“Não se brinca em serviço” não se aplica ao que se passa na escola. Na escola, deve-se brincar em serviço. Como se deve brincar com “o serviço”. Porque se o aprender dá trabalho, ele não pode ser sofrido, mediado pelo medo e cheio de stresses. E se mesmo em condições difíceis as crianças não deixam de aprender, imagine-se do que serão capazes se a escola for mais amiga e aprender se torne mais vezes, com devia, uma experiência alegre e divertida.

E uma experiência onde as turmas se organizem de forma séria e equilibrada. Onde não haja forma de separar os grupos “dos bons” das turmas “dos maus”. Não haja “disciplinas de primeira” e “disciplinas de segunda”. E onde os bons professores possam ser um privilégio ao acesso de todos os alunos.

Uma experiência onde todas as crianças tenham o direito a descobrir as suas próprias necessidades educativas especiais, descoberta sem a qual a escola talvez não cumpra a sua missão essencial. Onde os tempos de aulas e de recreio não sejam desequilibrados. E onde caia a ideia que quanto mais tempo têm as aulas melhores elas serão.

Uma experiência livre de telemóveis em meio escolar. Que não acabe, todos os dias, em centros de estudo ou em explicações. E onde se entenda que as crianças precisam de estudar desde que tenham, igualmente, tempo para brincar. E onde os trabalhos de casa deixem de ser um repetição de conhecimentos, feitos à pressa, e de forma mecânica.

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Se todas as crianças são sensíveis e inteligentes, todas elas têm o direito a ser boas alunas. Sem notas com “pó de arroz”. Onde os seus resultados sejam uma responsabilidade tanto delas, como dos seus professores e dos seus pais. Mas onde as dúvidas que tenham valham pelo menos tanto como as suas respostas “na ponta da língua”. E onde os erros sejam o princípio duma nova descoberta.

No regresso às aulas, era precioso que todas as crianças se pudessem passear nos livros. E recriar em vez de repetir. E ter o direito a ter a cabeça no ar, se só assim se estiver atento ao que se escuta e atento ao que se pensa, ao mesmo tempo.

No regresso às aulas era precioso que caminhássemos para uma escola que brinca em serviço. Uma escola que se inventa. Uma escola para onde apeteça fugir.