Começa hoje.

E não, não é nenhum texto ideológico. Pelo menos no sentido do que o título possa sugerir. Até porque o meu pensamento é demasiado liberal e pró-mercado para poder secundar as ideias centrais comunistas. Respeito as ideias todas mas não será sobre elas que escrevo. É sobre a comparação do Avante com aquilo que se faz nas empresas. E pouco me importa, pois esse não é o meu papel, se isso contraria ou não a ideologia comunista.

1 – Em primeiro lugar a Festa do Avante vai para a 44.ª edição, presumo, pelo que são muitos anos a fazer festa. É, indiscutivelmente, um gerador de receita não despiciendo para os cofres partidários. Ou seja, há um mercado a funcionar à volta desta festa de três dias e há um mercado legítimo, mas mercado. Vendem-se bilhetes. Os bilhetes são trocados por diversão, concertos, passeios por barraquinhas, encontros, conversas, enfim, tudo o que possamos imaginar de uma festa (digo imaginar apenas e só pelo facto de nunca ter ido a nenhuma festa do Avante). E se disser que se faz negócio, não estou a mentir. Negócio legítimo e que permite, estou em crer, financiar a atividade mais importante que é, ou presumo que seja, a partidária.

Portanto, e antes dos outros dois pontos, cumpre-me dar os parabéns pelo facto de, mesmo se indiretamente, os comunistas acreditarem num certo mercado.

2 – Em segundo lugar os comunistas, em pandemia, conseguiram transformar a festa do Avante num objetivo que varresse e atemorizasse a classe política e que colocasse o país todo a olhar expectante para as suas várias nuances e vitórias e para o cumprimento da sua execução. Foi um objetivo grande, conseguido, e muito embora limitado em número de pessoas, penso que é uma grande conquista.

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Nem o futebol conseguiu tal proeza e é o futebol. Por isso, e porque a festa do Avante marcou os últimos meses do discurso e das comparações e dela se falou em todo o Portugal, novamente os comunistas estão de parabéns.

3 – Em terceiro e último lugar conseguiram uma comunicação gratuita, uma cobertura mediática como não teriam e, mais ainda, uma chamada de atenção para si mesmos que foram absolutamente notáveis. Nunca se conseguiria isto por via ideológica. Nem por via alguma.

Falem bem ou mal de nós, mas falem, é um adágio comunicacional muito importante e que durante estes meses criou um buzz enorme para os comunistas. Mais uma vez os meus parabéns.

Tudo o que disse nestes três pontos não é nenhum favor. Há um mercado, procura e oferta, e isso define a existência de um negócio: a festa. Há um objetivo (e porque não empresarial), a festa, e ele foi cumprido. Começa hoje. Finalmente, há um buzz enorme à volta dos comunistas e do Avante o que se transformou numa publicidade gratuita como jamais tiveram em tempos recentes. Só estes três factos são para mim louváveis e merecem os meus parabéns.

Isto dito, vão-me dizer que devia ter chamado a atenção para os perigos pandémicos e para as consequências nefastas disto e daquilo. Que me devia ter demarcado claramente deste evento por questões ideológicas. Enfim, muitas outras coisas. Não vou por aí. Não me parece que seja uma festa de rua ou uma manifestação daquelas descoordenadas em que se enche a Alameda e, de repente, estão todos em cima uns dos outros. Onde as pessoas não estão avisadas para as consequências do não distanciamento. Parece-me, sim, e ao contrário, que se trata – e os comunistas estarão empenhadíssimos nisso, presumo – de fazer uma festa sem quaisquer consequências.

Começo como terminei. Mesmo correndo o risco de fazer mais publicidade. Porque, acima de tudo, gosto de reconhecer que há no mercado quem faça diferente da forma como faço e penso e que, mesmo assim, tem sucesso. Não consigo ver de outra maneira. Acho que, e sem quaisquer cinismos, os comunistas estão de parabéns por esta empreitada empresarial. Isto foi, em linguagem empresarial, um case study.

Nota: vejo, bem, que se diz lotação de 16.000 lugares (sim, lotação, e não como aparece em todo o lado, das praias à hotelaria e restauração, capacidade). O que significa, para quem é da área de operações, que é mesmo lotação e está correto. A capacidade é outra coisa e é um conceito temporal. A capacidade até podem ser 120.000 por dia. Isto significaria que as pessoas rodariam 7.5 vezes no recinto da festa num dia. E, em cada momento, só existiriam 16.000 nele presentes.