Meus amigos, que alívio. Que alívio. Já para aí há um mês que andava em cuidados com António Guterres. Sim, porque há quantas semanas não ouvíamos o Secretário-Geral da ONU perorar sobre o clima? Há quanto tempo não escutávamos uma daquelas lancinantes diatribes sobre irmos todos falecer nos próximos 15 segundos com as entranhas fritas no churrasco do aquecimento global? Na verdade não faço ideia. Mas sei que há demasiado tempo. Felizmente, nos últimos dias quebrou-se o jejum de odes apocalípticas.

Na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022, o saudoso ex-primeiro-ministro referiu que “estamos na autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador”. O que é mentira. Porque impossível. Alguma vez? Como se, nos dias que correm, ao preço a que estão os combustíveis, alguém andasse com o pé no acelerador. É que nunca na vida. Nesta altura anda mas é tudo em ponto morto. E, claro, com o cuidado de escolher sempre destinos que fiquem a uma altitude inferior ao ponto de partida. Para aproveitar o embalo, poupando na deslocação. E depois poder gastar à maluca no fim da viagem. Numa gasosa, ou assim.

Atenção, digo isto mas, como é óbvio, não há qualquer motivo para preocupações com a inflação. A mensalidade da casa vai disparar? Calma. Ter casa está sobrevalorizado. Aliás, o que está na moda é o nomadismo. Não me digam que ainda não ouviram falar dos nómadas digitais, por exemplo. Começa a ficar difícil comprar comida para as crianças? Sim, mas já constataram a epidemia de obesidade infantil que para aí vai? Até calha bem, porque os putos acabam por ser um bocado lambões. O dinheiro já mal chega para comprar uma peça de roupa? Então mas não têm escutado o Guterres sobre o aquecimento global, pá? Em menos de nada vamos andar todos descascados em pleno Natal.

Mas dizia eu não haver motivo para nos preocuparmos com a inflação. Dizia eu, é como quem diz. Disse o Ministro da Saúde. Garantiu Manuel Pizarro, não estar “excessivamente preocupado” com o impacto da inflação, nomeadamente, no orçamento da Saúde. E percebe-se que não esteja. Por uma questão, lá está, de saúde. É mesmo melhor Manuel Pizarro nem prestar muito caso a isto da inflação, porque se calha estar mesmo atento ao problema, os nervos ainda lhe provocavam uma apoplexia. E depois imaginem que levavam o homem para as urgências de um hospital público. Com sorte era atendido no dia da inauguração do novo aeroporto de Lisboa.

Novo aeroporto de Lisboa que, na sequência da hipótese Santarém, poderá eventualmente acabar em Caminha. Ou melhor, poderia, caso o já polémico, mas ainda novel, Secretário de Estado Adjunto de António Costa, Miguel Alves, ainda fosse o presidente da Câmara Municipal daquela localidade minhota. Onde se notabilizou por, consta, ter pago 300 mil euros por um pavilhão que não existe. Não sei em relação a vocês, mas eu ainda sou do tempo em que os políticos chegavam ao governo e, então sim, envolviam-se em moscambilhas das bem duvidosas. Hoje em dia, não. Estar envolvido em moscambilhas das bem duvidosas é condição necessária para entrar no governo. É isso e ter o 12º ano completo.

A propósito de escolaridade obrigatória, Paulo Raimundo é o novo líder do Partido Comunista, sem saber ler nem escrever. Uma vez que a ideia que dá é que, perante a notícia do novo cargo, mesmo os familiares próximos de Paulo Raimundo terão perguntado: “Mas espera lá, Paulo. Tu és militante do PCP?” Se bem que, na verdade, ser líder do PCP sem saber ler nem escrever não é grave, uma vez que os discursos estão já todos redigidos e decorados desde, pelo menos, 1917.

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