Numa era em que a globalização da informação e da comunicação faz parte da nossa rotina diária, parece-me importante refletir sobre esta temática em contexto escolar. De facto, os audiovisuais entraram em força na escola e interferem direta ou indiretamente na sala de aula, potenciando a aquisição de conhecimento. Sabemos que os alunos, sob o ponto de vista das aprendizagens, estão confinados a um contexto educacional limitado pelos programas curriculares. Justifica-se, portanto, a necessidade de se criar métodos pedagógicos inovadores nas escolas, focados em novas alternativas de aprendizagem ativa, através do contacto com as Tecnologias de Informação e Comunicação, com os media e o audiovisual. Se nestes métodos pudermos trabalhar a inteligência emocional dos alunos, tanto melhor.

A minha experiência leva-me a acreditar que, quando os alunos aprendem a conhecer e gerir as próprias emoções, estão a contribuir significativamente para o seu sucesso escolar, profissional e pessoal. A ideia de trabalhar as emoções nas minhas aulas de inglês surgiu há uns anos, quando me dei conta que a maioria dos meus alunos estava emocionalmente desconectada da disciplina. De facto, senti que as metodologias tradicionais que adotava, por mais variadas que fossem, já não eram suficientes para garantir a atenção e aprendizagem dos alunos (o telemóvel, as redes sociais e os media pareciam ganhar terreno em termos de interesse para os alunos). Deparei-me então com a árdua tarefa de estimular nestes jovens a vontade de se interessarem também pela disciplina sem menosprezar o gosto pelas tecnologias. Mas como? Associando emoção à informação. Quem de nós nunca ouviu uma música que nos transportou para o passado? O mesmo acontece com um perfume ou um paladar que, em algum momento da nossa vida, nos fez recordar um momento específico. Isso acontece porque a eles associamos uma emoção, seja ela boa ou má.

Ora, no caso dos meus alunos desmotivados, procurei saber o que despertava as suas emoções. E de que maneira poderia associá-las às tecnologias de que tanto gostavam. Nesse contexto, pedi-lhes que me dissessem o que tornaria as aulas mais interessantes e que estratégias os deixariam predispostos a aprender a língua inglesa, ou eventualmente a gostar da disciplina. A maioria respondeu: “Podemos ver filmes em inglês, mas com legendas!” (note-se que até mesmo vendo filmes o esforço destes adolescentes em aprender era mínimo). A esta sugestão respondi, quase que irrefletidamente: “E se fossem vocês os protagonistas de um filme?”. Nesse instante, ficaram todos a olhar para mim, incrédulos com tamanho disparate que, na cabeça deles, eu tinha acabado de proferir. Mesmo assim, não desisti da ideia. Se o cinema lhes despertava emoções, se lhes servia de motivação indo ao encontro dos seus interesses, se era uma forma de os cativar e ajudá-los a aprender, porque não tirar proveito disso?

Na verdade, a linguagem cinematográfica potencia a aquisição de conhecimento sobre o mundo, influenciando a forma de pensar e de estar. Através do som e da imagem, é possível inovar a expressão e comunicação de valores, ideias e conceitos, possibilitando a divulgação de informação e conteúdos de uma forma mais direta, dinâmica e abrangente. Nesse sentido, criei um projeto ligado ao cinema, a que chamei de “Cinearte”, no qual os alunos trabalham conteúdos curriculares de forma interventiva e participativa, tendo como pano de fundo os valores da cidadania global. Neste projeto, os jovens criam situações de vida real, elaboram guiões em inglês e apresentam soluções para várias problemáticas através da representação cinematográfica (com especial enfoque sobre a empatia e as emoções). Não foi tarefa fácil envolver as turmas na realização da primeira curta-metragem, ainda que a título experimental — ou porque os alunos revelavam timidez, ou simplesmente por acharem que não eram capazes. Foi a muito custo que consegui convencer um pequeno grupo de alunos a serem os protagonistas do primeiro filme. Curiosamente, e para surpresa de todos, a curta ganhou um concurso nacional. Afinal, tínhamos aqui habilidades e talentos escondidos que precisavam de ser descobertos e fomentados. Afinal, esse grupo de alunos, que timidamente abraçou o desafio, acabou por demonstrar o que era capaz de fazer dando o exemplo aos restantes colegas. A autoestima e autoconfiança destes jovens dispararam. A vontade de fazer mais filmes em inglês também. Na verdade, foi a partir dessa primeira curta-metragem que eu, enquanto agente de mudança, fui conseguindo despertar nos meus alunos o gosto pela língua inglesa.

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O fim último destes projetos fílmicos é contribuir para o sucesso escolar dos alunos. Mas os projetos pretendem ser, acima de tudo, transformadores numa dimensão humanista. Quando estes jovens e crianças conseguem aliar as suas competências cognitivas e tecnológicas às artísticas e socio-emocionais, quando estão disponíveis para ouvir, aprender e colaborar, estão naturalmente a tornar-se pessoas mais informadas, responsáveis e solidárias. É também essa a missão da Educação.

Professora de inglês, coordenadora do Clube Cinearte, Clube Europeu e Projeto ECG – Educação para a Cidadania Global/UNESCO, na Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares. Finalista do Global Teacher Prize Portugal 2019

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.