Nem ao Pai Natal, nem ao Menino Jesus. Este Natal, o ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, decidiu antes escrever uma carta à sua menina predilecta, a sua ai-jesus, Greta Thunberg. Na missiva, o ministro lembra que os portugueses têm sido uns meninos muito lindos e que nos temos portado mesmo bem. Não só metade da energia que produzimos no nosso país vem de fontes renováveis, como renegamos a viciosa energia nuclear. Claro que, de permeio, pagamos a energia mais cara da Europa. “Mas quê, agora os valores morais têm preço, é?”, perguntarão os portadores de uma rectidão moral que faz o Gandhi parecer o Bernie Madoff. Por acaso estes têm e é de 1.200 milhões de euros por ano em subsídios às energias renováveis.
No fundo, na carta enviada a Greta, o ministro roga à Nossa Senhora da Anunciação do Fim do Mundo que interceda junto dos arcanjos da estratosfera, dos querubins da camada de ozono e dos serafins dos ciclos solares para que protejam o nosso Portugal, que consta ser dos países europeus que mais sofrem com as alterações climáticas. E eu até percebo que o ministro não tenha escrito ao Pai Natal, ou ao Menino Jesus. Para quê pedir mais presentes para encher o sapatinho, quando já temos todos o saco cheio à conta destas histórias do mundo ir acabar daqui a 12 anos? Isto depois de, em 2006, Al Gore ter garantido que tínhamos 10 anos para evitar que o mundo acabasse e de, já em 1989, a ONU ter avisado que seríamos dizimados se não revertêssemos o aquecimento global até ao ano 2000. Eh pá, decidam-se lá de vez quando é que isto arrebenta para uma pessoa organizar a sua vida!
Entretanto, o barco em que Greta Thunberg viajou desde os Estados Unidos atracou em Lisboa, ligando de novo a história do nosso país à das grandes odisseias marítimas. Embora, desta feita, sob uma perspectiva totalmente nova. Se, nos Lusíadas de Camões, o Velho do Restelo agoirava enquanto as embarcações se faziam ao mar, nos dias que correm a Jovem de Estocolmo agoira enquanto a sua embarcação chega do mar. Dizia o poeta “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Esqueceu-se de acrescentar o poeta: “Menos a vontade de estar sempre a rezingar”.
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