomada de posse desse Governo, a maioria parlamentar de esquerda votou a favor às propostas do BE e do PCP e acabou com os exames nacionais no 4º Ano, contra o conselho da Sociedade Portuguesa de Matemática. Simbolicamente, a primeira medida de Educação de António Costa foi tomada pela extrema-esquerda.

Na altura, ficou famosa uma tirada de Catarina Martins sobre os alunos serem sujeitos a exames na escola. A coordenadora do BE disse que preferia crianças que dessem gargalhadas a crianças cujos conhecimentos fossem testados. Uma declaração premonitória.

Passados cinco anos, o resultado das medidas de aligeiramento de exigência na Educação é haver imensas crianças a rir. Não são é as crianças portuguesas. É que saíram os resultados do TIMMS – Trends in International Mathematics and Science Study relativos a 2019 e os alunos portugueses caíram 16 pontos e 7 lugares no ranking da Matemática, em relação a 2015. As crianças estrangeiras que ultrapassaram as nossas estão a rir-se às gargalhadas. Subiram na classificação e nem foi preciso esforçarem-se, as nossas é que pioraram. Sim, o facilitismo facilitou.

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Não quero ser injusto e dizer que isto é tudo culpa do Governo. É óbvio que as dificuldades a Matemática não são de agora, têm décadas. Por exemplo, João Costa, Sec. de Estado da Educação, afirmou que os péssimos resultados do TIMSS se devem às políticas do anterior Ministro da Educação, Nuno Crato. Ora, se soubesse subtrair, teria percebido que alunos que em 2018/19 terminaram o 4º ano, frequentaram o 3º em 17/18, fizeram o 2º em 16/17 e o 1º em 15/16. Ou seja, começaram o ensino básico em 2015. Que foi, justamente, o ano em que entraram em vigor as políticas do Governo ao qual João Costa pertence. Coitado de Costa. Se ao menos tivesse usado os dedos. Como é evidente, as dificuldades que o Sec. de Estado tem num cálculo tão simples não podem ser assacadas ao Ministro Tiago Brandão Rodrigues, uma vez que João Costa tem 48 anos. Fui verificar: os ministros da Educação em funções quando Costa andou no ensino primário foram Mário Sottomayor Cardia, Carlos Lloyd Braga, Valente de Oliveira, Luís Veiga da Cunha e Vítor Crespo. São eles os responsáveis pela nabice matemática de João Costa. Há tempos, na desastrosa intervenção no caso dos dois irmãos e das aulas de Cidadania, percebeu-se que João Costa não presta contas; pelos vistos, também não presta para contas.

Felizmente, nem tudo está mal com o Governo e o ensino da Matemática. Esta semana tivemos uma óptima notícia, no âmbito da Educação de Adultos. O Ministro Pedro Nuno Santos conseguiu aprender aritmética! E nem foi preciso ir à escola, bastou-lhe visitar uma companhia aérea. Foi comovente, vê-lo a dizer coisas como “a TAP tem mais 19% de pilotos por avião e mais 28% de tripulantes por avião do que a maior parte dos concorrentes” ou “foram identificados 2000 trabalhadores que não são necessários para a operação (…) Temos de reduzir efectivos, mas também fazer uma redução salarial até 25%”, afirmações para as quais é preciso fazer alguns cálculos.

No fundo, é o velho método de ensino que consiste em dar 5 euros à criança e perguntar-lhe quantos ovos consegue comprar, se cada dúzia custa 2 euros. Só que, em vez de uma nota e ovos, é com 3 mil milhões de euros e uma empresa gigante em dificuldades. Mas o procedimento é o mesmo: junta um molho de moedas, adquire uma dúzia de ovos ou paga um salário; junta outro molho, nova dúzia ou novo salário; e por aí fora. Quando acabam as moedas, acabam os ovos ou os salários. Pedro Nuno Santos aprendeu quantos ovos a TAP vai poder comprar. Tiago Brandão Rodrigues pode ser um grande académico e ter uma equipa recheada com génios, mas a realidade continua a ser melhor a ensinar Matemática.

A sorte das crianças que sabem cada vez menos de Matemática é que, quando forem adultos, não vão conseguir interpretar aqueles gráficos que mostram que estamos na cauda da Europa.

P.S.: A semana passada foi paradigmática do que é este Governo. Começou com a consequência de deixar a política de Educação nas mãos da esquerda radical; continuou com o choque entre o Ministro mais ideológico e as limitações da vida real; e acabou com Eduardo Cabrita a (entre outras coisas) gabar-se de ser o responsável por não terem morrido civis em incêndios desde 2018, admitindo implicitamente que a culpa dos mais de 100 que morreram em 2017 foi do Governo. O facto desta performance não ter levado ao seu despedimento explica-se por Cabrita ser um grande amigo do PM e já se saber que António Costa prefere a amizade à competência. Isso, sim, é matemático.