A recuperação do consumo e a redução consistente do desemprego introduziu na economia nacional uma confiança que deu condições para a continuação do crescimento económico e para a manutenção do desemprego em níveis históricos. Mas as empresas nacionais precisam de potenciar o seu crescimento através de um apertado controlo de custos que tem que ser compatibilizado com um aumento da massa salarial que lhes permita recapturar todas as dezenas de milhar de quadros que emigraram nos últimos anos.

Esta evolução das empresas portuguesas – de qualquer escala – deve ser feita – em todos os sectores – através de uma evolução para o digital em que todas as empresas incorporam tecnologias móveis e aderem a uma estratégia Cloud e adaptam os seus negócios a estas tecnologias. Todas as empresas, em qualquer escala, têm muito a ganhar com esta evolução já que a informação crucial para o negócio flui de forma mais rápida e eficiente, assim como a sua capacidade de resposta e de gestão e partilha de conhecimento. Como consequência, tornam-se mais ágeis e focadas para o cliente. Paralelamente, a digitalização das empresas permite também que as empresas possam aumentar a sua competitividade global e o recurso a novos modelos de trabalho como o trabalho móvel e flexível a partir de casa em que importam mais os resultados do que a presença num determinado escritório.

Estima-se que Portugal tenha tem capacidade para que o Sector das Tecnologias de Informação (TI) cresça até representar entre 3 a 5% do PIB. Mas todo este progresso está a ser bloqueado pela excessiva dependência do Outsourcing em TI em muitas empresas nacionais.

Por “Outsourcing” quer-se geralmente descrever os “processos pelos quais as atividades anteriormente realizadas internamente por uma organização são transferidas para, e fornecidas por, um prestador externo” (Burnes e Anastasiadis, 2003:355). E o seu recurso, tantas vezes excessivo, ocorre numa busca pela redução de cistos que nem sempre enquadra na devida importância as externalidades e as perdas de eficiência e da externalização via evaporação para o exterior do conhecimento do negócio e dos seus processos. Outro risco nunca devidamente avaliado passa pela criação de um laço de dependência excessiva para com os fornecedores que os coloca numa posição negocial vantajosa e que assim, coloca em risco a operacionalidade da empresa dependente, reduz as suas margens operacionais e, a prazo, a sua sobrevivência. Esta dependência é especialmente perigosa se não há concorrência no mercado ao serviço ou produto prestado em regime de outsourcing e se não se criam as adequadas ferramentas internas para evitar à externalização de conhecimento essencial ao negócio.

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Sabendo-se que a área das tecnologias de informação é hoje em dia uma das que mais emprego gera em Portugal no contexto de um sector que está em alto nível de dinamismo em todo o continente europeu e que é fortemente atractivo para os jovens licenciados o que dá origem a um intenso fluxo migratório do sul para o norte do continente. Estima-se que, apenas em 2020, exista uma necessidade de 15 mil novos profissionais o que explica o índice de desemprego de 0% que se regista hoje no sector e que apenas o afluxo de largos milhares dos “de facto” refugiados económicos brasileiros tem permito às empresas nacionais compensar: mas não sem perdas de eficiência (dada a extrema variabilidade da qualidade destes quadros) e à custa da preservação global dos salários de TI ao nível de 2009 e 2010 o que funciona como um feedback negativo ao crescimento dos salários devido ao efeito que este afluxo de imigrantes das novas tecnologias tem no processo da Oferta e Procura neste sector do mercado laboral. Isto explica porque é que, segundo os dados do “Barómetro TI” da Michael Page (2015), perto de metade dos profissionais de TI recebe entre 35 mil euros e 55 mil euros brutos anuais e 26% recebe mais de 55 mil euros brutos: valores que são 3 a 4 vezes inferiores aos praticados, por exemplo, na Alemanha.

Para evitar a sangria para o norte da Europa de quadros qualificados em TI é preciso aumentar a massa salarial paga neste sector e dado que as empresas continuam pressionadas pelos custos e se movem hoje num ambiente ferozmente globalizado e onde a competição por parte dos grandes gigantes tecnológicos nem sempre é leal, justa ou devidamente regulada (basta ver o quanto poucos impostos pagam gigantes globais como a Apple, a Google ou o Facebook) é preciso recorrer aos valores de entre 20 a 40% do valor salarial que é retido pela empresa de Outsourcing para aumentar os salários, pagos de forma directa aos trabalhadores contratados directamente, sem intermediários, e aumentar assim a capacidade das empresas para reterem valor e atraírem as dezenas de milhar de técnicos qualificados que emigraram para o norte da Europa nos últimos anos.

Com efeito, sabendo-se que existe uma divergência salarial de 3% em relação à média europeia desde 2016 que estamos a divergir cada vez deve ser aqui que tem residir uma das grandes prioridades da acção governativa para os próximos anos.

Ora, a este respeito, sabe-se que uma das vanguardas do desenvolvimento da economia portuguesa são as novas tecnologias e que pelo estabelecimento de um autêntico cluster tecnológico de elevado valor acrescentado para a economia e onde existam elevados níveis salariais se pode alavancar um crescimento sustentado dos níveis de remuneração tornando este sector numa peça central para a recuperação de rendimentos de toda a economia – por um fenómeno de contágio transversal – e de tornar Portugal numa verdadeira Sociedade Digital (uma das quatro prioridades estratégicas do actual Governo).

Como se combate o outsourcing crónico em TI?

  1. em primeiro lugar todos os prémios fiscais que as empresas gozam quando optam por contratar técnicos de TI em outsourcing devem ser reavaliados e revistos por forma a não se permitir que existam descontos fiscais de curto prazo a práticas empresarias que a média e longo colocam em risco a sua própria sobrevivência.
  2. a fiscalidade sobre os rendimentos do trabalho deve ser, urgentemente, em todos os sectores, mas especialmente nos mais competitivos (como a Medicina e as TI) revista para baixo de forma sensível e continuada (estabilidade fiscal)
  3. os programas de apoio ao regresso de emigrados nos sectores estratégicos (como as TI) devem ser reforçados e adaptados às necessidades especiais deste sector.
  4. é preciso reforçar a fiscalização sobre as empresas que recorrem de forma continuada e crónica ao outsourcing por forma a garantir que toda a legislação em vigor está a ser cumprida
  5. é imperativo resolver o problema da explosão irracional dos preços da habitação nas regiões onde se situam os principais empregadores no sector das TI desenvolvendo uma efectiva a abrangente rede de habitação pública e a custos controlados para a classe média.
  6. formas flexíveis de trabalho, tais como o teletrabalho, devem ser promovidas pelo Governo, usando vias fiscais, para estimular o trabalho remoto a partir de casa e retirando assim carga desnecessária dos transportes públicos e das vias de trânsito.