É inegável a forma como a sensibilização sobre o lixo eletrónico está a mudar o paradigma. Em 2021, a Comissão Europeia deu seguimento a uma proposta para padronizar os carregadores de dispositivos eletrónicos, dando um importante passo no combate a resíduos eletrónicos e redução da pegada digital. Agora, chegaram boas notícias!

A 14 de junho, menos de um ano depois da proposta de Bruxelas, a União Europeia aprovou a utilização de um único carregador de telemóveis, uma medida a implementar a partir de 2024. O modelo que será imposto a partir desse ano é o USB-C, uma ficha que já é utilizada por smartphones com sistemas operativos Android e que os dispositivos iOS terão de começar a utilizar se quiserem continuar as suas vendas na região. A medida pretende reduzir o impacto da tecnologia no ambiente, facilitar a vida aos consumidores e promover um modelo de consumo eletrónico mais sustentável.

Esta é uma decisão bastante relevante, por várias razões. Em primeiro lugar, a utilização de um único carregador irá reduzir a pegada ambiental gerada durante a produção, a fase mais poluente do ciclo de vida dos dispositivos eletrónicos. De facto, estima-se que aproximadamente 78% da pegada de carbono se deve apenas ao processo de fabrico. A redução do impacto nesta fase implica uma redução de CO2 e uma poupança de matérias-primas que são utilizadas para criar diferentes carregadores.

Além disso, se tivermos em conta que os carregadores de smartphones e computadores geram atualmente mais de 35.000 toneladas de lixo eletrónico por ano – o equivalente ao peso de 100.000 automóveis -, esta medida não só simplificará a vida dos consumidores e poupar-lhes-á dinheiro, como contribuirá efetivamente para a reforma do atual modelo de consumo que é insustentável a longo prazo.

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Nos próximos dez a quinze anos, o carregador universal, que se terá estabelecido como uma única ficha em todos os dispositivos, ajudará a prolongar a vida útil dos produtos, uma vez que continuará a ser compatível com os smartphones em segunda mão ou modelos mais antigos. Os carregadores mais antigos já não terão de ser descartados, mas serão utilizados para modelos mais recentes, reduzindo, assim, o desperdício.

Só em 2020, foram geradas 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrónico em todo o mundo e espera-se que este número aumente para 81 milhões de toneladas até 2030. Para evitar esta situação, seria aconselhável promover mais regulamentações sobre o consumo eficiente da tecnologia, através de iniciativas como a reparação, a economia circular e a remodelação de dispositivos eletrónicos. Isto prolongaria a vida útil dos dispositivos, contribuindo para uma redução dos resíduos e uma melhor reciclagem.

Não tenho dúvidas de que o carregador único europeu é o primeiro passo para promover um modelo de consumo que não se baseia na constante substituição dos dispositivos móveis e seus acessórios, uma vez que a vida útil de um smartphone é atualmente de cerca de dois anos e meio, o que também afeta os carregadores. No entanto, embora estes tipos de regulamentos ajudem a sensibilizar os consumidores e as empresas para a necessidade de reutilizar e reparar a tecnologia, é necessário trabalhar em conjunto para preservar o planeta e reduzir o seu enorme impacto no ambiente.