É a cor preferida da maior parte das pessoas. Pela tranquilidade que provavelmente inspira. Uma cor primária, embora com variadas nuances que vão do tom mais claro ao escuro. Emana várias sensações. A cor do céu e do mar, horizontes sem limites. Os elementos naturais que são procurados e olhados em busca de paz. Agora, no verão, somos cercados por azul. Dias mais longos, soalheiros, com cenário de fundo azul. Idas à praia, a mergulhar no mar azul. Um azul desejado pela evasão evocada, pelo relaxamento suscitado. Mas também o azul é considerado uma cor fria e melancólica. A expressão feeling blue traduz bem isso com o seu significado do sentir-se em baixo, triste. Também é conhecida a expressão baby blues, para denominar os sintomas de depressão (transitória) que é comum ocorrer nos primeiros dias pós parto. O género de música blues que se caracteriza pelos seus tons melancólicos e instrospectivos.

O lado da tristeza associado ao azul não é necessariamente mau, pois é esse mesmo estado que também permite pensar com profundidade. Daí conseguir alcançar, se não se cristalizar no sentimento de angústia, mais objectividade para lidar com as dificuldades. Diferente de cair em depressão, confrontar-se com sentimentos tristes tem um lado positivo. Hoje em dia, é muitas vezes passada a ideia do mau que é ser triste, estar triste. No entanto, é só neste estado emocional que se consegue pousar. E, contrariamente à agitação da euforia, é deste modo que é possível contactar com o mundo interior, com os afectos verdadeiros. Assim tomamos uma maior consciência de nós, percebemos as causas dos problemas, encontramos respostas a alguns porquês.

Fingir que não estamos tristes é varrer para debaixo do tapete. Impossibilita tomar decisões favoráveis para nós mesmos, considerando que evitamos ver tudo o que se passa connosco, do mais ao menos feliz. Evitar contactar com a verdade dos nossos sentimentos, e logo, fugir de quem somos por inteiro, é negar a possibilidade de se ser autêntico.

Existem muitos significados para esta cor. Para além dos já referidos, ligados aos sentimentos psicológicos, também na história das instituições, observamos como é a cor azul a escolhida em predominância. São eleitas imagens neste tom nos momentos formais de apresentação e comunicação, logótipos, escolha das fardas como os serviços da polícia, na decoração de espaços hospitalares. Não será por acaso, considerando o significado psicológico ligado à ideia de segurança, autoridade, estabilidade e confiança.

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Nas culturas antigas, como a egípcia, esta cor era representante da sabedoria e da temperança, uma cor de proteção, usada para afastar o mal. Na Grécia antiga, era a cor associada aos deuses que viviam no céu, tal Zeus que usava um precisamente um manto azul. Também associada à masculinidade, energia, poder, foi durante muito tempo a cor do enxoval dos meninos.

Uma cor associada também à criatividade, ao sonho. Lembremos o período azul de Picasso. Na sequência do suicídio de um amigo, o pintor ficou inundado de tristeza. Pintou nesse contexto A Morte de Casagemas, inaugurando assim a sua fase azul.

Guimarães Rosa perguntava para onde nos atrai o azul? Talvez nos atraia pela possibilidade de olhar a densidade do que é mais profundo, de ir mais além, de vislumbrar uma certa transcendência, de mergulhar. É o lugar onde habitamos visto do espaço.