Dizia Benjamin Franklin que o “investimento no conhecimento rende os melhores juros”. Não podia concordar mais. Para um país que quer apostar em “fábricas de unicórnios” e promover-se como um destino atrativo para investimento no ecossistema das startups, persiste uma lacuna na nossa sociedade que urge ser colmatada: a educação para o empreendedorismo.

Não é que o nosso país tenha falta de espírito empreendedor, pelo contrário. De acordo com a Startup Genome de 2021, Lisboa arrecada um notável 17.º lugar no top 100 de ecossistemas emergentes a nível global. No entanto, muitos dos que investem na criação de startups são o que se denomina de “first-time founders”, o que, apesar de corroborar as boas ideias que se geram no panorama nacional, reflete também a ausência dos chamados “serial founders”, empreendedores com experiência – sendo que esta maturidade, ou falta dela, associada à incapacidade de retenção de talento em Portugal, dão a nota mais baixa à capital neste parâmetro de classificação.

Este, acredito, é o ponto de partida para uma maior e melhor dinamização deste ecossistema inovador, e para cimentarmos de uma vez por todas o nosso valor enquanto um país disruptivo. Como é largamente sabido, quanto mais educado um país for, mais saudável a sua economia se tornará. O estudo “Entrepreneurship in Education” da Comissão Europeia salienta a necessidade de “aumentar a sensibilização para a educação empresarial enquanto abordagem pedagógica relevante para todos os estudantes, e em todos os níveis de ensino”. Acrescentaria, ao longo de toda a vida.

Uma articulação entre o ecossistema de startups, fundadores e investidores, e o sistema de ensino pode ser uma alavanca para o desenvolvimento de competências impulsionadoras do espírito empreendedor, contribuindo para fixar o talento nacional.

Aqui entra também a “cultura de falhar”. É essencial aprender com quem já trilhou um caminho, onde naturalmente falhou antes de singrar. Por isto, um programa de mentoria, que alie os que agora iniciam esta aventura aos empreendedores em série ativos no nosso país, será fundamental. Valorizados pelas capitais de risco, a experiência destes últimos já os levou a falhar várias vezes; já apresentaram inúmeros pitches para as suas ideias, sabendo exatamente o que destacar e como puxar pelo apelo dos produtos; sabem já como montar e gerir equipas, conseguindo discernir os vários tipos de perfis indicados para começar uma startup; e ainda têm, em muitos casos, importantes redes de contactos – sendo todos estes ativos cruciais para quem procura integrar estas áreas de negócio e singrar enquanto empreendedor.

Sem falharmos, não saberemos o que poderíamos ter feito melhor. Estarmos imbuídos na ideia de que tudo tem que sair bem à primeira é apenas prejudicial. Numa perspetiva de desenvolvimento empresarial em Portugal, normalizemos o errar, o tentar e falhar, e equipemos os nossos jovens com esta mentalidade. Como diria Samuel Beckett, se falharmos, “No matter. Try again. Fail again. Fail better.” Já mostrámos que temos ideias, ambição e espírito para singrar enquanto empreendedores – mas, só investindo realmente nas gerações vindouras, conseguiremos gerar o retorno que procuramos para a nossa economia.

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