O chumbo do Orçamento pelo BE é um facto que a Ciência Política explica bem, mas só a pornografia ilustra com rigor. Infelizmente, pela forma como falam, os comentadores políticos parecem não ser espectadores de pornografia. (O que é estranho, se considerarmos, justamente, a forma como falam e o efeito que isso provoca no sexo oposto). A verdade é que, olhando para a relação entre o PS e o Bloco ao longo dos últimos seis orçamentos, é impossível não pensar no Bang Bus.
O Bang Bus – numa tradução livre seria qualquer coisa como a Carrinha da Berlaitada – é um subgénero da pornografia, surgido na Florida no início deste século. Os episódios têm sempre a mesma estrutura narrativa. Porém, ao contrário do que se poderia supor, não se tornam repetitivos. Mais do que na criatividade da história, apoiam-se na qualidade dos protagonistas. Começam sempre da mesma forma: está uma rapariga na rua, a carrinha pára ao seu lado e um dos passageiros oferece boleia. A rapariga pensa por um instante e aceita. Já lá dentro, o rapaz pergunta à rapariga se, a troco de dinheiro, ela se importa de ficar em sutiã. Ela diz que não, que não é esse tipo de pessoa. Ele insiste, promete mais dinheiro e ela lá aceita. Depois, ele pergunta-lhe se ela pode mostrar as maminhas, por uma quantia maior. Após a mesma hesitação, ela aceita novamente. A seguir, ele pede para lhes tocar, a troco de ainda mais dinheiro. Escandalizada, ela diz que não. A parada sobe e, depois de lhe garantirem que ninguém vai saber – apesar de estar a ser filmada – ela consente. E por aí fora, até ela amealhar uma maquia simpática e estarem os dois todos nus a tocarem em vários sítios um do outro. No fim, ela pede para encostarem, para poder ir fazer xixi. Quando está agachada na berma, a carrinha arranca, deixando-a sem o dinheiro e sem a roupa. O espectador fecha o site com um misto de pena pela rapariga enganada e de schadenfreude por ela ter entrado na carrinha cheia de princípios morais, afinal facilmente comerciados. Por outro lado, toda a gente se divertiu bastante, e isso é que interessa.
Será preciso ser devasso para estabelecer o paralelo óbvio? É provável que sim. Felizmente, estou aqui para isso. O que importa é que, agora que o estabeleci, o leitor já não vai conseguir apagar a imagem. Passou-se com o Bloco de Esquerda, nos últimos anos, o mesmo que com as raparigas do Bang Bus. O PS ofereceu um lugar à mesa do poder, o Bloco sentou-se. A seguir, a troco de verba para outras medidas, foi cedendo em alguns princípios, como o Novo Banco ou as rendas na electricidade. Primeiro hesitante, depois desbragado, até ceder tudo. Aprovado o Orçamento, com evidente gozo dos dois lados, o Bloco é posto a andar, sem ver aplicadas as medidas que defendeu e com o PS a faltar ao acordado. Igualzinho, não é? A única diferença é que, na minha vasta experiência de espectador, nunca vi uma rapariga entrar duas vezes no Bang Bus. O Bloco entrou cinco. O que me faz pensar que, se calhar, o Bloco até gostava de ficar na berma, nu e sem dinheiro.
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