No dia 2 de Setembro de 1918, o Comité Executivo Central dos Sovietes (CECS), órgão supremo da ditadura bolchevique imposta menos de um ano antes na Rússia, decretava oficialmente o “terror vermelho” como resposta ao “terror branco”. Porém, o terror comunista começara antes, precisamente no momento em que Vladimir Lenine e os seus comparsas tomaram o poder no país, menos de um ano antes.

Segundo Iakov Sverdlov, presidente do CECS, essa decisão foi uma resposta ao atentado armado contra Vladimir Lenine, que o feriu gravemente, e o assassinato de Moisei Urittzki, dirigente da TCHEKA (Comissão Extraordinária, polícia política soviética), de São Petersburgo. Os ataques foram obra de socialistas revolucionários que dessa forma protestavam contra as repressões bolcheviques.

Embora os bolcheviques tenham suspenso a pena de morte no dia a seguir ao golpe de Estado de 25 de Outubro/7 de Novembro, essa decisão nunca foi respeitada, pois, segundo os novos senhores da Rússia, a revolução tinha de se saber defender. Por isso, já em Dezembro do mesmo ano, são criadas comissões extraordinárias de combate à contra-revolução, que passaram a ser dirigidas por Felix Dzerjinski.

Lev Trotski, cujos seguidores em Portugal se apresentam como defensores de todas e mais algumas liberdades, foi um dos principais teorizadores do “terror vermelho”. No mesmo mês de Dezembro, ele anunciava: “Devem saber que, dentro de menos de um mês, o terror adquirirá formas muito fortes seguindo o exemplo dos grandes revolucionários franceses. Não só a prisão, mas também as guilhotinas irão esperar os nossos inimigos”.

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Em 1920, o mesmo Trotski publicava a sua obra Terrorismo e Comunismo, onde fundamenta a política do “terror vermelho”. É de assinalar que este foi o único escrito deste líder bolchevique que mereceu rasgados elogios do seu mais directo adversário no interior do Partido Comunista da Rússia (bolchevique): José Estaline. Muitos dos conselhos de Trotski foram depois utilizados nas purgas estalinistas, nomeadamente contra os trotskistas.

Para alguns historiadores, o primeiro acto do “terror vermelho” ocorreu muito antes da proclamação da nova “justiça proletária”, mais precisamente da noite de 6 para 7 de Janeiro de 1918, quando dois deputados do Partido Constitucional Democrático (cadetes) foram assassinados num hospital prisional de São Petersburgo, onde se encontravam internados com tuberculose.

A 21 de Fevereiro de 1918, o Conselho de Comissários do Povo da Rússia publica o decreto “A pátria socialista está em perigo!”, que ordena “o fuzilamento no local do crime dos agentes inimigos, especuladores, assaltantes, arruaceiros, agitadores contra-revolucionários e espiões alemães”.

Todo esse ano ficou marcado por uma série de acções violentas contra qualquer tipo de oposição, contra qualquer greve ou manifestação anti-bolchevique. Em Agosto de 1918, Vladimir Lenine, outro mentor da actual extrema-esquerda portuguesa, exigia perentoriamente: “Realizar terror em massa e implacável contra os kulakes [camponeses ricos], sacerdotes e guardas-brancos; os duvidosos devem ser fechados num campo de concentração fora da cidade”.

Logo a seguir, Felix Dzerjinski e Vladimir Lenine propõem fazer reféns entre a nobreza e a burguesia, justificando essa medida como forma de travar a “contra-revolução” e garantir o não emprego da força pelos adversários políticos.

Essas medidas eram de tal forma cruéis e ilegais que foram alvo de críticas de alguns dirigentes bolcheviques, mas Lenine tinha respostas para tudo e todos: “Raciocino de forma clara e categórica: é melhor mandar para a prisão algumas dezenas ou centenas de instigadores, culpados ou inocentes, conscientes ou inconscientes, ou perder milhares de soldados vermelhos e operários? O primeiro é melhor. E que me acusem de todos os pecados mortais e das violações da liberdade: eu reconhecerei ser culpado, mas os interesses dos trabalhadores vencerão”.

A onda de terror vermelho provocou uma resposta dos sectores anarquistas e socialistas revolucionários, que já tinham grande experiência terrorista na luta contra o czarismo. A socialista revolucionária Fanni Kaplan declarou, antes de ser fuzilada, que, ao disparar sobre Lenine, pretendia vingar a dissolução da Assembleia Constituinte pelos bolcheviques, acrescentando: “Disparei contra Lenine porque o considero um traidor. Por ele viver muito é que a chegada do socialismo será adiada várias décadas”.

Leonid Kanneguisser, membro do Partido Operário Popular-Socialista , justificou o assassinato de Uritzki para se vingar da morte de um camarada seu às mãos da TCHEKA.

Quanto ao número de vítimas do “terror vermelho”, é difícil calculá-lo. Alguns estudiosos falam em centenas de milhares, enquanto outros apontam vários milhões.

A máquina repressiva não parou, pelo contrário, continuou sem descanso. Depois dos “inimigos de classe”, chegaria a vez dos “fraccionistas”, “desviados”. Por isso, muitos dos carrascos do “terror vermelho” foram depois liquidados pelas purgas estalinistas.

P.S.: Alguns adeptos da teoria da conspiração e do anti-semitismo acusam os judeus de terem sido os autores principais do golpe de Estado comunista na Rússia, o que não passa de uma das muitas tentativas de caluniar esse povo. Apenas fica aqui um exemplo: eram também judeus os dois terroristas que atentaram contra a vida de Lenine e de Uritzki (o primeiro tinha alguns judeus entre os antepassados e o segundo era filho de pai e mãe judeus). Kanneguisser declarou: “Sou judeu. Eu assassinei um judeu-vampiro, que bebia, gota a gota, o sangue do povo russo. Eu tentei mostrar ao povo russo que Uritzki não é um judeu para nós. Ele é um traidor. Matei-o na esperança de restabelecer o bom nome dos judeus russos”.