Acreditem ou não: 58% de pessoas dizem que confiam mais em estranhos do que nos seus próprios chefes, numa avaliação feita pelo Harvard Business Review. Outra avaliação revela que um quarto dos trabalhadores não confia na sua entidade empregadora, de acordo com uma avaliação feita nos Estados Unidos pela American Psychological Association. Os resultados mostram que só metade acredita que o empregador é aberto e honesto com eles.

Não é um mistério que o engagement com trabalhadores continue a afundar-se. A maior parte dos funcionários sentem que não estão envolvidos. Também não é um mistério que as diferenças geracionais e a mudança de liderança impacte o dia a dia, revelando a todos nós que a única coisa em que podemos realmente contar é na mudança. Essa é garantida.

E se com a mudança houvesse um push para uma abordagem mais transparente? Será ela óbvia? Diria que é um dos maiores obstáculos, de difícil concretização, mas ainda assim obrigatório: porque ser transparente num negócio, num produto, leva a uma tranquilização externa, em que o cliente sinta que pode confiar, ‘que está bem entregue’, para que no fim seja uma ‘win-win situation’.

Durante estes cinco anos em Tech aprendi que a transparência é de facto muito importante, mesmo que nos obrigue a ter uma conversa dura, a sair da nossa zona de conforto. Ninguém quer abordar temas conflituais, que possam afetar a relação de trabalho, tanto internamente como com o cliente. Ainda assim, vale a pena esse push e os clientes ficam agradecidos por essa abordagem mais clara. Será sem dúvida um cliente que regressa e passa a palavra de confiança sobre a empresa.

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A transparência deve começar no local de trabalho – workplace. É ela que se depois irá projetar para os demais (clientes e parceiros) mostrando que a fluidez da partilha de informação entre equipas injeta entusiasmo e dá outro sentido ao dia-a-dia. Porque é como um coro, em que cantamos em notas diferentes a mesma música. É assim que nós devemos pautar pela transparência na comunicação entre equipas, desde Produto a Sales, passando por Marketing ou Satisfação do Consumidor (numa empresa SasS, por exemplo).

Sem essa sintonia gera-se desconfiança, o que se repercute num impacto negativo, quer seja em relações internas ou incorrendo no risco de passar uma imagem errada da empresa por não haver suficiente partilha de informação entre equipas. Esse engano pode ser gerado por falta de conhecimento, ignorância ou até mesmo por erro.

Seguramente há setores que oferecem mais resistência; Sales por exemplo, em que têm de ter em conta que, para lá do segredo, a transparência faz parte da alma do negócio. E começa por onde? Que venha de cima, que os fundadores divulguem às equipas as metas, dificuldades, progressos, investimentos e até sonhos. Com essa direção, estagiários, equipas, chefias ou administradores podem então tomar decisões acertadas mas de forma independente.

Esta transparência não precisa de assembleias gerais nem de conversa no intervalo do café. Há vários instrumentos tecnológicos e não só (desde a implementação de um All Hands até ao Slack, Asana etc) desenvolvidos para quebrar barreiras de comunicação em todos os departamentos. Torna-se possível partilhar abertamente dúvidas e opiniões, sem medo de julgamento e com motivação. Se a nossa experiência interna como “consumidor” da empresa
não for satisfatória, como vamos poder entusiasmar o resto da equipa, o cliente ou futuro parceiro? E como sobreviver face à exposição global?

Não existe um utilizador hoje em dia que compre o que quer que seja online sem ler comentários de outros consumidores seja de bens materiais, viagens ou serviços de informação, sem se assegurar de que o site é legítimo e seguro. Através dos dados disponíveis para avaliação online, ou por recomendação pessoal, o que se torna fundamental para qualquer empresa no mercado global é ser transparente.

Para evitar enganos torna-se mais importante ser transparente do que perfeito. É um trabalho a desenvolver em paralelo com o desenvolvimento do negócio, tornando a empresa mais humana e os trabalhadores mais profissionais. Isto levará a uma redução de vulnerabilidades e seguramente a ganhos de confiança. É a melhor aposta para o século XXI, onde podemos confiar tanto no nosso condutor da Uber como no nosso chefe.

Violeta Malheiro Swart é formada e pós-graduada pela University of the Arts em Londres. Passou por várias Startups em Tech, incluindo ajudar a fundar o escritório da Web Summit em Lisboa, actualmente ela é Partnerships Manager na Unbabel, focada em trazer mais receitas para a empresa através das relações que gere. É frequentemente convidada pelos seus parceiros estratégicos como a Google para ser oradora em workshops de clientes que procuram expandir para novos mercados.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.