O Presidents Club Charity Dinner é um clube londrino só para homens que organiza anualmente um jantar de angariação de fundos para caridade. O clube foi notícia nas últimas semanas porque uma jornalista do Financial Times “infiltrada” revelou que o serviço do jantar anual era assegurado por “hospedeiras” vestidas com roupa preta e saltos altos. Foi o escândalo. No meio da confusão que se seguiu, a agência que contratou as mulheres e o hotel onde decorreu o jantar vieram pedir desculpa e garantir que não sabiam de nada. A presidente da comissão inglesa para a Igualdade repreendeu publicamente o senhor Nadhim Zahawi, ministro da Educação, por este ter estado no jantar (parece que saiu a correr às 21h35, quando as mulheres apareceram, mas isso não lhe serviu de nada). A primeira-ministra Theresa May declarou-se chocada. O secretário do clube demitiu-se. E os hospitais que beneficiavam da angariação de fundos anunciaram que iriam devolver o dinheiro (dois milhões de euros).

No meio da gritaria, ninguém se mostrou interessado em saber o que pensavam do assunto as mulheres do Presidents Club. De acordo com o próprio Financial Times, muitas delas são estudantes, actrizes, bailarinas, modelos. Dir-se-ia gente capaz de decidir a própria vida. Não entendem assim as novas activistas feministas, para quem as mulheres que aceitam a “objectificação” (como as hospedeiras do ridículo jantar do Presidents Club) sofrem de “misoginia interiorizada” (que é a versão feminista do proletário alienado pelo capitalismo). Não são verdadeiramente conscientes, não sabem o que fazem nem o que lhes convém e devem ser salvas. Se necessário, contra a sua própria vontade. Se necessário, e porque assim impõe o sentido correcto da História, com o seu próprio sacrifício.

Não exagero. Sally Howard, uma jornalista feminista que vive no Exmouth Market, uma zona trendy e carérrima de Londres, admitiu por estes dias na BBC ser “necessário” que estas mulheres percam o seu trabalho: “em todas as mudanças sociais”, explicou, “há pessoas que sofrem”. Sally Howard é a típica representante da esquerda “de causas”: faz jornalismo sobre assuntos “de género”, escreveu um livro sobre as violações na Índia intitulado “Os diários do Kama Sutra” e está a fazer um mestrado em “Género e Desenvolvimento”. A frase dita na BBC mostra que também leu o seu Lenine. E que as pessoas lhe não interessam para nada.

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