Exmo. Sr. Ministro da Educação, Prof. Dr. Tiago Brandão Rodrigues
Exmos. Srs. Deputados à Assembleia da República

Sou uma estudante, como tantas e tantos outros, que vos transmitir uma mensagem que é comum e sentida por milhares de nós. Sem querer distrair-vos dos assuntos que vos ocupam e que vos impediram de me responder em tempo útil, não me deixando alternativa senão esta, digo-vos que não vos peço mais do que justiça! Considero que quem se esforça e luta pelos seus objetivos diariamente só pode pedir igualdade, sobretudo quando as regras mudam a meio do jogo. Gosto de acreditar que vivo num país cujos representantes valorizam os sucessos e não contribuem para as derrotas.

Das inúmeras variáveis incontroláveis que afetam o desempenho escolar dos estudantes, nomeio a relação entre o professor e os alunos, respetiva escola, ambiente na turma e interação com os colegas, bem como a capacidade económica e quaisquer dificuldades pessoais dos encarregados de educação e descentes. Acredito que uma boa relação professor-aluno motiva e possibilita um melhor desempenho na disciplina. Uma positiva interação e ajuda entre colegas facilitam o sucesso. Há quem tenha a possibilidade de recorrer a explicações, bem como existe quem não disponha dessa condição. Os métodos de ensino e avaliação não são exatamente os mesmos e, como tal, nem todos os alunos se adaptam da mesma forma aos seus professores, podendo o seu desempenho ser distinto caso tivessem o docente de uma outra turma, por exemplo. Por fim, alguns professores consideram um 15,4 como um 16, e outros classificam essa média enquanto 15 na nota final. As variações destes fatores não promovem a igualdade ideal, mas utópica, entre os alunos aquando os concursos nacionais de acesso ao ensino superior. Os únicos objetos de avaliação que nos são comuns são os exames nacionais, realizados nas mesmas condições espácio-temporais, que têm influência igualitária na nota de candidatura dos diversos concorrentes.

Nos anteriores anos letivos, havia a possibilidade de realização de melhoria das notas internas das disciplinas (e média interna) através dos exames nacionais, que constituía uma forma de combate a este tipo de discrepâncias. Isto é, se o aluno já tivesse a disciplina concluída, mas realizasse novamente o respetivo exame nacional, a melhoria contaria a 100%. Sendo a classificação obtida no exame nacional superior à atual nota interna da disciplina, a nova nota do exame substitui-la-ia inteiramente. Caso fosse inferior, não haveria qualquer alteração, de modo a favorecer o melhor desempenho. Como tal, todos os anos, diversos alunos optam por esta vertente, fazendo um ano “paragem”, após o 12º, em que se dedicam inteiramente à preparação para os exames nacionais, de modo a poderem usufruir desta vertente e ingressar no curso desejado.

Infelizmente, este ano, a realização de melhoria foi impossibilitada com o objetivo de reduzir o número de alunos nas salas de exame. Aceito que esta altura diferente requer medidas excecionais, mas não injustas! A facultatividade dos exames nacionais, anteriormente obrigatórios, já reduz drasticamente o número de alunos inscritos, como pretendido. A nós, alunos que pretendem fazer melhoria, foi-nos retirada a faculdade de optar, vendo-nos impossibilitados de realizar aquilo para que nos preparámos desde Setembro. Quem recorre à melhoria, é porque necessita. Não nos sujeitaríamos à realização de mais um exame, e muito menos estaríamos a lutar, caso não fosse preciso! Pergunto-vos o porquê da dualidade de critérios. Em todo o país, não haverá instalações em número suficiente que garantam o afastamento social necessário e possibilitem a reconsideração dos alunos que pretendem fazer melhoria, aquando a realização destas provas?

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Sou uma dos milhares que se depararam com uma escolha no final do passado ano letivo, após a conclusão do ensino secundário: devo arriscar e parar um ano da minha vida de modo a obter uma melhor nota nos exames (sendo esta possibilidade incerta), ou devo, como os meus colegas, candidatar-me já ao ensino superior e ingressar noutra opção, evitando esta terrível paragem? As aparências iludem, e garanto-vos que a resposta a esta questão não é tão óbvia e muito menos tão fácil quanto aparenta. Não fosse o sonho que comanda a vida, abdiquei, esperei, batalhei, debati-me com a incerteza e a paragem, mas maiormente abracei a esperança de conseguir ingressar naquele no curso que almejo desde tenra idade. É um caminho repleto de obstáculos que facilmente nos derrubam, e é necessária muita força para seguir em frente.

É custoso passarmos um ano inteiro a prepararmo-nos para a realização de algo que determinará o nosso futuro, sem sabermos se seremos sucedidos. Há “algumas” décimas de nota que aparentam ser insignificantes, mas que têm um gigantesco impacto. Enfrentamos, em cada dia, o medo e o receio que advêm da imprecisão. Não é fácil observar a luta diária daqueles que nos rodeiam e cujo objetivo é apoiar-nos neste tão incerto caminho, seja emocional e/ou monetariamente. Mais penoso ainda é chegar aos últimos meses de preparação, em que vislumbramos a meta que tanto queremos alcançar, após tanto ter sido investido, e depararmo-nos com uma nova realidade: parte da luta foi em vão, não podemos fazer melhorias. Nós, tal como vocês, não esperávamos uma pandemia, e muito menos imaginávamos ser prejudicados desta forma. As regras mudaram na reta final do jogo. O nosso suor e lágrimas foram, em parte, inúteis como um trapo.

Não obstante, esta não é a minha primeira abordagem. Antecedentemente a esta carta, tentei contactar-vos diretamente e transmitir-vos o que considero justo. Supus que por entre a divulgação de uma petição online que conta com 8.126 assinaturas, publicações, vários e-mails dirigidos a diversas frentes, mensagens privadas através das mais variadas redes sociais (muitas vistas e ignoradas), e até pedidos de transmissão da minha mensagem, pudesse comunicar convosco sem ter de optar por este meio. Lamento ter obtido muito poucas respostas. Lamento ter até recebido promessas de resposta que não chegaram em tempo útil, talvez com a esperança de que deixasse o assunto passar. Lamento sentir que não têm em consideração os mais novos, nem quando a sua mensagem é clara e a sua voz luta tanto por ser ouvida. Houve propostas relativas às melhorias apresentadas na Assembleia da República (CDS-PP E PAN), mas rejeitadas por quem creio não se ter esforçado por nos compreender. Ignoraram-nos e àqueles que propuseram a alteração que nos traria justiça. A nossa voz, que “grita” e procura por quem a escute, não foi ouvida!

Supondo que não queiram limitar o futuro desta geração, proponho que não ignorem a voz de quem viveu e continua a viver esta experiência, a despeito das atrocidades, porque fazer política é também ouvir o outro, independentemente da idade, escalão social ou cor partidária, e lutar pela sua justiça. Não sabem nem sonham como me entristece imaginar que esta ardilhoso esforço poderá chegar ao fim sem sucesso, tanto para mim, como para os que compartilham a minha situação. Muitos dos meus conhecidos lamentam um ano, tanto tempo e dinheiro perdidos. Completamente perdidos… Há quem tenha investido e dependa inteiramente das melhorias!

Pranto ter-me enganado por pensar que teriam a nossa situação em conta, em detrimento de nos verem somente enquanto um “excesso de alunos” numa sala de exame, sem aparentar querer recuar ou reconhecer a nossa situação, para a qual nos propusemos desde o início do ano letivo. Contudo, mantenho-me positiva e quero continuar a acreditar que nos representam e lutam pela concretização dos nossos melhores interesses. Se aquilo que vos aflige é o próximo ato eleitoral, recordo-vos que muitos de nós atingimos o patamar da maioridade e com certeza, no sítio próprio, agiremos em consonância com a solidariedade recebida. Solicito-vos então, novamente, agora que talvez disponha da vossa atenção, que escutem esta voz que clama por justiça.

Não há melhor forma de saber do que precisamos, ao invés de especular, senão ouvindo quem calça este “sapato” todos os dias, pois são quem vos pode dizer onde mais lhes dói! Considero-nos merecedores de uma resposta da vossa parte, que aguardo há já algum tempo. Há que esclarecer os cidadãos, inclusive os mais jovens.

Em nome de todos nós! Agradecida.