Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de emigrantes que não vão conseguir voltar de férias no Verão?

Depois de umas rápidas três horas e meia de voo parece que não só saímos da Europa, mas viajámos no tempo e no espaço para um cenário diferente. Um mundo idílico em que o horizonte muda imediatamente: passa-se de um mar branco para um mar azul. Não estou a falar do nosso lindo Atlântico nem do FCP, mas da utilização de simples máscaras cirúrgicas em detrimento das mais seguras FFP2. Esta é a primeiro diferença de quem viaja da Alemanha e aterra no aeroporto Humberto Delgado em Lisboa. E a primeira pergunta é: porquê? Porque é que um país que actualmente enfrenta a altamente transmissível variante Delta permite um relaxamento nas medidas mais básicas de protecção individual e de terceiros?

Mas não há qualquer problema porque em Junho a pandemia terminou em Portugal. Pelo menos essa é a única conclusão possível de quem vê cafés com dezenas de pessoas durante os jogos de futebol. Não há distanciamento, não há controlos, mas felizmente há muita festa, álcool e abraços. Em países como a Alemanha, os restaurantes estiveram fechados durante meses e só no último trimestre começaram a abrir gradualmente: primeiro esplanadas e depois espaços fechados, mas sempre com a obrigação de apresentar um teste de antigénio negativo com menos de 24 horas. Se Portugal realmente queria e precisava de abrir tudo para reanimar a economia como é que não implementou uma rede de testagem gratuita para os seus cidadãos? Não será mais barato testar frequentemente do que permitir cadeias de contágios incontroláveis que voltam a fechar o país?

É também de apreciar a completa falta de controlo na entrada e saída de pessoas de lojas e centros comerciais. Noutros países da União Europeia não é possível entrar em qualquer estabelecimento comercial sem registo através de uma app ou sem preencher um documento. Numa altura em que o mundo vive agarrado aos telemóveis, uma app de tracing seria assim tão complicado? Mas Portugal não precisa disso porque a pandemia acabou.

A completa falta de estratégia para desconfinar com segurança e controlo, passando do 8 ao 80 é a razão por detrás do atual estado do país que, como já todos percebemos mas preferimos ignorar no dia a dia, só vai piorar daqui para a frente.

E agora, depois de um junho de forrobodó, chegamos ao final do mês com Portugal a começar a popular as listas vermelhas de outros países e a ver o Verão a ficar negro. Negro, porque tanto os estrangeiros como todos os emigrantes não podem vir para Portugal com o risco de ficarem duas semanas de quarentena quando voltarem (tal como a Alemanha anunciou recentemente).

Para os emigrantes que estão cá a solução é só uma: encher os bolsos das companhias aéreas para adiantar voos e reduzir a estadia (e investimento) no nosso país.

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