Não sou eleitora em Portugal, nem me atrevo a escrever sobre política portuguesa, para o bem de todos, já que definitivamente nem me considero apta a fazê-lo. Mas, como é óbvio, acompanho o debate, converso com amigos portugueses e chego às minhas conclusões que, nesse contexto, nada importam.

Esse texto não é sobre política. Esse texto é sobre pessoas. Não faço campanha política por ninguém. Nem por Catarina, nem por Assunção, nem por Joacine, nem por qualquer outro candidato ou partido. Mas escrevo esse texto porque reconheço a coragem necessária para enfrentar a exposição da vida política. E, sobretudo, reconheço a coragem necessária para enfrentar a exposição da vida política quando se é mulher.

Ocupando tais posições, todos são julgados, pois a opinião pública é a base da vida política. Todavia, um homem político é julgado por suas falas, suas ideias e suas condutas. Já uma mulher política precisa, antes de ser ouvida, vencer as polêmicas que pairam sobre seu corpo, suas roupas, seus cabelos, sobre a maternidade e o casamento ou sobre a ausência de qualquer um deles.

Durante o último verão, quando vi o Presidente Marcelo ser entrevistado na praia, em trajes de banho, me perguntei se Merkel, Bachelet, Dilma ou qualquer outra mulher nessa posição se sentiria minimamente confortável para fazer o mesmo. Acredito que não — e sempre haverá um machista para fazer uma piada pronta e nada criativa sobre isso. O problema não está em aparecer em trajes de banho sendo uma figura pública, mas sim no olhar que considera o corpo do homem um mero veículo para carregar suas ideias e o corpo da mulher como aquilo que é mais relevante na figura feminina.

Se a mulher se dedica muito à própria aparência, é considerada fútil e pouco digna de credibilidade. Se a mulher coloca as questões estéticas como secundárias, é igualmente julgada, dessa vez por um suposto desleixo. Por outro lado, pouco importa a careca de um homem, os cabelos brancos de outro ou a barriga saliente de um terceiro. Todos estão ali para falar sobre projetos, não para agradar o olhar alheio. Dois pesos, duas medidas.

É realmente preciso ter muita coragem, porque sempre haverá (inclusive num debate político) um dedo pronto para apontar e uma boca sedenta para dizer sobre uma mulher: você está acima do peso, você tem filhos demais, você tem filhos de menos, você deveria cuidar mais da sua aparência, você é negra demais, você não deveria estar vestindo isso, você deveria ser mais delicada, você deveria estar na sua casa, cuidando do seu marido. Que bom que não estão. Que bom que têm a coragem e resiliência para continuar.

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