Nos últimos dias têm aumentado as notícias de que a Rússia estão a enviar armamentos e militares russos para apoiar o regime do Presidente sírio Bashar Assad. Moscovo não esconde que não deixou de fornecer armas a Damasco, mas continua a negar a participação de homens seus nos combates contra a oposição síria e o Estado Islâmico.

O próprio Presidente Putin declarou mesmo que o seu país continua a fornecer armamentos ao Governo de Damasco em cumprimento de acordos assinados há 5-7 anos atrás. Mas, no que respeita à participação de militares russos nos combates,  o Ministério da Defesa da Rússia reconhece apenas que envia técnicos e estruturores para ensinarem aos soldados do regime de Assad a manejar com armamento made in Russia.

Moscovo tem uma base naval do porto sírio de Tartus e, segundo algumas informações, está a construir uma segunda base militar na cidade marítima de Lataquia, mas recusa-se a confirmar última afirmação.

Uma coisa é certa: o Kremlin tem fortes razões para realizar esse tipo de política. A Síria é a única plataforma estratégica que a Rússia possui no Médio Oriente e Moscovo não pretende perder esse lugar. Além disso, receia o aparecimento de grupos islamistas radicais no seu território e nos países vizinhos da antiga Ásia Central soviética. Por exemplo, no Tadjiquistão,país que faz fronteira com o Afeganistão, ocorrem presentemente confrontos entre tropas governamentais e grupos armados da oposição, podendo este conflito ser uma das portas de entrada do Estado Islâmico nessa região estratégica não só para a Rússia, mas também para a China e os Estados Unidos.

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Washington incita Moscovo a envolver-se mais activamente no combate aos radicalistas islâmicos. “Saudaríamos uma participação mais activa da Rússia”, declarou Mark Toner, representante da Secretaria de Estado norte-americana no início de Setembro.

Moscovo diz não estar conta, mas coloca pelo menos um condição fundamental.

Os Estados Unidos e os seus aliados árabes continuam a dar prioridade ao derrube do regime de Bashar Assad, limitando-se a ataques aéreos contra as hostes do Estado Islâmico, táctica que não tem sortido o efeito esperado. A Rússia, pelo seu lado, inverte a ordem de prioridades.

Tendo em conta o problema crescente dos refugiados na Europa e o avanço e as barbaridades dos grupos armados do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, Moscovo aumenta o seu apoio militar ao regime de Assad para colocar obrigar o Ocidente a definir: ou aceita a continuação do Presidente sírio no poder e torna possível uma ampla coligação de todas as forças políticas e militares contra os radicais do EI, deixando a solução do problema  do poder em Damasco para depois da vitória sobre os jihadistas, ou continuaremos a assistir à degradação da situação no Médio Oriente, com todas as consequências funestas que daí possam advir.

Mas Washington receia um reforço demasiado da influência Rússia na região e a situação continua a degradar-se. Quanto à União Europeia, sendo uma das partes mais prejudicadas neste conflito devido à onda crescente de refugidos da guerra, ela não se deve limitar a receber pessoas, mas participar activamente na solução dos conflitos na Síria e no Iraque, pois só a estabilização da situação nesses países permitirá controlar o fluxo caótico de migrantes. Porém, os países membros da UE revelam mais uma vez que não conseguem chegar a um acordo nem sequer em situações críticas como a actual.

O último exemplo, a Bulgária decidiu fechar o seu espaço aéreo a aviões russos que se dirigem para Damasco, exigindo uma vistoria das suas cargas, mas Atenas prontificou-se a abrir esse corredor. Acções como estas são mais um rombo perigoso no já maltratado casco da “caravela europeia”.

Não obstante todas as divergências entre a Rússia, por um lado, e os Estados Unidos e UE, por outro, este parece ser um dos casos em que se deve seguir o princípio: “O inimigo do meu inimigo, meu amigo é”.