Peguei numa revista de 2013 (Evasões) com as 100 melhores ideias de Portugal (ar livre, sabores, hotéis e muito mais). Fiz um fine tuning para a restauração e street food. Recolhi as propostas da altura e fui perceber se, passados exatamente 6 anos sobre esta coletânea, as mesmas empresas ainda se mantinham vivas e qual a sua prosperidade.

Tudo isto tem a ver com a conversa corrente de que abrem muitos negócios no canal HORECA – Hotéis, Restaurantes e Cafés – por mês e ano mas que, igualmente, muitos fecham. O foco da brevíssima análise foram as propostas de empresas de alimentação. Há certamente números oficiais para isto e que atestarão esta dinâmica de que tanto se fala. Não obstante, o propósito era precisamente perceber, para aquilo que a Evasões considerou serem efetivamente boas ideias há 6 anos, quantas e quais permaneciam vivas, enquanto negócio e em que estado, fazendo uso de uma aproximação – bem sei – mais que simplista.

Na categoria Street Food, uma área que deu os primeiros passos precisamente no início da década de 2010 em Portugal, fui ver A Comida de Rua, a roulotte A Barriga a Dar Horas, A Erva no Martim Moniz, a Vantini (carrinha dos gelados Santini), A Bom Dia Lisboa, A Hot Dog Lovers, A Pizza à Pezzi e a Nata.

A Comida de Rua são sandwiches com talento português e o conceito move-se por zonas do Porto. Há três carrinhas (motos carroçadas, Piaggio, com “car back” para a zona alimentar) a servir sandwiches em três locais do Porto. Em Lisboa não consegui reconhecer presença embora já tivesse sido anunciada. No Google há pontuações que remetem para uma média de 4,3 estrelas. O conceito continua, portanto, vivo e ativo. E os locais para parquear são, diga-se, atrativos para a cidade do Porto.

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A roulotte a Barriga a dar Horas continua a funcionar na capital. Ao pé de Santa Apolónia e sem forma de avaliação da satisfação on-line, ou off-line, parece estar a funcionar bem. Localização privilegiada e alimentação na noite parecem ser receitas para o sucesso.

A Erva, no Martim Moniz, onde podia beber chás, comer um gaspacho, por exemplo, ou provar um veggie burger fechou em permanência. Estará resolvido, presume-se, o problema do nome já que existe, atualmente, o Erva, restaurante, na Columbano Bordalo Pinheiro.

A Bom Dia Lisboa, que estava ativa na altura (2013) e a entregar pequenos almoços em algumas estações de Metro de Lisboa, e que por acaso tinha como um dos grandes mentores um ex-aluno meu, também já não está em operação. A propósito disto tive oportunidade de escrever no passado sobre a bondade da ideia e fiz um pequeno caso de estudo sobre a situação da Bom Dia Lisboa e perspetivas futuras.

A Hot Dog Lovers, na Av. da Liberdade, continua ativa. Avaliação de 4 estrelas no Google. E, como o nome indica, comem-se cachorros e bebem-se umas imperiais. Localização, de novo, a marcar pontos.

A Pizza à Pezzi oferece umas boas pizzas e, mais ainda, na D. Pedro V, ou seja, com uma forte centralidade face à noite da capital. A localização, de novo, a fazer diferenças. 4,3 estrelas, em média, é a pontuação que se apanha no Google.

A Nata, ou a Nata Lisboa, que em bom rigor já está por todo o país, é um sucesso assinalável na venda de pastéis de nata. Pontuação média de 4,4 estrelas no Google.

Ou seja, das 8 ideias de Portugal para comida de rua, duas encerraram portas. 25% fechou e 75% continua em atividade e bem. Não espelha a grande movimentação nestas áreas da comida de rua mas, também, já seria expectável um score interessante dado que a revista que os escolheu os tinha eleito como boas ideias.

E, como em tudo o que é retalho (e em particular street food), pode-se concluir que o diferencial competitivo reside (também) na localização. A verificar o mote “location, location, location”.

Na categoria Restaurantes apareciam nomes como o Conceitus Winery, a Cantina da Estrela, o Condestável, a Canastra Azul, o Peisheirada, o Sol em Sol, o Sol e Pesca, o Essência, o Soundwich, o Babete Gastrobar, a Taberna Esperança e o Pop-up Vila Joya.

O Conceitus Winery está vivo e recomenda-se. Continua atividade em Covas do Douro (Sabrosa) com a sua magnífica vista e onde continua a ser possível o cliente levar a própria garrafa de vinho sem taxa de rolha. Os peixes de rio continuam a criar os maiores apetites. O Conceitus aparece com uma classificação média de 4,0 estrelas no Tripadvisor. O preço continua a ser quem mais penaliza a avaliação.

A Cantina da Estrela, na Escola de Turismo de Lisboa, vai-se reinventando a cada fornada de alunos. Os alunos continuam a ser avaliados pelos clientes e este é, sem dúvida, um modelo interessantíssimo de aprendizagem on-job. No Zomato aparece com uma classificação de 4,1 estrelas. É claramente um modelo ganhador pela ideia e possibilidade de alunos interagirem com mercado. E, aos potenciais clientes desconhecedores, uma oportunidade a não perder porque está aberto a público como restaurante normal. Fica na Saraiva de Carvalho, em Lisboa. E vale a pena interagir com alunos de uma escola de Turismo na sua vertente aplicacional.

O Condestável, de Luís Suspiro, no Cartaxo, continua atrativo e polivalente. Valem as refeições e as organizações para grupos. Aparece com poucas avaliações no TripAdvisor e com uma média de 3,5 estrelas. Valerá mais que isto, até pelos seus 20 anos de experiência. Continua a ser marcado pelo conceito de passar ao cliente o valor da sua refeição. Ou seja, não há preços. Os clientes pagam o que acham justo. Atravessou a crise assim e assim fez o seu percurso.

O Canastra Azul está irremediavelmente fechada. Datava de 1936 e tinha como ideia base, também, cobrar o que o cliente quisesse “dar”. Para além de restaurante era um local de tertúlia de Lisboa. Era, digo bem, pois fechou.

O Peisheirada, com uma média de 3,8 estrelas no Zomato e 4,0 estrelas no Google continua aberto e de boa saúde, ao que se sabe. A centralidade conta (Largo do Rato) e o Sushi faz as honras da casa.

O Sol em Sol é um restaurante solar ao ar livre. O reflexo da luz solar cozinha os alimentos e torna-o um show cooking. Tem 4,5 estrelas no TripAdvisor. Está a norte, no Porto.

O Sole e Pesca funciona numa antiga loja de artigos de pesca. A cavala, o atum, o polvo, a sardinha, a enguia e os mariscos fazem as honras da casa. Com muitas avaliações pode-se admitir a sua consistência e qualidade ao espelhar um 4,5 estrelas no TripAdvisor.

O Essência é um restaurante essencialmente (passo a redundância) vegetariano. Mas é flexível pois permite que se coma carne e peixe. Ou seja, reúne todos os gostos num único local. E é isso que o tem tornado diferente. Localizado a norte, no Porto, aparece no TripAdvisor com 4,5 estrelas e uma série longa de avaliações. Consistente e a confirmar a qualidade e a importância da polivalência.

O Soundwich, ou a sandocha gourmet, funciona também no Porto. São oferecidas sandwiches com assinaturas de alguns chefs conceituados. Na altura prometia chegar à capital. Ao que se saiba não chegou. A pontuação média de 3,5 estrelas no TripAdvisor não lhe é a mais favorável mas a ideia continua a funcionar em pleno.

O Babete Gastrobar, de inspiração no botequim brasileiro, continua também ativo com largo número de classificações e um rating de 4,0 estrelas no TripAdvisor. Cachaça e rodízio de carnes fazem as honras da casa.

O Pop-up Vila Joya, no Tivoli de Seteais, continua igualmente ativo. O restaurante continua a ser explorado debaixo do ascendente das estrelas Michelin do Vila Joya de Vila Galé, Albufeira. Não se vislumbra uma classificação específica para o Pop-up… apenas para o Vila Joya.

Finalmente, o Taberna da Esperança que, ao conseguir uma simbiose entre um ambiente trendy e remakes saudosistas está em linha com as tendências mais atuais em termos de cosmopolitismo. O passado, a marcar a decoração, e a comida caseira, a marcar a alimentação, fazem pequenos milagres. Haja esperança. E está com um rating de 4,5 e muitas avaliações via Google.

All in all, em 12 boas ideias de restauração apenas uma deixou de estar ativa. Uma taxa de insucesso de apenas 8,33%.

Três conclusões podem ser retiradas desde exercício breve. A primeira é que há negócios e ideias que duram para além do abre e fecha de que tanto se fala nas propostas de alimentação. A segunda é a de que o fator chave de sucesso, para street food mas, não menos, para os restaurantes em geral (tal como para todo o retalho) é a localização. E a localização sobrepõe-se, sabe-se, à ideia  — para uma qualidade que cumpra mínimos. A terceira conclusão é que há aqui algumas ideias interessantes mas nada de muito extraordinário. Quase sempre procura proporcionar-se uma experiência e, isso mesmo, é o que trabalham estas propostas de restauração. Em linha com o que os mercados esperam, estou em crer que não é tanto a ideia mas a consistência dessa ideia que, no fundo, se transfere para uma experiência positiva.

Uma última conclusão reside no trabalho da Evasões de 2013. Já eram chamadas boas ideias e tinham sido classificadas, na altura, como melhores ideias. Mas a linha que separa “melhores” ideias de localização e capacidade para proporcionar experiências é ténue. Muito ténue.

No final, almoce ou jante no restaurante, ou coma fora em street food, porque os mercados alimentares precisam muito deste hábito continuado do ir “fora” para se desenvolverem.