É vê-los, todos os anos, com um brilhozinho nos olhos. No campus, a todo o virar de esquina, uma novidade. Novas instalações, novos hábitos, novas caras. Deixam de ter encarregados de educação, são eles os protagonistas e autónomos nas suas decisões. Ei-los que entram no ensino superior.

Em 1978, Portugal contava com 81.582 matriculados no ensino superior. Em 2020, quase cinco vezes mais. É caso para dizer, como volta e meia a vox populi enuncia, que temos licenciados a mais? Nem por sombras: Portugal está aquém da média da União Europeia na qualificação de ensino superior. A evolução é positiva – mas longe do necessário.

Importa, no entanto, não colocar a métrica apenas no número de alunos matriculados, porquanto tal será reducionista do que proporciona o ensino superior, em particular perante os desafios da globalização e transição digital – que afinal a pandemia apenas veio acelerar. A inovação pedagógica já não é apenas uma marca diferenciadora deste ou daquele modelo de ensino: é uma necessidade básica para quem quiser manter-se relevante na “universidade do futuro”. E como poderá esta ser? Antecipo alguns traços:

  • A natureza híbrida das estruturas de ensino (física e virtual) tornará ubíquo o campus virtual, com todos os desafios e acentuar de tendências que tal acarreta, designadamente na relação docente-aluno;
  • A necessidade de centrar o ensino na experiência do aluno enquanto cidadão, nas suas diferentes dimensões, em processos de ensino-aprendizagem que integrem os conhecimentos técnico-científicos na aplicação de resolução de problemas da comunidade (devidamente enquadrada pelos docentes) – em consequência, majorando qualitativamente a aprendizagem do aluno (o conhecimento deixa de ser abstrato, logo ganha outro significado);
  • O reforço do envolvimento cívico no ensino-aprendizagem perspetivado como o potenciar da empregabilidade dos nossos diplomados.

Essa é a razão pela qual o processo de adaptação ao ensino superior é tão crucial para a tal experiência do aluno, da qual o sucesso académico é, naturalmente, dimensão essencial (mas não output único). Quanto menor for o tempo que o novo estudante leve a ajustar-se aos novos níveis de exigência, a adaptar o seu método de estudo às novas circunstâncias, a potenciar o seu raciocínio na sua lógica formal (essencial para a resolução de problemas), a adaptar a sua linguagem ao jargão técnico… mais perto estará de usufruir da experiência para o seu desenvolvimento pessoal e profissional e do indissociável sucesso académico.

Não é inocente o uso do termo “experiência”. Não se trata de olhar para o aluno como o consumidor a quem temos de agradar, longe disso. Mas uma das características marcantes do ensino superior em Portugal é que a maioria dos estudantes se encontra na faixa etária dos 18-25 anos. Sendo jovens adultos, deparam-se com duas tarefas essenciais ao seu desenvolvimento psicossocial, num binómio identidade – intimidade (psicológica), em que o desenvolvimento de relações próximas e intensas são condição para o prosseguimento de níveis psicossociais posteriores. Por outras palavras: a incapacidade de estabelecer estas relações significativas bloqueia em grande medida o desenvolvimento da identidade do jovem adulto – e vice-versa, com consequências potencialmente nefastas nos seus resultados académicos. A ausência da componente relacional, sem a componente da experiência, compromete a formação enquanto pessoa e enquanto futuro profissional.

Esse é um dos motivos pelos quais a promoção de atividades de acolhimento que envolvam, na sua organização, alunos que já frequentem a universidade, é considerada um exemplo de boas práticas na integração dos novos alunos. Ao promover a interação interpares estamos a encurtar os tempos de adaptação, a mitigar problemas de isolamento e a majorar condições para a promoção do sucesso integral do estudante: na sua dimensão pessoal, interpessoal, cívica e académica. E se estivermos a fazer dos nossos diplomados cidadãos que façam a diferença, estamos a cumprir, igualmente, o futuro da “universidade”.

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