A habitação em Portugal parece ter chegado a um beco sem saída: faltam casas para tanta procura e só conseguimos fazê-las para quem tem rendimentos muito acima da média das famílias portuguesas. O resultado é evidente: os preços das casas sobem cada vez mais e as dificuldades em encontrar morada são um problema grave para muitos portugueses.

Não podemos, por isso, continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Temos de vencer preconceitos, colocar ideologias de parte e enfrentar o desafio da habitação de forma séria e consistente, colocando em primeiro plano a qualidade de vida das famílias e a sustentabilidade das vizinhanças em que se inserem.

Temos de ter mais terrenos para construir nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, porque é aqui que a maioria das pessoas querem viver; porque é onde encontram as oportunidades de emprego, valorização e de interação social que ambicionam. Há um enorme espaço para inovar na política de solos e, agora que os solos urbanizáveis estão em extinção e que já se limitaram os perímetros urbanos, é altura de os municípios voltarem a criar terrenos urbanos. Só com essa nova oferta municipal para a construção poderemos ter a quantidade de casas novas que precisamos para desenvolver as cidades e a economia, a única forma de melhorar os rendimentos das famílias.

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Temos de adaptar os nossos códigos e regulamentos aos métodos modernos de construção, os únicos que poderão reduzir progressivamente os custos das casas, através de uma profissionalização e digitalização acelerada de todo o desenvolvimento imobiliário, ao mesmo tempo que contribuem para uma descarbonização inevitável de todos os processos. Dessa forma, seremos capazes de intensificar a incorporação de conhecimento no desenho dos projetos, criando casas mais adequadas à vivência das famílias nesta terceira década do século XXI.

Temos de diversificar os formatos residenciais propostos, adaptando-os ao ciclo de vida de cada um, para que as respostas sejam progressivamente adequadas aos novos estilos de vida e às prioridades das novas gerações, que não partilham da obsessão da propriedade tão marcante nas gerações anteriores. É, sobretudo, fundamental evitar o enorme egoísmo geracional que, por vezes, aparece nas pessoas da minha idade, que não se preocupam com a montanha de dificuldades que os mais novos têm para encontrar onde morar.

Temos de criar um quadro de investimento estável e equilibrado que replique em Portugal o sucesso do investimento institucional do resto da Europa na habitação para arrendamento. Há vários exemplos de países que conseguiram

criar centenas de milhares de novas casas para arrendar, algo que só acontece quando as rendas praticadas são acessíveis a muitos.

Temos de perceber que os processos de desenvolvimento imobiliário são complexos e demorados e que só com profissionais experientes é possível fazer evoluir a atividade na direção desejada. Felizmente, a última década revelou que há em Portugal umas dezenas largas desses profissionais, capazes de articular as equipas necessárias para a concretização de projetos inovadores, que poderão responder ao desafio de digitalizar uma indústria fundamental para o progresso da economia e, sobretudo, para o bem-estar dos cidadãos.

Temos de redesenhar a oferta residencial de forma a otimizar o processo de investimento das famílias nas suas casas. Há hoje novas condições que permitem reinventar o modelo cooperativo, combinando a experiência de profissionais do desenvolvimento de projetos com todas as regras do código cooperativo e ultrapassando, dessa forma, os bloqueios existentes no financiamento e montagem dos programas residenciais. Isto permitirá que uma nova geração de cooperadores possa comprar as suas casas a preço de custo, tal como aconteceu nas décadas de 80 e 90, cumprindo as exigências atuais de eficiência e descarbonização na construção das mesmas, com uma acrescida transparência e comunicação que os meios digitais hoje permitem. Acreditamos que só com esta mistura de conhecimento, experiência e inovação seremos capazes de fazer casas mais competitivas e melhores, as casas do futuro.