Roubei esta ideia, do título e do conteúdo, à Sandra Romain via Linkedin.

O seu post é certeiro e vai ao encontro de muito do que penso sobre estas “modernices” em empresas.

No seu post, a Sandra endereça três pontos que considero fundacionais para as empresas e para percebermos o que andamos a fazer. Se não concordem comigo, porque não é politicamente correto, façam o favor de apagar e de pensar um pouco mais mainstream e águas chocas. Mas aqui vai em três pontos, precisamente os da Sandra Romain.

1 Uma empresa não é uma grande família. É uma rede de pessoas e de equipas que compartem, ou compartilham (ou deveriam compartilhar), objetivos que se encontram correlacionados.

De resto e a propósito disto mesmo escrevi há não muito tempo um artigo que tinha por título precisamente Uma Empresa não é uma Família”. Artigo publicado aqui no Observador.

Existiam e existem, para mim, três fatores essenciais para distinguir uma empresa de uma família.

i) A empresa tem um carácter teleológico claro que é, minha modesta opinião, criar riqueza. Dizia eu que uma família tem outro carácter bem diferente: espaço de reserva, descontração, emoção, laços de amizade, de cumplicidade, de um “eu despido”, frágil e vulnerável.

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ii) Uma família é um último reduto na vida de alguém. Ou deveria ser. É uma zona de resguardo, de eu, de nós, despidos de fatos de trabalho e onde é expectável que haja um nível de partilha, de confiança, de solidariedade, de amizade e compreensão que não tem que existir numa empresa. Pode existir. Mas não tem de existir.

iii) Terceiro, uma empresa é um local (espaço) onde me devo empenhar para ganhar sustento para a minha família. E realizar-me profissionalmente. Onde devo crescer enquanto profissional e pessoa na linha do trabalho. Na família há criação de valores, há partilhas, há vulnerabilidades que não devem ser trazidas para as empresas. Podem estes níveis de partilha e vulnerabilidade existir numa empresa? Sim, podem. Mas não devem existir ao mesmo nível que no de uma família. Uma família é uma família e uma empresa é uma empresa.

2 O escritório não é a tua casa. É um lugar de trabalho onde existem normas de convivência e códigos de conduta.

Verdade que na família há igualmente normas de convivência. Há, paralela e necessariamente, códigos de conduta. Mas um escritório não é a minha casa como a minha casa não é um escritório. Há uma separação. E deve existir. Daí ter imensas dúvidas (não só por este facto mas por muitos outros) – muito mais do que certezas – em transformar a casa num escritório que é o que acaba por acontecer em trabalho remoto. Enfim, seria outro tema.

3 Chief Hapiness Officer não é um lugar (um posto, como está no original espanhol da Sandra) ou uma função mas antes uma etiqueta de moda que não reflete (e não deve refletir) o que é e deve ser a gestão de talento.

Isto não significa, continuando na linha do racional da Sandra, que as empresas não devam constituir um contexto (un entorno, em espanhol), onde te sintas:

  1. Parte de algo importante
  2. Cómodo, seguro
  3. Não menosprezado no teu bem-estar emocional.

No final e concordando com tudo, assino por baixo.

E repito: Basta de eufemismos.