É sabido e amplamente divulgado que a pressão arterial elevada é responsável por milhões de mortes em todo o mundo devido às suas nefastas consequências, nomeadamente o seu papel na génese da doença coronária, dos acidentes vasculares cerebrais, da doença renal crónica e das demências. Sabe-se também que, embora não escolhendo idades ou estratos socioeconómicos, é mais comum em pessoas acima dos 60 anos, atingindo percentagens superiores a 50%.

Entende-se, por isso, a importância do rastreio e da identificação da hipertensão arterial na população em geral – e nos indivíduos menos jovens em particular – de forma a prevenir e evitar tais consequências, que, pela sua natureza, podem ser graves e duradouras. Estratégias como o acompanhamento médico regular, a auto-medição da pressão arterial e a adoção de estilos de vida saudáveis são basilares no cumprimento do objetivo de manutenção de saúde global e a estas devemos dedicar a nossa maior atenção:

O acompanhamento médico regular, ainda que na ausência de sintomas, permite o rastreio de situações de hipertensão, a identificação de fatores de risco cardiovascular frequentemente associados – como o colesterol elevado, o excesso de peso, a diabetes e a pré-diabetes ou o tabagismo – e abre um diálogo informado sobre a melhor forma de seguimento ou tratamento.

Na consulta médica podemos identificar, da mesma forma, causas tratáveis de hipertensão, como sejam os distúrbios da tiroide, as doenças renais pré-existentes, os distúrbios do sono ou as arritmias, causas frequentemente tão silenciosas como a hipertensão e igualmente nocivas. O acompanhamento médico é recomendável ainda em casos de hipertensão arterial nos indivíduos com menos de 40 anos, no aparecimento recente de valores tensionais elevados e nas grávidas.

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A auto-medição é um instrumento importante na identificação da pressão arterial elevada e permite obter um conjunto muito válido de dados, que podem depois ser discutidos com o médico. Para a realização da auto-medição deve ser usado um aparelho semi-automático e devem ser tomadas duas medições consecutivas com 1 a 2 minutos de intervalo, de manhã e ao final do dia, durante um período não inferior a 3 dias seguidos. Cada sessão de medição deve ser efetuada após um repouso de 5 minutos, com o indivíduo sentado e com o braço apoiado à altura do coração. Deve-se evitar tomar café, fumar ou praticar exercício físico nos 30 minutos antes de cada leitura. A medição deve acontecer antes da toma de medicação e antes da refeição.

Os aparelhos são pouco dispendiosos e de fácil aquisição, sendo de evitar os “de pulso”ou “de dedo”.  O seu médico ou farmacêutico pode ajudá-lo nas opções. Os valores normais de pressão arterial, seguindo estas regras, devem ser inferiores a 135mmHg de pressão sistólica (“máxima”) e inferiores a 85mmHg de pressão diastólica (“mínima”), considerando-se a média de todas as medições. Valores superiores aos normais devem sugerir aconselhamento médico. Valores superiores a 180/110 mmHg (ou superiores a 160/100 mmHg, na presença de sintomas como dor no peito, falta de ar, diminuição de força num membro, alterações da fala ou confusão mental) devem sugerir avaliação urgente, pelo risco elevado de lesão de órgãos e a necessidade de início rápido do tratamento adequado.

A adoção de estilos de vida saudável é uma das estratégias com maior impacto na prevenção da doença cardiovascular. Saliente-se aqui a atividade física – uma caminhada de 30 minutos, a passo apressado, 5 a 7 dias por semana, é adequado para a maior parte dos indivíduos e deverá ser considerado como objetivo mínimo – mas também os cuidados com a alimentação e o excesso de peso, desde logo a restrição do sal, de alimentos processados com alto teor de sódio, o consumo regular de legumes, frutas frescas, peixe e produtos lácteos com baixo teor de gordura, assim como a moderação no consumo de álcool, a par com a abstenção tabágica.

Estes comportamentos, desde que consistentes ao longo do tempo, previnem o aparecimento de hipertensão e reduzem os valores em indivíduos hipertensos. Se necessário, podemos recorrer a profissionais, pneumologistas ou nutricionistas, que ajudam a adquirir o conhecimento necessário à elaboração de um plano personalizado.

Infelizmente, todos vivemos tempos difíceis no último ano, por força do contexto da pandemia que conhecemos. Mas a verdade é que as outras doenças continuam a existir e é importante que não se adiem as rotinas de saúde. Os hospitais cumprem os protocolos mais exigentes para garantir a segurança de todos e a manutenção do acompanhamento médico regular é fulcral, presencialmente ou através de meios eletrónicos, como a teleconsulta. Adie-se a doença, não a saúde.