Anualmente, desde 2014, o dia 27 de julho é dedicado ao tema dos tumores da cabeça e pescoço. À semelhança de muitos outros, o objetivo é sensibilizar não só a opinião pública, mas também os profissionais de saúde para este grupo de patologias, que tendo localizações muito diversas partilham aspetos clínicos comuns, dando ênfase à prevenção, ao diagnóstico precoce e às opções terapêuticas.

Mas que realidade é esta dos tumores da cabeça e pescoço? São tumores que se originam em órgãos e estruturas situadas nesta região, designadamente na boca, faringe, laringe, nariz e seios perinasais, glândulas salivares e ainda os que, manifestando-se em estruturas linfáticas desta região, podem ter origem em outros órgãos. Excluem-se os tumores do sistema nervoso central com os quais, em virtude da designação, são muitas vezes confundidos. Falamos de uma realidade que a nível mundial afeta cerca de 650 mil pessoas e causa anualmente cerca de 330 mil mortes. Para este ano, só na Europa, prevê-se que venham a ocorrer 151 mil novos casos e, a nível mundial, aproximadamente 833 mil.

Entre nós, os dados do Registo Oncológico Nacional apontam para cerca de 3 mil novos casos por ano. São tumores muito agressivos, maioritariamente associados a fatores de risco como o álcool e o tabaco.

Não menos importante na génese destes tumores é a exposição a diversos poluentes industriais, entre os quais é exemplo a exposição não protegida ao pó da madeira pela sua associação com um determinado tipo histológico de tumores do nariz e seios perinasais. Outras formas tumorais não têm, contudo, agentes promotores conhecidos, como é o caso dos tumores das glândulas salivares.

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Mas como se manifestam estes tumores? Devemos elevar o índice de suspeição face ao aparecimento de uma mancha não usual na boca ou de uma úlcera que não cicatriza, de um “caroço” no pescoço que não desaparece ou cresce ao fim de algum tempo, de uma dor ou desconforto persistente no pescoço sem mais nada identificável, no caso de dificuldade na abertura da boca ou dor à movimentação do maxilar, em situações de dificuldade persistente em engolir, falar ou respirar, na presença de sensação de ardência persistente na garganta ou de engasgamento recorrente, em casos de dificuldade na movimentação da língua, de dor persistente no ouvido especialmente se agravada com a deglutição, em casos de perda progressiva do olfato, de perdas de sangue ou cheiro fétido pelo nariz e ainda, perante perdas de peso, designadamente quando associadas a alguns dos sintomas atrás referidos.

E então o que fazer se algum destes sintomas ou sinais estiverem presentes? Não entrar em pânico; este é mau conselheiro. Mas não relaxar, pois um diagnóstico precoce eleva as expectativas de cura e minora significativos impactos negativos na qualidade de vida.

São diversas as especialidades médicas mais diretamente envolvidas no diagnóstico e no tratamento destes tumores. A otorrinolaringologia, estomatologia e/ou a medicina dentária serão as áreas de eleição para o diagnóstico. Na fase de tratamento podem vir a ser envolvidas especialidades como a cirurgia maxilo-facial, cirurgia geral, cirurgia plástica e quase sempre a radioterapia e a oncologia médica. Isto ilustra bem o conceito de multidisciplinaridade em que está assente a generalidade da prática oncológica e, por esta razão, o tratamento destes tumores deve ser efetuado em locais onde essa modalidade seja corretamente praticada.

Foi-me diagnosticado um tumor. E agora? A abordagem destes tumores carece da intervenção de diversos profissionais, não só para o diagnóstico, mas também no que às opções terapêuticas e à reabilitação diz respeito. É nossa obrigação enquanto médicos alertar os doentes de que os resultados esperados poderão não ser replicáveis entre instituições, razão por que consideramos fundamental que sejam disponibilizadas as melhores opções terapêuticas face ao caso em apreço. Mas fica um alerta. Não deixem os doentes de exigir serem tratados em serviços e por profissionais competentes, tendo consciência de que a doença sendo grave, tem resultados que dependem não apenas da eficiência dos serviços, mas também da sua adesão enquanto doentes ao plano terapêutico instituído. Dado que as áreas em que muitos destes tumores se instalam são de relevante importância para funções vitais do nosso organismo, é preciso consciencializar o público em geral para que quanto mais precoce for o diagnóstico menos agressivos serão os tratamentos, com óbvias repercussões não só em funções ditas vitais mas também na qualidade de vida.

Por tudo o que foi referido, é fundamental uma procura célere de respostas para este problema logo que diagnosticado. As instituições de saúde retomaram a sua atividade com toda a segurança. Lembre-se que as rotinas de vigilância e prevenção são fundamentais.

Muito se vem falando de avanços científicos e de novas estratégias terapêuticas em oncologia. Sem querer ser redutor, no presente, as opções não são muito diversificadas, mas as disponíveis são, em geral, eficazes e tanto mais quanto mais precoce for o início do tratamento. Também as sequelas dos tratamentos diminuem em função da precocidade do diagnóstico e tratamento e da inclusão nas equipas de profissionais da área da reabilitação.

Comportamentos e hábitos são, como vimos, aspetos importantes a ter em conta para o aparecimento destes tumores. Dominar, alterar ou ainda melhor anular hábitos que sabemos serem de risco, são aspetos fulcrais para “evitar” o aparecimento de muitos destes tumores e para melhorar a eficácia terapêutica.

Se os hábitos nos vencerem, não nos acomodemos, nem nos deixemos tomar pelo medo. Procuremos o mais brevemente possível obter uma observação médica e uma opinião atempada e avalizada, quer seja no setor público quer no privado, uma vez que desta proatividade estão dependentes anos de vida e bem-estar.