“O sol,” observou o cantor, “marcou encontro com a lua.”  É uma opinião. Acontece a todos tê-las; há assim as nossas e as dos outros. As dos outros nem sempre são as nossas, e as nossas são às vezes só nossas; e não temos opiniões sobre a maior parte das coisas: embora possamos ter opiniões sobre qualquer coisa. Normalmente não temos que lidar com as opiniões dos outros; mas há casos em que temos.  Esses casos levantam dificuldades práticas. Como lidar com as opiniões dos outros?

Ocorrerá a alguns de nós a ideia de fazer barulhos exactamente iguais às opiniões que não são as nossas; ou a ideia de substituir por um acto atlético de vontade as nossas opiniões por opiniões mais do agrado dos outros, que segregaremos na nossa glândula prudencial. São más ideias e expedientes de resultado incerto. O sacrifício das opiniões que temos às opiniões que não temos não é um método auspicioso. Suster indefinidamente a respiração não é uma cura eficaz para a asma.

Há modos mais particulares de lidar com as opiniões dos outros.  Alguns não são legais em muitos países e por isso não podem ser universalmente recomendados. Outros, que ocorrem principalmente em países de tipo diferente, são: avisar gravemente os outros de que as suas opiniões não são boas; fazer propaganda das nossas opiniões; ficar calado a respeito de opiniões diferentes das nossas.

Não são também bons modos. Os outros raras vezes reagem bem a avisos de que as suas opiniões possam não ser excelentes; querer avisá-los disso é como enfeitar uma corcunda; conseguimos durante uns tempos, e depois somos lembrados dos nossos limites por uma almofada ou umas flores que escorregam.  Também não reagem bem a acções de propaganda; a propaganda de opiniões agrada apenas a quem já tem essas opiniões, e em especial a quem faz a propaganda. Finalmente, ficar calados nas nossas opiniões é ficar conservados numa solução de azedume e reservas mentais; faz mal a quem se cala e bem a quem devia estar calado.

Aos que recusam estas várias soluções e pretendem manter uma via legal só resta, quando a ocasião se proporciona, tornar explícitas as suas opiniões, compará-las com as dos outros, resolver com as suas opiniões os problemas que as opiniões dos outros não conseguem resolver bem, e, se for caso disso ou se a oportunidade se apresentar, explicar como lá se chegou. É por isso que a quem se interessa por estas dificuldades importa que haja sítios em que tais actividades possam ser realizadas sem azedume, sem propaganda, e sem apoteoses nem triunfos. Nesses sítios haverá opiniões diferentes sobre quase tudo; mas não é certo que lá se possa ou deva ter opiniões sobre o facto de os outros terem certas opiniões. Como os outros são mais ou menos como nós, o mais provável é que também tenham de as ter.

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