Que percurso assinalável, o de Francisco Assis. Em finais de 2015, o então eurodeputado do Partido Socialista foi a figura de proa de um potencial movimento com vista a excluir António Costa da liderança do PS, por este pretender formar governo com o apoio dos comunistas. Tão desafortunada como rapidamente, Assis constatou que, nesse projecto, acumulava a função de figura de proa com a de figura de urso, pois ficou mais isolado no intento que o Yuri Gagarin a bordo da Vostok 1. Ainda assim, na altura, o que lhe faltou em companhia sobrou-lhe em crédito de respeitabilidade.

Pouco mais de cinco anos volvidos, eis que Francisco Assis é agora líder do Conselho Económico e Social, cargo para o qual foi nomeado pelo PS de António Costa. E é como figura de proa do CES – suponho que, desta feita, já acompanhado por assinalável e dispendiosa tripulação – que Assis se arroga impulsionador de avanços civilizacionais da envergadura de uma permuta do antiquado vocábulo “desempregado”, por uma tão mais moderna “população desempregada”. O progresso é deveras assinalável. Menos na condição laboral, quer do desempregado em particular, quer da população desempregada em geral.

E este é apenas um exemplo do meritório trabalho a que o tal CES se propõe, em prol do avanço da Humanidade. Segundo percebi pela leitura do primeiro parágrafo e meio de um extenso artigo sobre a organização, altura em que fui acometido de irresistível oó, o Conselho Económico e Social promove, concerta e propõe, coisas, temas e assuntos. E talvez também sugira problemáticas, mas isto já não garanto se li, ou se sonhei. Bom, o que interessa é que o mais recente trabalho do CES é um documento com 16 páginas e uma série de sugestões, com o objetivo de tornar a linguagem “neutra e inclusiva”.

Nesta obra podemos encontrar outras pérolas do calibre da acima referida, tais como os “migrantes” passarem “a população migrante”, “os pensionistas” serem agora “a população pensionista”, e “os contribuintes” tornarem-se “a população contribuinte”. Segundo noticia o Observador, “A regra base é quase sempre a mesma: em vez de dar primazia ao género masculino, invariavelmente utilizado quando é necessário fazer generalizações, sugere-se que se transforme o substantivo em adjetivo e se lhe acrescente «a população» ou «as pessoas»”. Exacto. Em termos gramaticais a regra é esta. Já em termos ideológicos, a regra é começar em cada uma das pessoas – os contribuintes, por exemplo -, estripá-las logo da sua individualidade transformando-as numa “população”, e ir aplicando, sucessivamente, o mesmo método até se chegar ao desejável resultado final de “uma mole de átomos à deriva no cosmos sem qualquer espécie de propósito contribuinte”. Quer dizer, sem propósito é como quem diz. Com o exacto propósito para o qual foi esgalhado este plano, o de alimentar o Estado, como é óbvio.

Nada de novo, portanto. Apenas a costumeira manipulação da linguagem como arma de exercício do poder, em que a esquerda é useira a vezeira. No fundo é uma espécie de jogos florais. Só que, neste caso, a perícia no domínio da língua não é premiada com os 200 euros do 1º lugar nos Jogos Florais do Concelho de Alcanena 2021, mas com um muito menos materialista controlo totalitário da sociedade.

Felizmente, e para desenjoar, a esquerda progressista não está sempre a inventar palavras e expressões novas. Nos intervalos desta actividade, entretém-se a inventar novos significados para palavras que já existem. Como é o caso da palavra “racista”, hoje em dia definidora de todo aquele, ou aquela, que considera totalmente irrelevante a cor da pele de uma pessoa. Tipo Martin Luther King Jr. O quê, não me diga que não sabia desta actualização do dicionário? Ui, se o Francisco Assis sabe disso, cai-lhe em cima com toda a força do CES. Em cima de si e do Martin Luther King Jr.

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