Antes de mais, uma respeitosa – mas ainda assim algo agastada – chamada de atenção ao Observador. Quando Cavaco Silva quiser publicar artigos aqui no jornal, solicito que o esclareçam que o deve fazer em qualquer dia da semana menos a quarta-feira. Que é o dia em que sai também a minha crónica. E não me dá jeito nenhum os meus dois, três leitores fugirem para irem ler textos bem mais divertidos do ex-Presidente. Já para não dizer que se isto se torna recorrente ficarei com uma fobia às quartas-feiras muito idêntica à que Cavaco ganhou às quintas-feiras por via das profícuas reuniões semanais com José Sócrates. Portanto, agradecido pela atenção.

Artigo de Cavaco Silva no Observador que, durante a última semana, comprovou o axioma mais famoso da política portuguesa: “Quem se mete com o PS, depois do PS se meter primeiro, leva!”. Ou melhor, como repararam, isto é já um upgrade do clássico “Quem se mete com o PS leva!”. Uma vez que agora, pelos vistos, o PS anda a trabalhar tipo agente provocador: Costa provoca Cavaco na tomada de posse do Governo; Cavaco responde a Costa; e, tumba!, Cavaco leva forte e feio de tudo o que é correligionário socialista. Acaba por fazer sentido. Se é para apostar no bullying mais vale fazer a coisa como deve ser, ao estilo recreio da escola preparatória:

Puto Parvo: Ouve lá, o que é que tu chamaste à minha mãe?

Vítima do Puto Parvo: Eu? Eu nem disse nada.

Amigo Parvo do Puto Parvo: Não disseste nada? Então como é que ele te ouviu chamares nomes à mãe dele?

Vítima dos Putos Parvos: Sei lá. Eu não abri a boca.

Puto Parvo: Então quer dizer que, além de chamares nomes à minha mãe, ainda me estás a chamar mentiroso a mim, é isso?

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Vítima dos Putos Parvos: Não. Estou só a dizer que não chamei nomes à tua mãe, portanto não me podes ter ouvido a chamar-lhe nomes.

Amigo Parvo do Puto Parvo: Ai é? Quer dizer, estás a chamá-lo mentiroso, e surdo. E bisgarolho. E rameloso. E chulezento. E…

Puto Parvo: Ei! Então, pá? A que propósito é que veio isso?

Amigo Parvo do Puto Parvo: Eh pá, peço desculpa. Sabes que eu, às vezes, entusiasmo-me com isto do bullying.

Bom, mas o que interessa é que este bate-boca com Cavaco Silva espicaçou António Costa. O Primeiro-Ministro acusou o toque de Cavaco no que ao crescimento dos salários diz respeito, e veio logo a público pedir um esforço colectivo às empresas para que os salários médios em Portugal aumentem 20%. Tomaram nota, empresas? Vamos lá, toca a fazer esse esforço. Que o Governo já fez mais que a sua parte para que a competitividade da economia permita pagar melhores ordenados. Que esforço foi esse que o Governo fez? Como assim? Então o primeiro-ministro desloca-se ao Algarve, investe para cima de 30 segundos do seu precioso tempo a magicar esta soberba solução para o aumento dos salários, depois dá-se ao trabalho de convocar as suas cordas vocais que, em perfeita harmonia com um incansável maxilar inferior e uns enérgicos orgãos moles da cavidade bocal, lhe permitem verbalizar esta infalível estratégia perante uma plateia de jovens no sul do país, e vocês ainda têm a lata de perguntar o que é que este Governo fez para que os salários aumentem 20%? Tenham paciência, isso já é vontade de embirrar.

Enfim, no meio disto tudo sabem de quem me lembrei? E não vale a pena perguntarem porquê. Lembrei-me, pronto. De Manuel Subtil. O indivíduo que há mais de vinte anos se barricou numa casa de banho na RTP. Vem isto a propósito das casas de banho não-binárias criadas no ISCTE. É bom que o ex-ministro das Finanças e actual vice-reitor, João Leão, trate de encaminhar mais uns financiamentos valentes para o Instituto. Vão precisar de fundo de maneio. Se calha alguém barricar-se na casa de banho não-binária e exigir uma valente maquia para não explodir as instalações, é bom que o dinheirinho apareça rápido. Ou estaremos perante um escandaloso caso de transfobia.