A decisão de manter as aulas presenciais é, provavelmente, o ponto mais polémico deste novo confinamento que irá durar 30 dias.

Falou-se, inicialmente, na hipótese de o confinamento abranger apenas alunos com mais de 12 anos. Posteriormente, constou que todos os alunos ficariam sem aulas presenciais neste período. Com alguma surpresa para muitas pessoas, a decisão final anunciada foi que todos os alunos, independentemente da idade, vão continuar a ter as aulas presenciais nas diversas escolas do país. São cerca de dois milhões de alunos que, diariamente, terão de se deslocar a pé, de carro ou em transporte público até às respectivas escolas.

O argumento que o Governo defende tem a ver com a paragem na aquisição de conhecimentos caso fiquem em casa. À primeira vista, este argumento parece ser razoável. Mas analisando melhor, são vários os fatores que apontam para que esta mesma decisão tenha sido precipitada e perigosa numa situação crítica como aquela que estamos a viver neste momento.

Pelo número elevado de estudantes e respectivos familiares que irão circular na via pública todos os dias e a ausência inevitável de distanciamento social no momento dos filhos saírem da escola, associado a uma provável má colocação da máscara em muitos casos, o risco de infeção entre os jovens é enorme.

Por outro lado, do ponto de vista científico, a Covid-19 na sua nova variante oriunda do Brasil, ou da Grã Bretanha, ou da África do Sul, está muito mais agressiva, com maior possibilidade de propagação. Ora, os estudantes são, na maior parte dos casos, portadores assintomáticos de Covid-19, aumentando a disseminação do vírus entre eles e as respectivas famílias. E não é feito um acompanhamento correcto aos agregados familiares em relação aos casos infectados pelo coronavírus – são realizados poucos testes, não sendo possível quebrar a cadeia de transmissão do vírus.

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A decisão de manter as aulas presenciais tem de ter por base a realidade atual. Não nos podemos nunca esquecer de olhar para os números diários de novos casos e mortes. De nos lembrarmos que estamos na fase mais crítica da pandemia. Que o vírus está com maior capacidade de infectar mais pessoas .

Portugal está numa fase de calamidade do ponto de vista de saúde pública. Se os estudantes ficarem um mês sem aulas presenciais, mas continuando a ter aulas por videoconferência, não ficariam assim tão prejudicados na sua aprendizagem. Ficar em casa, seria a decisão mais prudente!

O confinamento de um mês, com aulas a funcionar em pleno, irá não só aumentar o número de casos, como agravar, em  simultâneo, os problemas sociais e económicos, já de si numa situação muito difícil.

Há uma frase que se aplica neste momento de catástrofe. Numa situação especial como esta, temos de tomar medidas excepcionais. E a medida que deveria ter sido tomada, era a de fecharem também as escolas. O novo confinamento, com escolas abertas, infelizmente, será um desastre! O aumento de casos será a prova provada que, mais uma vez, perdemos mais uma oportunidade de controlar a infecção.

Se querem manter esta decisão de excepção à regra, devem fazer testes rápidos a todos os alunos, professores e auxiliares e incluí-los no grupo prioritário para serem vacinados. Devem começar por vacinar os professores e depois os estudantes, por ordem de idades, dos que terão maior risco de ser infectados para os de menor risco de contágio. Os doentes crónicos devem entrar sempre na primeira opção. São os mais vulneráveis e com maior risco de terem um pior prognóstico pela baixa imunidade que apresentam em muitos casos.

A pandemia é uma situação séria e grave. Não é, nem nunca foi, uma gripe. Temos de lidar com o vírus de uma forma inteligente, antecipando os problemas e tomando decisões sem ambiguidades. A pior decisão é criar desconfiança na população.

Todas as medidas excepcionais podem ser alteradas a qualquer momento. Com as aulas presenciais, estamos mais uma vez a ajudar o vírus, que necessita de pessoas para se propagar. E vão estar muitas à sua disposição neste confinamento.