A pandemia da COVID-19 veio colocar a descoberto muitas fragilidades dos nossos sistemas: de saúde, na sua globalidade, social e educativo, que foram mostrando resiliência e criatividade. Controlado o primeiro impacto e acomodados os desafios provocados pela onda inicial que, para ser enfrentada com seriedade e robustez apelou a que fossem tomadas medidas excecionais e de consequências ainda a apurar, seria de esperar que, com mais calma, surgissem soluções para problemas ainda não resolvidos.

A nível do ensino superior nas áreas da saúde, uma componente de enorme importância para a formação dos futuros profissionais da “linha da frente”, passa por estágios de natureza prática em contextos de unidades de cuidados hospitalares e outros. No ensino de enfermagem, por exemplo, a Diretiva 2005/36/CE assinala no ponto 3 do art.º 31, que na formação inicial, o ensino clínico terá necessariamente “…pelo menos metade da duração mínima da formação” (p. 40).

Ora, passada a primeira fase do combate a este terrível flagelo, que nos assolou avassaladoramente e obrigou, na falta de alternativas e conhecimento diferenciado, ao confinamento generalizado de quase todos os “não absolutamente essenciais”, adiando as aulas de natureza clínica, anteciparíamos um regresso à nova normalidade, isto é, à nossa vida, com cuidados acrescidos. Ao contrário, parece que as instituições de saúde estão receosas em autorizar que os estudantes regressem, no tempo previsto, aos seus locais de ensino clínico.

Importa, pois, analisar a eventual argumentação ponto por ponto, por forma a ponderar a sua razoabilidade e que parece entroncar em dois pontos. Uma primeira dimensão, eventualmente a de maior importância, terá que ver com o aumento do afluxo de pessoas que isso acarreta. Sendo verdade, não se tratam de quaisquer pessoas, mas de estudantes que já passaram por um processo formativo teórico e teórico-prático de altíssima qualidade, como é comummente reconhecido, mais ou menos longo e que têm supervisão, pelo que deverão ter uma consideração diferente. Se a questão passa pelo acompanhamento, já que há diferentes modelos, então que se discutam. Uma outra vertente relaciona-se com o aumento dos gastos, nomeadamente em Equipamento de Proteção Individual (EPI). Também aqui, sendo lógico que os estudantes, por princípio, não estejam em contacto direto com os doentes Covid-19, nos restantes, o EPI será o básico. Mesmo assim, se isso é um acréscimo significativo na despesa, que se discuta.

O que não se pode é, do meu ponto de vista, estar a empurrar com a barriga para a frente, arranjando alternativas que não conduzem aos mesmos resultados, aqueles que a sociedade espera, defraudar legítimas expectativas de quem apostou em cursos tão necessários, mas não isentos de risco, como as profissões que lhes sucedem.

Conforme diz e bem, o nosso Primeiro-Ministro, António Costa, o “país não aguenta um novo confinamento e o inverno tem de ser preparado já”. Vamos então encontrar as melhores soluções, também aqui, para que isso não aconteça e retomemos as atividades necessárias onde elas têm de ocorrer.

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