Abordar o tema dos biossimilares, hoje, pode parecer desfocado no tempo ou “fora de moda”. Nada mais falso. Numa corrida, por parte da indústria na aquisição de novas moléculas e na recuperação do dinheiro investido na investigação, assistimos hoje, mesmo em termos de BIG PHARMA, a uma aposta e investimento em biossimilares, sem precedentes, de um modo não expectável.

Num abandono dos fármacos “químicos”, o futuro desenha-se cada vez mais na área da biotecnologia e na corrida a macromoléculas, que designamos por medicamentos “biológicos”. Consoante vamos evoluindo na descodificação do comportamento imunológico, é hoje possível descobrir alvos terapêuticos nunca antes identificados.

Mesmo a sinalização, o trânsito e a competição de estruturas moleculares são estratégicas e cruciais nesta corrida contra o tempo, descodificada como corrida contra a doença, em áreas tão distintas quanto a oncológica, a reumatismal e a neurológica, entre outras.

Nem a deslocalização da sua produção para áreas do globo onde a mão-de-obra barata parece afetar as necessidades especificas e sofisticadas de tão elaborada tecnologia, o seu desenvolvimento parou, mau grado a discussão envolvente.

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Longe vão os tempos do enquadramento, em termos de preocupação, da imunogenicidade desencadeada por estas cópias de fármacos, aprovados pelas autoridades de saúde, apenas com um ensaio de não inferioridade comparado com a molécula original. Muitos deles tornaram-se “biobetters”,  fruto de uma revisão e aperfeiçoamento dos passos industriais na produção dos biossimilares, tornando o produto final superior à molécula original.

Muita desta medicação, por urgência ou emergência da situação, veio revelar a sua necessidade terapêutica, acompanhada, sim, de necessidade urgente e emergente no seu acesso por parte dos doentes.

O processo parece-me apenas iniciado. A corrida na investigação não para. A proteção de patentes não para de cair, e com ela a inevitabilidade de passagem ao estatuto de biossimilar. Um novo olhar sobre esta questão encontra-se em cima da mesa, e a indústria não desarma.

Por que não desenvolver e “democratizar” o acesso aos tratamentos, num binómio de negócio em larga escala, e procurar junto dos sistemas de saúde a sua própria sustentabilidade, face às novas tecnologias? Este é um importante ponto de reflexão, passível de uma análise ponderada e de elevada abrangência.

Deixo-vos com uma última reflexão. Será que sem a utilização dos biossimilares teríamos a possibilidade de acesso aos medicamentos inovadores? Penso, não que o futuro nos responda, mas que o presente já nos responde face a esta inquietação.